Quando se mata a primeira vez, parece que uma tranca é aberta e tudo fica mais fácil, antes de Dinah, eu pensava que não conseguiria matar Zeke, depois, eu estava basicamente obcecado por essa possibilidade. Não ajuda o fato de Mikasa não querer falar comigo, estávamos em tratamento de silêncio, de novo, era frustrante? Sim, mas não deixaria que isso me abalasse, eu queria mais que vingança, eu queria destruir tudo que meu querido irmão construiu.
— Estou indo embora. — A voz cansada de Mikasa me tirou de meus pensamentos. Era a primeira vez que ela me dirigia palavra, e era para quebrar de vez qualquer elo que ainda pudéssemos ter. — Não posso continuar vendo o que está se tornando Eren.
— O que estou me tornando Mikasa? Sou um fantasma. Caçado feito um animal, não posso andar tranquilo pelas ruas, sem saber de onde virá o próximo tiro. — Eu novamente sendo um babaca? Sim, mas era melhor para nós, para ela, que fosse embora. A quem estava enganando? Eu queria implorar para ela ficar, mas não faria isso, não poderia tê-la ou ninguém ao meu lado enquanto Zeke respirar.
— Um assassino Eren. Acha que não estou vendo o que está fazendo?
— Quero minha liberdade, e estou movendo céus e terras para recuperá-la.
— Quem é você? Você não é o meu Eren.
— Eu te avisei que não era o mesmo, na primeira vez que nos reencontramos, era para ter ficado longe disso, longe de mim.
— E ter que te prender? Ir com Jean a sua caçada? Ser mais uma em sua cola? Eren, eu quero te ajudar, mas cada vez que se fecha! Cada vez que não me deixa ajudar, e agora que está disposto a se tornar um monstro que tanto te acusam de ser. Como eu fico?
Larguei o caderno, minhas anotações que agora estavam misturadas com a de meu pai e de Erwin. Sempre quando se tratava de Mikasa, eu me enfraquecia, ela é tudo para mim, mas também minha maior fraqueza e para meu ódio Zeke agora sabe.
— Você deveria ficar em Shiganshina, não aqui. Não tem um futuro aqui, não temos futuro.
— Não temos por que você não tentou Eren, fique com sua vingança.
Manter a pose era mais difícil do que imaginei e não demorou nem vinte minutos para que chorasse feito criança e quisesse ir atrás dela, mas eu era um assassino, ela uma agente e com futuro brilhante pela frente, eu iria apenas a atrasar e me permiti chorar por ela nesse momento para nunca mais, essa foi a penúltima vez que a vi antes do momento derradeiro.
***
Os dias passam diferente quando sua perspectiva muda. Passei a viver escondido de todos de novo, mas agora não respondia a aliados, não queria contato com ninguém, comecei a usar meu poder para conseguir passar ileso pelas pessoas, para ter moradia, para ser anônimo e assim monitorar meu irmão. Sabia sua rotina, não poderia dizer que Zeke não era um homem de hábitos. Saia de casa no mesmo horário, ia para o laboratório e voltava no mesmo horário, isso pelo menos depois da morte de Dinah. Os primeiros dias ele foi apenas um zumbi, se arrastando pela casa e chorando pela mamãezinha dele feito um bebê idiota.
Eu já sabia como entrar, mas as palavras de Mikasa ecoavam sempre que tentava fazer o próximo movimento, se fizesse isso, eu realmente me tornaria um assassino. Um fratricida. O quanto realmente eu estava disposto a me perder? A voz da Mikasa era a luz da minha consciência e ela que me trouxera aqui, novamente, eu estava vigiando Jean, ele se tornara minha fonte de informações sobre ela, pois se a visse, desistiria de tudo e pediria perdão, patético, eu sei, mas ela ainda me faz ser eu, já ele, bem, foda-se ele. Eu só queria saber se ela estava bem, e era divertido ver o empenho de Jean em buscas de pistas minhas, quando eu estava a menos de duas cadeiras de distância dele na cafeteria. Mais um pouco e iria fazer como nos últimos dias, esperar que ele se levante para ir ao banheiro, dar a ordem para que me diga o que descobriu. É estranho em pensar que menos de uma semana antes eu tinha escrúpulos para usar esse poder e agora, ele é a minha única saída, minha única arma e meu único aliado. Para o bem de Armin, parei de me comunicar com ele, era melhor seguir meu caminho sozinho, eu não tenho salvação, mas meus amigos têm.
Foi assim que tudo terminou antes que eu mesmo percebesse, foi estranho. Quando finalmente consegui uma chance de estar frente a frente com Zeke e sabia que Armin conseguira sabotar cem por cento da fórmula com a ajuda de Annie. Meu irmão estava transtornado, quebrando tudo. Não percebeu que estávamos a frente dele, ele que sempre se gabou de sua inteligência, mas quem diria que a perna de Dinah o faria partir ao meio? Bem, eu entendia como era, eu perdi tudo, vi meus pais dissecados naquele maldito armário, cenas que nunca sairão na minha mente, eu entendia bem o que era ser quebrado, mas diferente de mim, Zeke sempre foi protegido, a primeira rachadura em sua armadura o fez perder o controle. Era irônico que um homem de rotina, de repente, perdeu o foco, não tinha mais horários, bebia a qualquer momento, um tolo criando brechas para mim.
Quando apareci na sua frente, ele não tinha certeza se era um fantasma, uma alucinação pela bebida ou uma pessoa de carne e osso. Ele mal conseguia se mexer, seus movimentos estavam comprometidos, acho que ainda não acredita que esteja realmente na sua frente.
— Xeque-Mate irmão. — Não esperei a resposta. Um único tiro na cabeça. Um aperto no gatinho e finalmente, anos de sofrimento terminam. Foi a segunda vez que tirei uma vida. Mikasa tinha razão, eu virei um assassino e era sem volta. Eu tinha ainda que destruir tudo, não poderia tentar ter uma vida se ainda restasse algum vestígio da pesquisa do meu pai. Era tão estranho, quando deixei de ter escrúpulos, consegui minha liberdade, mas ainda tinha um gosto amargo, foi muito fácil para tudo que passei, muito fácil para tudo que perdi.
Comecei a revirar anotações e quebrar computadores. Estava determinado a causar um curto-circuito e consequentemente um incêndio, deixar que o fogo levasse o legado do meu pai e quem sabe também minha vida, afinal ainda tinha esse maldito poder em mim, não seria nunca esquecido, eu precisava morrer assim como todo o legado do meu pai, eu precisava de mais uma morte nas minhas costas, a minha própria morte. Era estranho que lutei tanto para sobreviver que agora a única alternativa que me resta é a morte.
Estava distraído demais para perceber que Zeke ainda estava vivo, apesar de muito ferido, conseguiu se levantar e se jogou contra mim, me derrubando no processo. Meu irmão, apesar de um mauricinho, era bem forte, teria sido um irmão interessante, se a vida estivesse apresentando-nos de outra forma, acho que eu gostaria de ter um irmão. Acredito que por estar decido a morrer começo a perder o foco, voltando apenas quando Zeke estar novamente sobre mim, tentando esmagar minha traqueia. Mesmo quase sem ar, não ia desistir sem lutar, eu iria vencer e romper todo esse ciclo, era para isso que me mantive vivo até agora. Juntando o resto de forças que tinha, consegui alcançar a arma em minha cintura e o atingi com o cabo para tirá-lo de cima de mim.
— Não irá vencer Eren. Grisha não merece ter um legado. — Rosnou. Ele estava insano, o efeito de cura estava ativo e se não me apressasse ele estaria renovado logo, logo.
— Bem, irmão nisso concordamos. — Mirei novamente na cabeça, sendo que dessa vez ele desviou por pouco. Ainda tinha seis tiros para acertar, não poderia errar de novo, dessa vez iria garantir que seus miolos ficassem esparramados pelo chão e quem sabe, garantir que sua cabeça estivesse bem longe de seu corpo.
Estava preparando um novo disparo quando o som de vozes ecoou pelo andar. Eu conhecia aquelas vozes e não eram para estar aqui, Jean e Mikasa não deveriam interferir, ou virariam armas em nossa pequena disputa particular. Zeke não tinha certeza do que estava acontecendo, mas pude ver em sua mente que estava calculando como escapar, eu não poderia desistir, nem hesitar. Vim até aqui para colocar um fim nisso, mesmo que para isso tenha que me tornar o vilão da história.
Atirei novamente e dessa vez acertei, Zeke poderia se curar, mas não era tão rápido e ser atingindo uma segunda vez fez com que sua consciência começasse a oscilar, engatilhei novamente a arma, mas era tarde, Jean foi mais rápido, acertando minha mão enquanto Mikasa acertava as pernas de Zeke. Meu irmão estava ferido e eu desarmado, a mulher que amo estava ali com olhar ferido para mim, enquanto meu antigo colega de escola apontava para minha cabeça. Era assim que chegávamos a um momento crucial, era inverno, e eu sentia o frio da morte se aproximando a cada segundo que passávamos ali.
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História Lembranças de um Verão Passado
Fanfiction"Como chegamos a este ponto? Esse não era o futuro que queria para nós. Agora não temos outra escolha a não ser matar ou morrer. " Em um momento entre lutar por seus ideais ou matar o amor de sua vida, Eren lembra daqueles momentos que antecederam a...