Três

137 18 75
                                    

Alerta de gatilho: menção a transtorno alimentar.

××××

Havia se passado uma semana desde o incidente com Bryan. Houve um processo demorado para que Bruce se acostumasse com os olhares de ódio que lhe eram direcionados por parte dele, mas logo se acostumou.

Bryan nada disse para ninguém, talvez porque soubesse que seria chamado de diversos apelidos ofensivos caso a escola soubesse que levou um grande fora de Bruce Yamada. Ele poderia mentir também, dizer que Bruce havia "aberto as pernas para ele", porém estranhamente ficou quieto.

Bruce não entendeu as razões, mas também não reclamou.

Não houve mais nenhuma exigência durante este período de uma semana. Bruce sequer viu Vance pelos corredores; nem os trombos estavam ocorrendo.

Era ainda de manhãzinha quando Bruce estava pensando nisso. Suspirou aliviada, pensando que Vance não queria mais nada de si. Ela não sabia quanto tempo suportaria seguir exigências que acabassem com sua reputação.

A garota caminhava até o banheiro para realizar suas necessidades antes das aulas. Estava assobiando amigavelmente alguma música e cumprimentava, como sempre, todos os transeuntes que por si passavam.

Seu sorriso estava estampado em seus dentes perfeitamente até colocar o primeiro pé no local de chegada. Seus ouvidos rapidamente captaram um som curioso e preocupante.

Um choro.

Bruce congelou na entrada enquanto ouvia soluços e fungadas nenhum pouco discretos. Ela pôde observar que vinham da última cabine.

Bem, a garota perfeita era gentil e compreensiva, então era seu dever ajudar aquela pobre alma que derramava mágoas no banheiro.

Seus passos eram delicados, sua saia branca chegava a balançar com o movimento. Ela atravessou o ambiente e parou em frente à última cabine. Seu braço nu se ergueu e bateu gentilmente na porta.

Instantaneamente, os soluços e as fungadas se calaram.

— Oi? - Bruce chamou, ajustando as alças de sua regata rosa claro. — Tá' tudo bem? Você quer conversar?

Alguns segundos de silêncio se prosseguiram, deixando uma tensão constrangedora recair sobre o local. Bruce brincou com os dedos e encarou o chão enquanto mordia o lábio, pensando em como prosseguir.

Seus sapatos pretos, semelhantes aos de bonecas, dobraram quando a garota se esticou para cima e para baixo, erguendo os pés para se acalmar. Era um tanto estranho, mas lhe ajudava.

— Olha, eu sou uma boa ouvinte e sei guardar segredos. - Bruce prosseguiu após refletir um pouco. — Ou se você só precisar de companhia, eu-

A tranca da cabine subiu repentinamente e fez um barulho alto demais para o gosto de Bruce. A porta foi puxada por dentro e revelou a presença de uma garota baixa, o corpo um pouco acima do padrão, tranças sobre os ombros e roupas pretas e fechadas.

Basicamente, uma completa antissocial e invisível. Bem, Bruce sabia lidar com isso.

A garota estava cabisbaixa com lágrimas gordas terminando de escorrer sobre seu rosto.

— Hum, oi. - Bruce a tocou gentilmente no ombro, reforçando o contato apenas quando acreditou que não seria repelida. — Eu sou a Bruce. Você é?

— Eu sei que você é Bruce Yamada. ‐ Respondeu, a voz carregada do tom rouco e estranhamente enfurecido. — Difícil é não saber.

— Oh. Tudo bem, e você?

Segredos e ExigênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora