Se eu lembro faz doer

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Ramiro, com a ansiedade a flor da pele, percorria o quarto em reforma, atento aos detalhes que compunham a surpresa para Kelvin. O martelar constante ecoava pelas paredes, misturando-se ao burburinho das ajudantes que obedeciam suas ordens com precisão. Ele queria que cada elemento estivesse impecável, proporcionando um ambiente acolhedor e especial quando Kelvin finalmente visse a transformação.

Nas últimas noites, o sono escapava das garras de Ramiro, rendendo-lhe noites mal dormidas. O barulho incessante da obra era apenas uma parte desse incomodo; a outra, mais profunda, era uma saudade que o pegava de surpresa. Duas noites eram relativamente pouco tempo, ele se repreendia, não deveria estar tão preocupado. Entretanto, em meio ao barulho da reforma, Ramiro não conseguia silenciar a voz sutil da ansiedade, que ecoava um eco de saudade, apertando-lhe o peito e fazendo-o questionar se estaria exagerando nas emoções.

Até que pela tarde as mensagens não foram respondidas, o que era estranho por que kevin vivia grudado no celular ,mexendo naquele trem o tempo todo, aí veio a notícia.

Preso.

Dois dias foram o suficiente para que ele conseguisse se envolver em situações que resultaram em sua detenção, e o aperto no peito que Ramiro sentira antes agora parecia justificado.

Mesmo com o coração acelerado, Ramiro finalizou suas instruções aos funcionários, dispensou-os para que o quarto ficasse vazio. Desceu as escadas em direção à mesa do café quando ouviu o som característico de veículos 4x4 se aproximando.

Saiu correndo em disparada, quando tivesse que viajar pra São Paulo ou pra Campo Grande, por trabalho, provavelmente levaria kevinho junto, Se dois dias já pareciam uma eternidade, a perspectiva de ficar separado por uma ou duas semanas, talvez até um mês, era algo que ele não conseguia sequer imaginar.

Ao ver os carros parados, Kelvin descendo com uma roupa dourada sob o forte sol, Ramiro sentiu seu coração se acalmar. Seu anjo resplandecente estava de volta, seguido por Bere e Sidney, este último segurando uma caixa estranha.

O ruivo correu atravessando a varanda, lançando-se nos braços do preto e dando beijinhos repetidos, enquanto este fazia uma careta em resposta.

- Kevin, para, foram só dois dias - disse Ramiro, inclinando-se para trás sem largar o pescoço do menor.

- Ai, Rams, mas eu achava que nem ia voltar, sabe que já tava imaginando minha vida na cadeia - provocou Kelvin, passando a mão no próprio peito. - Você tendo que ir fazer visita íntima, pra me dar um apertão."

- Kevin, por favor, oia' a situação. Eu tive que ligar para Petra, não faz palhaçada- pediu afastando-se pelo ombro. - Cadê o Hélio?

Kelvin deu um passo para trás, mordendo a boca.

- Ficou na cooperativa e disse que tinha reunião com sei lá quem...

- Acionista dos entregadores...

‐ Acho que sim - Kelvin fez biquinho - você parece chateado mesmo né?

"Kevin, a gente já conversou sobre você agir..."

- Pelas minhas costas, eu sei, mas eu precisava falar com o meu primo...

- Teu primo que mora a duas quadras da onde tu tava?

Kelvin moveu as mãos, "como ele sempre sabe?"

- Como...

Ramiro tocou o queixo dele levemente.

- Eu sempre sei.

Kelvin respirou fundo, soltando o ar e revirando os olhos.

- Compras.

PurgatórioOnde histórias criam vida. Descubra agora