Inverno, ano 2020
E foi assim que chegamos a esse ponto. Esse não era o futuro que queria para nós.
Agora não temos outra escolha a não ser matar ou morrer. Por mais que me quebre ver o olhar de Mikasa, ela decidiu seguir com sua missão e eu não posso julgá-la. Eu segui meu coração e por toda a dor que adquiri pelo caminho, agora estávamos em caminhos opostos, eu nunca quis envolvê-la nessa confusão, mas parece que a vida olhou na minha cara e gargalhou dizendo não, ele não teria essa paz.
Os segundos pareciam não passar, eu buscava uma solução, mas não tinha. Era matar ou morrer, se não agisse rápido, Zeke ia se safar mais uma vez, estava desarmado, com uma mira na minha cabeça, estava em uma encruzilhada. Poderia controlar Jean e fazê-lo atirar em Zeke, como fiz quando me livrei de Dinah, mas Mikasa iria proteger o colega e atirar. Eu estaria condenando a alma dela e nunca que iria controlá-la, mas Zeke? Ele não teria a mesma moral e fora que estava começando a se curar, logo iria agir e eu precisa pensar rápido, precisava agir. Sabia que qual fosse minha decisão, era enterrar de vez qualquer chance de perdão de Mikasa. Ele precisava arriscar, a arma estava próxima dele, um mergulho e um tiro. Um tiro e o fim de uma vida de perseguição, depois eu poderia me entregar, mas agora, eu precisava decidir e mais importante, agir.
— Parados. — Ordenei, mesmo sabendo do risco e corri para alcançar a arma. Eu só precisava atirar, e tudo, tudo mesmo iria acabar. Com o dedo no gatilho, olhei uma última vez para Zeke, éramos iguais, irmãos feridos, assassinos em busca de vingança, pessoas que não deveriam estar vivas.
Um segundo passando em câmera lenta.
Minha ordem atingiu a Jean, porém não fez efeito em Mikasa, eu mergulhei até o revólver, Zeke tentou controlar Mikasa, mas assim como minha ordem, a dele não teve efeito sobre ela. Meio segundo e meu irmão tinha o rosto retorcido pelo pânico, ele sabia que havia chegado ao fim, nossa disputa, aquele que iria viver, aquele que iria morrer. Ele ainda tentou se levantar, mas meu dedo foi mais rápido no gatilho
O som do corpo sem vida caindo, grito e o disparo em seguida. Apenas senti como se queimasse o local em que fui atingido por Mikasa, mas ainda pude ver que Jean ainda estava paralisado e Zeke caído, pela forma distorcida de seu rosto, eu poderia dizer que finalmente acabou, ele estava morto e eu realmente era um assassino. A minha boca estava amarga, eu não me sentia vitorioso, ainda mais quando via Mikasa ainda parada com a arma apontada para mim com o rosto molhado de lágrimas. Não era para ser assim, ela deveria ter seguido a vida dela, não ter sido trazida para essa confusão que era minha vida. Ela foi a melhor coisa que me aconteceu, eu não deveria machucá-la mais do que já fiz, mas novamente eu era a causa de suas lágrimas.
— Mikasa atire novamente antes que ele fuja! — Gritava Jean ainda imobilizado, ele estava sendo irritante. Dizia tanto amá-la e que queria o bem dela, mas não conseguia ver como ela estava quebrada nesse instante e a culpa era minha.
Entretanto existem decisões que apenas podem ser tomadas uma vez. Quando decidir dar um fim a isso tudo, eu realmente decidi deixar meu amor por Mikasa para trás. Ela merecia ser feliz e enquanto eu vivesse, ela não conseguiria seguir em frente. Tudo era questão de segundos, a decisão final estava na minha mão e eu precisava libertá-la desse amor, estaria sendo egoísta mais uma vez, mas foda-se, eu precisava que fosse ela, pelo menos no fim, a minha última visão.
Eu estava ignorando a dor no meu braço para gravar cada detalhe do rosto dela, a cicatriz da vez que Zeke nos perseguiu pela primeira vez brilhava por conta das lágrimas que ela não conseguia conter. Ela gritava alguma coisa de volta para Jean, mas não consigo focar nas palavras, apenas os olhos dela então em minha mente. Ela sabe que pretendo acabar com isso agora, seu olhar implora que não faça isso. Não a faça escolher entre o dever e seus sentimentos, mas preciso e confio que ela vai tomar a decisão certa, ela sempre toma. Por mais difícil que seja, por tudo que ela já passou, por toda a força que essa mulher tem, me permito ser egoísta uma última vez.
— Você sabe o que fazer Mikasa, se não o fizer Jean morre. — O que restava de sangue em sua face desaparece. Céus, eu queria tanto abraçá-la agora, beijar seus olhos e pedir desculpas, mas não posso sair do personagem que adotei.
Bem que dizem que quando sua vida chega ao fim, passa um filme na sua mente e o meu é sombrio na maior parte do tempo, mas agora, de frente para Mikasa, sabendo o final que me espera, eu só consigo lembrar daquela tarde, em que a beijei embaixo da arvore em Shiganshina, quando a vida era mais simples, quando eu apenas sonhava com um futuro ao lado dela e era muito tolo pra perceber que ela estava se declarando pra mim. Quando fizemos amor pela primeira vez, inseguros, imaturos, inexperientes e logo depois tivemos que nos separar, quando nos reencontramos em Marley daquele bar. Céus, eu a amo tanto, a vida não é nem um pouco justa, pois se fosse estaríamos juntos, talvez casados e quem sabe com um filho, sim esse seria um futuro bom. Eu faria tudo por ela, com certeza seria um daqueles maridos tidos como pau-mandando, mas não ligaria nem um pouco, tudo para vê-la sorrindo.
Droga, sinto meus olhos queimarem, não posso deixar que me entreguem. Contenho as lágrimas que ameaçam descer, e aponto para Jean. A decisão final é dela, não irei matá-lo realmente, mas preciso fazê-la acreditar, eu realmente preciso que ela siga sem mim.
— Sou um assassino Mikasa, seu dever é me parar.
— Por favor Eren, eu sei que não é assim, eu te conheço, por favor...
As palavras parecem morrer na garganta dela, mas eu sei o que ela quer dizer. Eu te amo também está preso na minha garganta, mas parece tão errado falar agora, é um peso que nem eu nem ela quer imputar ao outro, se falarmos iremos falhar, ela não irá ativar em mim, eu não vou conseguir manter a farsa.
— A vida do seu parceiro está nas suas mãos. — Aviso ao mesmo tempo que dou um tiro na perna de Jean fazendo-o tombar com um grito. — A escolha é sua. Ou me mata e o salva, ou terá que carregar a culpa pela morte dele.
Babaca total, era a melhor forma de me definir, mas foda-se, eu preciso que seja ela. O tiro que venha dela e que acabe com tudo, por favor, meus olhos imploram que ela acabe com isso, ela sabe o que fazer. Mesmo que aqui tenho um fim, ainda serei perseguido por ser portador desse poder maldito, transformado em arma por algum governo, ou preso e ter novamente minha liberdade tirada de mim. Por favor Mikasa faça a coisa certa, por favor me mate e liberte dessa vida miserável.
As lágrimas aumentam, ela não vai atirar, por mais que Jean grite para ela agir, por mais que eu implore, por tudo ela não vai agir porque me ama, da mesma forma que a amo, mas não podemos ficar juntos, não temos futuro. Vejo que terei de forçá-la, entretanto percebi que meu poder não funciona contra ela, por isso uso Jean e outros, por isso Zeke não a usou contra mim. Ela é resistente a tudo isso e eu agradeço de verdade por isso.
O alivio é momentâneo pois libero Jean, ele irá ser a peça que a fará agir, que seja meu peão uma última vez nesse jogo de reis e poderes insanos, de experiências em que o homem buscou ser Deus, liberar Jean e apontar a arma para sua cabeça, sei que não tenho mais balas, mas agora fora do meu controle o meu antigo amigo se retorce de dor e está com arma em punho, se não for Mikasa, será ele, o que importa é que eu morra hoje junto do meu irmão e assim daremos um fim ao legado sombrio de Grisha.
Eu aperto o gatilho, mesmo sabendo que não há mais balas no tambor apontando para Jean que rola e atira, mas o que acerta meu peito é o tiro que parte de Mikasa. Tudo começa a escurecer, mas consigo vê-la correndo para mim. Não consigo evitar de sorrir e agradecer a ela, por ter sido minha luz quando tudo que tinha era trevas, quando ela foi minha esperança de que esse final poderia ser diferente e por ser ela a acabar com meu sofrimento, mesmo que esse seja o começo do dela.
— Idiota, idiota, eu te amo.
Eu consigo ouvir no momento que ela me toma em seus braços no resto de consciência que ainda tenho. Eu quero responder, mas não sai nada, eu não tenho mais forças, agora é esperar pela morte sombria que vem tomando meus sentidos a cada segundo.
— Eu te amo Eren, nosso amor vive.
São essas as últimas palavras que escuto antes de finalmente tudo escurecer e minha consciência, não tenho tempo de pensar do que significam apenas que estou nos braços da única mulher que amei e que agora está livre para viver a sua vida sem mim.
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História Lembranças de um Verão Passado
Fanfiction"Como chegamos a este ponto? Esse não era o futuro que queria para nós. Agora não temos outra escolha a não ser matar ou morrer. " Em um momento entre lutar por seus ideais ou matar o amor de sua vida, Eren lembra daqueles momentos que antecederam a...