Enquanto o silêncio reinava na 4x4, Kelvin acessou suas memórias felizes. Ele as guardava em um cantinho especial no céu de seu cérebro. Não eram muitas, mas eram boas: sua mãe quando ele terminou seu primeiro livro, o acolhimento de Cândida, seu primeiro namorado quando realmente gostou de sexo e teve que aprender inglês, a primeira vez que provou sushi escondida com Berê nos quartos, e tentou se lembrar da tarde no rio.
Kelvin sabia que era Ramiro, mesmo com barba curta e tranças. Lembrou-se de estar envolvido com ele num beijo desajeitado enquanto nadavam nus e de ter batido e recebido uma singela punheta. Não foi muito, mas foi gostoso. Havia um choque elétrico que nunca tinha percorrido seu corpo antes. Mesmo com tanta experiência, nunca se sentiu assim. Não sabia como poderia ter esquecido disso. Mas pensou mais um pouco. Se aquele homem estava pagando 100 mil pela sua cabeça, o que ele seria capaz de fazer depois de Kelvin cavalgá-lo por uma noite toda? Sorriu imaginando tudo que poderia obter com isso e passou a língua pelos lábios.
Essa atitude chamou a atenção do barbudo, que o observou por um instante, mas logo voltou a atenção para a estrada. Por mais impressionante que fosse, Ramiro e Berenice começaram uma conversa suave, algo sobre o tempo e plantações. Achou típico da amiga, que sempre se dava bem com todo mundo, mas estranhou que toda vez que ele falava, Ramiro parecia travar.
Chegou à mansão na selva e nem acreditou quando foi guiado para um dos quartos. Achava que ia ficar perto dos aposentos dos empregados, mas ficar no quarto de hóspedes principal era uma novidade. Jogou sua mochila num canto qualquer e se jogou na cama king size, sentindo a maciez de tudo. Tomou um banho de banheira como nos filmes, querendo se livrar de tudo que lembrasse a vida antiga, inclusive o cheiro que alguns clientes deixavam. Escovou os dentes cinco ou seis vezes, nem se lembrava. Se limpou como nunca, vestiu seu pijaminha favorito e foi ao quarto de Bere.
Ela estava de roupão, jogada na cama, sorrindo boba feito ele. O loiro se jogou do lado oposto na cama junto com Bere, ficando cabeça a cabeça.
- Kelvin, o que está acontecendo?
- Não sei, Bere. Acho que a gente vai descobrir.
- Por que você me trouxe? A gente nunca se gostou muito - perguntou calma. Eles tinham uma boa relação, era verdade, mas não ao ponto de Kelvin colocar em risco a si mesmo por ela.
- Não queria vir sozinho, estava com medo.
- Kelvin Santana, não mente para mim - inclinou-se na cama.
- Bere, pensa. Ele podia entrar lá no bar, pagar um programa e ir embora. Por que ele pagou 100 mil na gente?
- E é isso que eu não estou entendendo também, não é como se eu não valorizasse 100 mil.
- Eu acho que tem algo, acho que ele gosta de mim...
-Talvez ele goste mesmo, quem sabe uma história.
-Ah, Berenice, por favor - falou com desdém. - Ai, para, garota. É sério, estou falando de algo de verdade, não essas coisas da tua cabeça - deu uma cutucada nela - eu já tive um lance com ele no rio.
- Um lance? Ele gosta de você por causa de um lance?
-É, mas se ele não quiser um lance comigo, ele pode querer com você - encarou Bere, mordendo os lábios sugestivamente.
-Garoto, garoto, só você mesmo - inclinou a cabeça - com aquele lá, eu ia adorar ter um lance.
Os dois riram.
- Eu vou fazer o Rams Rams gama na minha baratinho - bateu palmas.
-Tinha a Paraguaia... - Bere parecia hesitante em acompanhar o plano. Então Kelvin tratou de desconversar.
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Purgatório
FanfictionRamiro resgata kelvin da prostituição o tornando seu braço direito na Fazenda La selva, que recebeu de herança.