Capítulo 19 - Vagalume

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Aviso - neste capítulo pode ocasionar gatilho.

É abordado sobre TEPT (transtorno de estresse pós-traumático).

Arco 2 - A missão e os Irmãos


Camicazi

Hannah pede lírios, já eu opto por crisântemos e o Banguela pede violetas – conheço mais ou menos os significados das flores por causa da minha vó, por parte da minha mãe Runa, porque possui uma floricultura. Caminhamos em silêncio, a cada passo a batida do meu coração fica mais rápida. Não gosto de cemitérios, nunca gostei.

Chegamos na lápide, é impossível não relembrar como ele veio parar aqui, é idêntica a do seu irmão que está ao seu lado, engulo em seco e paro de andar.

Hannah coloca os lírios, Banguela pede para que coloque as violetas.

Respiro fundo e vou até eles, agacho e coloco os crisântemos.

Oi...trouxe essas flores, espero que goste. Digo mentalmente.

Uma brisa gentil e calorosa aparece, como uma forma de resposta dele e pensar isso é um tanto estranho.

Hannah coloca a mão em meu ombro, demonstrando apoio.

- Ele também não te culpa, tenho certeza disso. – ela fala com uma voz doce.

Lembro de quando o Banguela falou pela primeira vez que não sou uma assassina, assim como quando foi o Vitor, as minhas mães, o Takeshi. Recordo do sonho que tive mais cedo, da visita aos Lendários – principalmente daquele senhor e seu neto –, da Hannah falando que não sou a responsável pela partida dele e agora o que acabou de falar.

Eles realmente estão certos...? Não sou a responsável pela...morte dele? Ele e a Hannah vão ficar bem se eu deixar de carregar esse fardo? Se deixar de ver o sangue em minhas mãos e lembrar dos bons e maus momentos sem doer? Posso seguir em frente e viver sem culpa?

Essa dor pode realmente parar e me deixar seguir em frente? Ele, realmente, vai ficar bem e feliz com isso?

Quero seguir em frente, quero honrar a memória dele, usar aquela bandana e a fita com orgulho por ter sido sua aluna. Sei que para isso, tenho que me soltar dessas correntes pesadas, mas está tudo bem em fazer isso? A família dele disse que sou a culpada, mas a própria irmã fala o oposto. Posso acreditar no que ela disse e deixar de lado o que a família dele falou?

Eu realmente posso...?

Dói muito.

Dói tanto que não consigo segurar as lágrimas, choro por tudo que guardei desde sua morte, por ter perdido ele, por tudo que não será mais possível de acontecer, por não estar bem, por terem me chamado de assassina e tudo mais.

Eu não estou bem, mas quero ficar. Quero sorrir novamente, sem sentir a culpa ou o remorso e seguir em frente.

Isso é o que mais quero.

Banguela fica o mais perto possível para indicar que está aqui comigo e a Hannah, que também está chorando, me abraça forte. Ficamos assim durante um tempo, até que ficamos mais calmas e paramos de chorar.

Já está tarde, tenho que voltar para a casa. Eu e o Banguela damos tchau para a Hannah – a mesma disse que ia ficar mais um pouco – e vamos embora.

Não é como se agora eu fosse sair pulando de alegria e falando o quão lindo o dia está, mas me sinto melhor, mais leve. Talvez seja o começo de seguir em frente...

Camicazi e Os LendáriosOnde histórias criam vida. Descubra agora