Dois

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Alerta de gatilho: transtorno alimentar, distorção de imagem, gordofobia, crise de ansiedade/pânico e assédio, tudo explícito.

Lembrando que é no ponto de vista da Bruce e eu não concordo com a forma que ela pensa de si mesma! Como disse no capítulo anterior, o objetivo da fanfic é derrubar tais preceitos com o desenvolvimento. 

×××× 

A pele de Bruce Yamada, tão leve e lisinha, estava quase transcendendo em branco. E pela segunda vez naquela manhã.

Seu corpo tremia muito, seus dedos quase soltaram a cápsula de remédios. Ela não era capaz de se virar para a pessoa que estava bem atrás de si, mas não era necessário; o reflexo do espelho dizia o suficiente. 

Vance Hopper a encarava de volta pelo mesmo objeto de vidro. Seus braços estavam cruzados abaixo dos seios, a cintura erguida para um lado e um sorriso de canto em seus lábios naturalmente avermelhados. Suas pálpebras eram caídas de nascença e, quando traços pretos formavam um delineado sobre elas, aprofundavam ainda mais aquele olhar. Mesmo que os olhos fossem azuis, quase podia-se observar uma negritude quando os encarava por muito tempo.

Ou era apenas a mente de Bruce Yamada brincando para lhe distrair de que seu maior segredo havia sido exposto para outra pessoa.

O risinho que Vance soltou em seguida mais parecia gargalhadas incessantes, como as que Bruce sentiu no intervalo ao ouvir que havia engordado.

— É o preço que se paga. - A garota dos cachos louros comentava, caminhando pelo banheiro em círculos. — Que azar, Bruce. Ou devo te chamar de "Brubruzinha"?

— Vance. - Bruce finalmente chamou depois de um tempo, embora encarasse a pia branca de mármore.

Era seu fim. A queda miserável da princesa perfeita que era Bruce Yamada. Era engraçado, tanto tempo para subir no pódio da popularidade, mas um pequeno erro já era o suficiente para derrubar alguém para a posição inicial novamente, ou até mais embaixo.

Ela fechou os olhos e conseguiu imaginar como sua vida seria dali em diante. As pessoas lhe evitariam nos corredores, lhe chamariam de gorda, doente, nojenta, seria o exato exemplo que as garotas não seguiriam. No pior dos casos, jogariam comida e bolinhas de papel em si, mandariam mensagens lhe xingando e as garotas se uniriam para inventar boatos sobre o que fazia ou deixava de fazer.

A garota ofegou e abriu os olhos com tudo que havia imaginado. Não podia deixar acontecer, não podia! Bruce Yamada não poderia ser uma perdedora. Ela havia lutado muito até aqui, não era hora de largar toda sua fama. 

Talvez fosse o fim de sua dignidade, mas Bruce iria se arriscar. Pela popularidade, o que ela não faria?

— Vance, o que você quer?

Vance Hopper parou de rondar o banheiro e voltou para a posição em que estava. O coturno em seu pé fazia barulho com as batidinhas que ela propositalmente dava no chão enquanto seu rosto demonstrava que não havia entendido a pergunta de Bruce. 

Bruce olhou para a sobrancelha arqueada da garota e suspirou.

— O que você quer para não contar isso?

No instante em que a informação adentrou a mente de Vance, ela sorriu largamente, como as vilãs dos filmes infantis. 

Bruce sentia que seu peito iria ser perfurado de tanta força que suas batidas cardíacas faziam, aceleradas e nervosas. Ela estava de casaco, mas o ambiente parecia tão frio, suas pernas não paravam de tremer enquanto tentavam manter o corpo estático para que não caísse humilhantemente aos pés de Vance Hopper.

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