Turbilhão de sentimento

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(Obs: Esse capítulo tem duas músicas, a outra é essa Facing Reality - Imperia - https://www.youtube.com/watch?v=gABRVDb5PQ4) 

A casa vazia era o que precisava naquele momento e bem, sem Mikasa, era tudo que precisava. Estávamos tão acostumados um com o outro, que demoramos a nos ver como homem e mulher. Mikasa após perder sua família em um assalto foi acolhida pelos meus pais, tínhamos cerca de dez anos na época, desde então ter Mikasa ao meu lado, era como respirar, acho que nunca realmente cogitei está longe dela. Ela era a constante na minha vida, mesmo após a perda dos meus pais a cerca de dois anos quando sofreram um acidente enquanto visitam um dos pacientes do meu pai. Nos dois últimos anos fomos apenas nós dois e o Armin que acabava passando mais tempo conosco do que em sua própria casa.

As lágrimas ainda caiam.

Eu sei que eram brincadeiras do pessoal em relação a Mikasa e Jean, mas dessa vez, por tudo que havia acontecido, não conseguia esquecer a sensação de tê-la em meus braços e só de imaginar ela nos braços de outro me fazia entrar em agonia.

Decidi tomar um banho, precisava realmente me refrescar. Quando aceitei ir ao rio, foi por não aguentar o calor e tinha a intensão de nadar, acabou que no final não fiquei nem tempo suficiente para um mergulho. Agora o calor era o menor dos meus problemas, mas era o suficiente para me ocupar por enquanto. O processo de preparar o banho acalmou um pouco meu coração. Queria entrar logo na banheira e terminar de liberar cada uma das tensões presas em meu corpo.

Submergi e sob a água as lembranças de estarmos sob a arvore voltaram intensamente. Enquanto me lavava, senti novamente o peso do corpo de Mikasa contra o meu, o calor e o perfume me atingiram em cheio mais uma vez, invocados das minhas lembranças, ela era tão real naquele momento como foi pela manhã embaixo daquela arvore. O sabor do beijo, a textura dos lábios. Tudo, mais intenso. Meu corpo estava reagindo as lembranças e decidir me deixar levar dessa vez, quantas vezes controlei esse desejo por saber que Mikasa estava próxima e podia me escutar?

Desejava intensamente tocar cada centímetro daquele corpo, tirar aquele vestido fino, ir beijando de suas orelhas delicadas, a base de seu pescoço longo, fino, seu colo... eu estava duro demais, me aliviar urgente e quanto mais pensava em deixar para lá, mais forte vinha o desejo de explorar o corpo dela. Qual seria a sensação de tocar seus seios?

Isso estava sendo uma tortura. Não pensar naquele momento sob a arvore, era pedir para voltar os momentos na beira do rio e ignorar os momentos no rio era voltar a pensar nos momentos sob a arvore. Vendo que não iria mudar ficar dentro d'agua ou não, sai da água para descobri que não havia trazido uma toalha comigo, sai nu e molhado em direção ao quarto. O que não esperava era me deparar com o objeto de minhas fantasias no momento em que abri a porta.

Eu acho que fiquei sem respirar e sem ação por um século, mesmo que tenha se passado alguns segundos antes que esboçasse alguma reação. Ela estava com a toalha em mãos, provavelmente notara que eu havia esquecido em algum canto da casa e estava vindo me entregar e fora totalmente surpreendida quando abri a porta. Estendi a mão, mas ela estava paralisada, bom não fui o único impactado, fico pensando qual foi a impressão dela naquele momento.

- A toalha. - Falei tentando colocar o mínimo de emoção, pois estava com receio da cena ficar mais constrangedora se tivesse uma ereção na frente dela. Só não esperava que no lugar de me entregar a toalha, ela a jogasse no meu rosto e saísse correndo. Fechei a porta e deixei-me cair no chão, mas que porra de dia era esse? Dois anos morando sozinhos e nada assim nunca chegou perto de acontecer.

Me vesti e sai logo que consegui me recompor. Pela primeira vez me senti incomodado com meu corpo. Era estranho que nunca liguei para isso, mas agora estava pensando se ela gostou do que viu ou se apenas achou um esquisitão magrelo. A mente é o nosso maior inimigo quando está em surto e no momento eu era o próprio surto, mas não podia ficar trancado dentro do banheiro para sempre né?

Ouvi o som família na cozinha, segui para lá para que a encarasse. Não dava para ficar fugindo eternamente.

Ela estava preparando jantar, não havia trocado de roupa, já tinha deixado o chapéu de lado e o cabelo estava solto novamente, vê-la assim só aumentava meu desejo. Ela parecia uma esposa, dedicada a seu lar. Inconsciente, abri um sorriso com esse pensamento. Por que não pensar minha esposa? Sentei-me em silêncio pensando como iniciar uma conversa. Até ontem, seria a coisa mais natural, eu reclamaria de fome, ela iria me repreender por mexer nas panelas e falaríamos de coisas triviais do nosso dia. Como foi o trabalho? Quem estava com quem? Quem havia feito o quê? Nesse momento percebo como é fácil falar de terceiros e quase impossível falar de como nos sentimos, fácil entender do porquê chegamos a esse momento tão crítico.

- Coma, você não deve ter comido nada o dia inteiro. – Me sobressaltei com o prato que foi deixado em minha frente.

- Você também não deve ter comido nada, sente-se e coma comigo.

- Não quero, não estou com fome. – Ela não iria facilitar as coisas pra mim.

- Mikasa, sempre pensei que fosse mais corajosa que eu, mas pelo visto é uma covarde também.

- Não fui eu que fugi feito uma criança mimada e abandonei o pessoal, os deixando sem entender nada.

- Realmente, meu humor não estava dos melhores, mas você não tem do que falar, não demorou muito veio atrás de mim. – Estava me deixando levar pelo meu ciúme e pela raiva e isso não era nem um pouco legal, se não fechasse minha boca rápido iria colocar tudo a perder. Bem, pelo menos era o que o meu eu racional gritava na minha cabeça, o eu emocional estava no comando da minha boca e não iria ceder o lugar tão fácil. – O que foi? Cansou de brincar com o Jean por... – Não tive tempo de terminar a frase, quando senti um tapa em meu rosto.

- Realmente acho que é fome que está fazendo seu humor ficar péssimo. Aprecie a comida.

Ok, eu mereci, falei merda tive um retorno merda. Eu tinha que recalcular e tomar o controle. A segurei pelo pulso, impedindo de seguir para o quarto.

- Se admitir que estou sendo um babaca, você conversa comigo direito? – Meu coração parecia que iria explodir. – Minha mãe ficaria decepcionada se nos visse discutindo na sala de jantar. – A jovem respirava com dificuldade, sabia que estava segurando o choro, mas não ia deixar as lágrimas cair na minha frente, afinal era a mais forte dentre nós.

- Vou me lavar e comeremos junto. – Finalmente respondeu, puxando o braço com força.

Uma parte de mim queria se oferecer para tomar banho com ela, a outra dizia para ficar quieto que já tinha feito muito para irritá-la em um único dia. Assim que ela, olhei para o prato a minha frente em busca de respostas que eu já tinha. Não éramos mais crianças, estava difícil ignorar esse sentimento em mim e dependendo do que acontecesse, eu precisaria me afastar e isso seria como a morte para mim.

Os minutos se arrastavam enquanto a esperava. Tentei focar minha mente para não sofrer por antecedência, mas era impossível. Tentei observar a cozinha que conhecia como a palma da minha mão para encontrar algo que me distraísse, fui passando os olhos pelas paredes e estantes até parar em uma fotografia em que estávamos Armin, Mikasa e eu. Ela tinha sido tirada pouco depois de Mikasa vir viver conosco. Como havia passado rápido!

Dirigi-me até onde estava a foto e a peguei. Eu estava confuso demais, o dia estava confuso demais e por algum motivo essa pequena lembrança me fez sorrir, o quanto mudamos desde então.

- Você não comeu. – Me sobressaltei com a voz tão próxima a mim. Se antes não conseguia me distrair, agora viajei tanto nos meus pensamentos que nem a ouvir se aproximar e agora novamente estou consciente de sua presença. Seu cabelo estava molhado e sua pele cheirava a lavanda. Não havia como manter a razão estando tão próximo dela.

- Eu estava te esperando. Disse que precisamos conversar. – Desviei o olhar da foto e a encarei e novamente a sensação de perder o chão embaixo dos meus pés. Dizem que quando estamos apaixonados, sentimos borboletas no estomago, mas o que sentia era que iria enlouquecer se continuássemos assim, tão perto e tão longe.

- E sobre o que quer conversar? Não temos nada para falar. – Um buraco em meu peito foi aberto com essa frase. Se não havia nada a falar, significava que nada do que aconteceu naquela manhã significou nada para a ela e fui o único a ficar ansioso com tudo?

- É isso que acha mesmo? Até quando... Ou melhor, por que começou o assunto comigo mais cedo? Por que me beijou?

Não sei como sustentei o olhar, pois a minha vontade era simplesmente sumir, quem sabe ser engolido pela terra.

História Lembranças de um Verão PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora