O inverno derradeiro

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Cry with a smile, my heart was dreaming

Of time I knew would come to an end

Why do I cry about a beautiful memory?

Why do I feel so hurt, so lonely?

Cry With a Smile – After Forever

Jean ainda tenta me consolar, mas eu estou dormente. Sou apenas um zumbir desde que tirei a vida de Eren. Tudo que fiz depois foi em modo automático, fico pensando se ele entendeu o que quis quiser, eu precisava dizer antes de tudo isso virar de cabeça pra baixo, mas foi tudo tão rápido ladeira abaixo. Era para eu protegê-lo, para garantir que teríamos uma vida junto, mas deu tudo errado.

Armin me espera, assim como Annie. Levi, Erwin e Hange estão livres e não acreditam nas ações de Eren, na verdade, o único que o entende somos Armin e eu. Ele não aguentava mais aquela vida de fugas e mentiras, a muito Eren não era ele mesmo e a gente não conseguiu ajudá-lo, nós falhamos com nosso amigo, EU falhei com meu amor.

Levantar-se da cama estava difícil, os enjoos assim como a realidade de que ele não está mais entre nós machucada demais e não queria encarrar, hoje eu teria que dizer adeus, mas dói tanto... Eu não quero ver ninguém, não quero falsidade, não quero olhar para nossos colegas de infância que irão agir com hipocrisia como se ele fosse um mártir, mas a pouco tempo, quando não tinham provas suficientes apontavam dedos para ele o chamando de louco e assassino.

O dia reflete meu interior, sem brilho, sem luz, sem vida. Não era pra ter sido assim, será que se não tivesse ido atrás dele, se o deixasse seguir, ele ainda estaria vivo? São perguntas que não posso responder e ficam ecoando na minha mente, assim como as lembranças da cabana em que passamos nossos últimos dias juntos, ali foi tão bom quase como quando éramos mais jovens e vivíamos juntos em Shiganshina, eu só queria poder ouvir sua risada novamente, naqueles dias eu a ouvia sempre, as preocupações eram apenas viver e crescer, mas crescer é duro, cruel. Em um mundo tão cruel e tão lindo, eu poderia dizer que aprendi a amar de verdade com você.

O telefone toca incessantemente. Estou totalmente atrasada, mas se não for ao enterro não se torna verdade certo? Eu posso continuar nessa ilusão de que ele ainda estará lá fora em algum lugar, mesmo que estivesse longe seria melhor do que a certeza de que acabou. Novamente o enjoo, eu não tenho nada mais no estomago, mas parece irritado e não quer aceitar tanto quando eu esse final, corro novamente para o vaso e quando me levanto, vejo meu rosto pela primeira vez em dias, estou destruída, a Mikasa daquela pequena cabana não se parece em nada com a minha atual versão no espelho. Olheiras profundas, junto de olhos vermelhos e rosto abatido, o cansaço faz com que pareça que envelheci e perdi peso, mesmo que o fato que minhas calças estejam mais justas digam o contrário.

— Maldito telefone que não para. — Resmungo para as paredes. Será que não veem que não quero falar com ninguém?

Me forço a entrar no chuveiro, sei que não vão me deixar em paz se não for e também sei que preciso ir pois será a última vez que o verei... Apenas possibilidade de pensar em vê-lo dentro de um caixão faz com que as lágrimas voltem, mas pelo menos dessa vez deixo que caiam e que as gotas do chuveiro as levem, quem sabe assim esse peso em meu peito diminui. Tantas lembranças, tanto vazio. Tão diferente de quando o beijei embaixo daquela arvore, da nossa arvore, era um verão tão quente que o calor parecia que iria nos sufocar ou eram meus sentimentos que queriam escapar de qualquer maneira que me faziam pensar assim? Era engraçado lembrar como ele ficou desesperado quando pensou que iria pedir conselhos sobre outro cara, ele não entendia e eu me segurava para não rir, ao mesmo tempo que tremia de ansiedade. Tantas primeiras vezes e todas com ele, mas ainda tinham tantas outras coisas que queria experimentar ao seu lado.

História Lembranças de um Verão PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora