Pede a Ela II

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Kelvin encarou a cunhada, que ainda o observava com um olhar que parecia capaz de iluminar todo o ambiente, especialmente levando em conta o sol forte. No entanto, voltou-se para Ramiro com gratidão transbordando em seu olhar.

— O Rams comprou terras para mim, só para mim, para que eu tenha um título só meu - ela riu, segurando a mão do marido - um casamento em pé de igualdade...

— É, mas agora falta a maldita água...

— Ei, o que é isso? Eu disse que resolveria isso com a Anely. Vou trazer água para minhas terras - ela beijou a mão do marido - Confia em mim, tá?

— Tá.

Kelvin deu outro beijo na mão do marido, segurando-a entre as suas.

— Obrigado, meu amor...

Ramiro sorriu, um sorriso mostrando os caninos, carregando todo o amor que sentia por Kelvin.

— Você merece, Kevinho. Quero que tenha algo só seu, algo que possa chamar de seu.

Petra interveio, tocando em um assunto mais pessoal.

— Vocês dois... parecem saídos de um filme desde a infância. Quando brincávamos na fazenda, o Ramiro sempre foi carinhoso, o único que tinha paciência comigo. Como se já soubéssemos que sobraríamos só nós dois...

Kelvin olhou para ela com um sorriso de compreensão, tentando desviar o assunto.

-- Mas e os outros meninos?

-- Ah - ela respirou fundo - eles eram legais, até mesmo o Caio...

O bruto soltou um "ér" de frustração.

-- Ocê vai me adesculpar', mas eu nunca gostei do Caio, não Petra. Desde criança, insuportável.

-- Ramiro - ela riu - que Deus o tenha - fez o sinal da cruz, seguido por todos na mesa. - Que Deus também tenha o Daniel... Eu sinto falta dele, nós fomos para faculdade juntos, dividimos um apartamento em Campo Grande e tudo.

Kelvin apertou a mão do marido, com certo receio. Talvez ele não devesse ter puxado aquele assunto, julgando pela expressão triste nos olhos de jabuticaba que Petra tinha, semelhantes aos de Ramiro que também estavam tristes.

-- Aquele quarto... - parecia que as palavras estavam presas dentro do peito da mulher - aquele quarto é o que restou do meu irmão, ele e o filho que aquela...

-- Puta. - completou o menor. - Eu nem acredito que ela mentiu para a família toda...

-- Kevinho, ocê não tem ideia do que foi, parecia coisa de novela mexicana, quando a Dona Irene descobriu que não tinha criança nenhuma, coitadinha...

-- Não sobrou nada dela aqui. - Petra olhou para a soja que cercava a fazenda - Nada da minha mãe, nada do Daniel, nem um bebê falso - ela se virou de volta para o cunhado - A Graça cresceu aqui, a gente tinha tantas Barbies quanto aquele quarto lá em cima, eu nunca esperei algo assim dela, nunca - Petra mexia nas mãos.

-- Seu Antônio ainda estava lúcido, ele não deu as ordens, mas ele fez o que tinha que ser feito...

-- Jogou veneno na terra dela - Petra deu um tapinha na mesa - Só alguém como Rams... Ramiro para colocar aquelas terras para produzir de novo, dei uma olhada logo que ele pegou elas, estão mais do que excelentes.

-- Agradecido Petra.

Kelvin olhou pra cunhada e depois pro marido, lembrando de um detalhe ínfimo para o jantar de casamento.

-- Petra.

Ela se interrompeu para pegar um docinho na mesa.

- Oi cunhado.

PurgatórioOnde histórias criam vida. Descubra agora