Ventos de mudança

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A manhã passou de forma agradável, apesar de tumultuada.

Não escapamos dos interrogatórios e não se deram por vencidos enquanto não demos detalhes, obviamente omitimos a parte em que fui jogado longe, mas falamos um pouco do que fizemos a noite. Mesmo sendo uma pessoa que ignora tecnologias, agradeci que meu telefone estava tocando insistentemente e me permitiu fugir um pouco daqueles sanguessugas de fofoca, depois me desculparia com Mikasa por deixá-la sozinha.

Quando peguei o aparelho, vi que era aquele mesmo número que havia perguntado sobre meu pai e já tinham algumas chamadas perdidas. Atendi e fiquei mudo, apenas escutando uma respiração do outro lado da linha.

- Pois não?

- Senhor Yeager? – uma voz feminina – Eu gostaria de me encontrar com o senhor. É um assunto relacionado ao seu pai.

- Senhora, primeiro, qual seu nome? E qual seria o assunto?

- Perdão, meu nome é Dinah e sou esposa do seu pai.

Minha mente ficou em branco, como assim esposa do meu pai? Que piada é essa?

- Senhora, sinto, mas deve haver uma grande confusão. Peço que pare de me procurar.

Quando desliguei eu ainda estava absorvendo aquela informação. Que raios significava tudo isso? Como assim esposa do meu pai? Que merda foi essa?! Que porcaria que estava acontecendo. Se era uma brincadeira, era de muito mal gosto.

Eu fiquei sem ação. Pois por mais que tenha desligado e considerando trote, fiquei com as palavras martelando na minha mente. Devo ter perdido a noção de tempo pois Mika veio me chamar pois nossos amigos estavam indo. Imagino que estava muito abalado pois a expressão da jovem era de preocupação.

- O que aconteceu Eren? Parece que viu um fantasma.

Olhei para meu celular, a sensação era que realmente tinha visto um fantasma. Será mesmo que meu pai tinha uma outra família? Era tão insano isso. Ele sempre que precisava viajar a trabalho, ia com minha mãe. Desde que me lembro, eles sempre foram um casal muito parceiro, a imagem do meu pai como esposo amoroso e pai presente não condiziam com a de um homem bígamo. Tentei explicar para minha amada o que tinha acontecido e a reação foi de tanta incredulidade quando a minha.

- Eu vou dispensar a galera e conversamos melhor. – ela conseguiu tomar uma atitude pois eu ainda estava em choque. Desbloqueei a tela e vi que tinham mensagem daquele número. Eram provas. Uma certidão de casamento, fotos dos dois juntos, fotos do meu pai com um menino que se não fosse a cor clara dos cabelos, daria para dizer que era uma cópia do meu pai, o mesmo olhar, o mesmo formato de rosto. Essa mulher não estava mentindo.

Não conseguia mais processar nenhuma informação. Bloqueei a tela e apoiei meu rosto em minhas mãos. Sentia como se não segurasse minha cabeça, ela iria sair rolando pelo chão. Quando Mikasa voltou, não estava sozinha, Armin a acompanhava. Cada um deles sentou de um lado e apenas ficamos em silêncio por um tempo, como quando erámos crianças. Apenas de saber que eles estavam ao meu lado me acalmava, foi assim sempre nos momentos mais difíceis da minha vida, eles sempre estavam ali.

***

Os dias seguintes foram mais monótonos. Decidi ignorar o assunto por hora e bloquear aquela tal de Dinah, meu pai estava morto e a tempos, qualquer que fosse o assunto que ela poderia ter comigo, acabou-se com a morte dele, ou pelo menos assim pensava na época do nosso primeiro contato, entretanto ela se mostrou bem persistente em tentar contato por outros meios.

Um deles, o mais irritante por sinal foi ter acionado aos parentes mais distantes de Mikasa, sua avó e seu tio-avô, Kiyomi Azumabito e Kenny Ackerman. Para contextualizar, quando os pais da Mikasa faleceram, os Ackerman queriam levá-la embora, mas como era meio de ano e nossos pais eram muito próximos, para não prejudicarem os estudos da jovem, tinham um acordo que Mikasa viveria com a gente, uma vez que os seus parentes eram idosos, viviam longe e mantê-la aqui iria trazer certa familiaridade, uma vez que éramos mais próximos de família do que os seus de sangue. Mas com a morte dos meus pais, essa responsabilidade legal foi passada a eles, entretanto tínhamos um acordo, poderíamos continuar nossas vidas aqui e apenas repassar questões legais a eles, desde que nos mantivéssemos longe de problemas e para garantir isso, Levi Ackerman, sobrinho de Kenny, se mudou para a cidade visando nos monitorar. Então basicamente fazíamos de tudo para que não chegasse nada a eles e quando Dinah os procura, faz com que atenções desnecessárias caiam sobre nós. Kiyomi foi a primeira a ligar para Mikasa para saber notícias, ela em dois anos nunca ligara. Sabiamos por alto que o casamento dos pais de Mikasa era um calo na família Ackerman então o contato com a avó era mínimo, se ela havia ligado alguma coisa errada tinha.

Depois de alguns dias, uma nova ligação, agora de Kenny, estava ficando muito irritante, mas o auge foi a visita de Levi. Basicamente, não o veríamos até o início das aulas e o fato dele está em nossa porta, significava que realmente tinha algo muito errado.

- Vou direto ao ponto, aqueles dois velhos não querem perguntar diretamente, mas não tenho saco para ciranda. Quem é essa tal de Dinah? – eu voltei a sentir o peso de quando vi a foto da certidão de casamento. Essa mulher. Sabia que mentir para Levi seria o mesmo que decretar minha morte, respirei fundo antes de responder.

- Uma mulher que alegar ser esposa do meu pai.

Levi parecia me testar, ele observava sem falar nada, e isso era muito irritante.

- Soubemos dela há poucos dias. – Completou Mikasa, como para justificar porque sabíamos dela. – Ela começou a ligar e mandar mensagem querendo encontrar com o Eren. – Mais silêncio como resposta. Era muito agoniante essa espera pelo mínimo de respostas.

- Vocês devem me avisar caso ela tente contato novamente. – Finalmente se manifestando. – Ela tem procurado os velhotes dizendo que quer encontrar com você Eren, mas parece determinado a não ter esse encontro. Enfim, não gerem problemas. Irei avisar aos velhos pra ignorarem essa mulher.

Bom, parecia que havia sido mais fácil de convencê-lo do que eu estava prevendo, e isso era assustador. Com certeza existiam mais coisas por de trás dessa história, mas no momento não queria me aprofundar. Ainda não aceitara a outra família do meu pai, aceitar significaria destruir a imagem que tinha do meu pai e não queria isso, as lembranças dos dias felizes ao seu lado junto de minha mãe e Mikasa eram o que me permitiam seguir bem. Esse seria meu último ano de colegial, seria o último ano junto dos meus amigos. Eu tinha planos que não havia compartilhado nem mesmo com a jovem que amava, mas de qualquer maneira não queria perder nada mais por enquanto.

Alguns dias depois uma tempestade foi anunciada pelos noticiários assim como o nome do meu pai associado a um escândalo ocorrido anos antes do meu nascimento e que estavam sendo divulgados agora com a prisão de alguns envolvidos e a partir daquele momento não poderia ignorar mais o que Dinah tinha para falar.

História Lembranças de um Verão PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora