Capítulo 2

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MESES DEPOIS

O casamento de Lucero e Fernando já havia acontecido pouco tempo depois que seus pais decidiram tomar aquela medida e eles haviam passado a morar em uma casa pequena e alugada pelo pai do rapaz. Lucero teve uma gravidez tranquila, sempre contando com o apoio do marido e da família, inclusive de Antônio que depois que ela fez sua vontade, voltou a tratá-la normalmente. Ela havia dado à luz a pequena Hannah há poucos meses e como imaginou, sua vida mudou completamente, pois ela quase não tinha mais tempo sequer para tomar banho. Sua filha era o maior amor da sua vida, mas as noites sem dormir e o fato de ser sugada de três em três horas por um ser humano somado a crises intensas de choro por cólicas intestinais que segundo a pediatra, eram comuns em bebês, deixavam-na estressada ao extremo. Naquele momento, ela tentava pela milésima vez acalmar Hannah enquanto implorava mentalmente para que sua dor de cabeça melhorasse e Fernando observava tudo sem saber o que fazer.

− Eu acho que ela está com cólica de novo. – Fernando comentou.

− Conta uma novidade, vai fazer doze horas que ela só berra de cólica. – Lucero ironizou.

− Nossa, eu só quis ajudar, desculpa. – Fernando levantou as mãos.

− Você quer ajudar mesmo? – Lucero perguntou nervosamente, colocando Hannah no trocador. – Então experimenta amamentar e fazer ela dormir até amanhã. – ela pegou a filha novamente.

− Meu amor, eu entendo que você esteja cansada e adoraria poder ajudar, mas... – Fernando falava, mas Lucero interrompeu.

− Mas na maioria das vezes é a mãe que tem que lidar com o que acontece com o bebê, eu sei!

− Lucero, você está gritando, a menina vai se assustar ainda mais, calma!

Lucero abaixou a cabeça e viu que Hannah estava vermelha de tanto chorar. Fernando tinha razão, ela estava só piorando a situação da filha. Ela tentou muito ser uma boa mãe, mas precisamente naquele dia estava tão exausta que não conseguiu nem mesmo fazer o mínimo que era ter paciência com a inocente que pôs no mundo.

− Você está certo, hoje não está dando. – Lucero falou mais baixo e colocou Hannah no colo de Fernando. – Cuida dela. Tem leite armazenado na geladeira.

− Aonde você vai? – Fernando perguntou, observando Lucero sair do quarto.

Lucero não respondeu e Fernando só ouviu a pancada na porta, tratando de cuidar de Hannah enquanto esperava que a mulher se acalmasse mesmo. A mulher caminhou e chorou por muito tempo. Não era que não amasse e nem aceitasse a família que formou, mas às vezes ela queria ainda ser a moça cheia de sonhos que só precisava se preocupar em estudar e em ir para festas aos fins de semana quando na verdade, nem podia pensar nisso, pois tinha uma filha para criar. Ao voltar para casa horas depois, na rua atrás de onde morava, ela escutou uma buzina alta ao lado dela, mas nem teve tempo de reagir, pois uma moça foi jogada de dentro do carro e logo três disparos foram ouvidos. O carro saiu em disparada enquanto Lucero paralisou no lugar, olhando a desconhecida se esvair em sangue caída no asfalto.

− Não! – Lucero correu para perto da moça ferida e se abaixou, vendo que ela tentava falar, mas da sua boca só saía sangue, assim como seu peito, até ela desmaiar.

Lucero olhou de um lado para o outro, procurando ajuda enquanto tentava estancar o sangue que também saía do peito da moça. De repente, ela viu a arma do crime ao lado do corpo da vítima e no seu nervosismo e falta de experiência, ela teve medo do objeto disparar e piorar a situação da moça ou machucar a si mesma, por isso segurou a arma com cuidado para afastá-la, mas nessa hora as sirenes das viaturas de polícia ecoaram e antes que ela pudesse pensar, pararam próximas a ela.

− Ai, graças a Deus vocês chegaram. – Lucero respirou aliviada.

− Larga essa arma e mãos para o alto, moça! – o policial falou, apontando uma arma para Lucero.

Lucero se assustou e de repente, percebeu o que fez e jogou a arma no chão, fazendo o que o policial pediu. Era óbvio que ela sabia que não podia mexer em cenas de crimes, mas seu desespero foi tão grande que ela só pensou em afastar aquela arma dela e da moça ferida.

− Não, vocês entenderam errado. Eu estava passando quando vi essa moça... – Lucero falava, mas foi interrompida pelo policial.

− Isso você vai nos explicar na delegacia. Nos acompanhe, por favor. – uma policial se aproximou com algemas em mãos, imobilizando Lucero por trás e prendendo seus pulsos.

A cada minuto que se passava, Lucero entrava mais em pânico. Como uma simples e rápida saída para aliviar a cabeça se tornava aquele problema gigante?

− Essa está morta, tenente, mas eu já chamei a perícia. – o policial falou, olhando para o corpo e fazendo careta.

− Ótimo. Eu vou levando a suspeita para a delegacia enquanto você resolve tudo por aqui. – a policial falou, arrastando Lucero para a viatura.

− Olha, eu insisto que está havendo um engano, não fui eu que apertei esse gatilho. – Lucero tentou afirmar novamente.

− Shhh. Você tem direito de permanecer calada até segunda ordem. – a policial jogou Lucero dentro da viatura e fechou a porta.

Lucero resolveu fazer o que a policial mandou, chegaria a hora dela se explicar e tudo se esclareceria, até porque ela não tinha o que temer, afinal não fez nada de errado. Elas não demoraram a chegar à delegacia que estava pouco movimentada e foi diretamente levada à sala do delegado, onde pôde finalmente prestar depoimento. A moça contou quem era, onde morava e infelizmente precisou contar sobre seus problemas pessoais para justificar o fato de estar andando sozinha na rua.

− Olha, vamos ter que aguardar a perícia da arma do crime porque segundo os policiais, estava na sua mão quando eles chegaram. – o delegado falou.

− Mas eu já disse que toquei porque fiquei com medo dela disparar novamente e causar um acidente maior.

− Então você reconhece ter tocado na arma do crime?

− Sim, mas em nenhum momento foi na intenção de ferir a moça, eu nem sequer a conheço! – Lucero falou, cansada de explicar a mesma coisa pela milésima vez.

− Por favor, levem-na para a cela novamente. – o delegado fez sinal para as policiais que aguardavam na porta da sala e elas imediatamente levantaram Lucero pelos ombros. – Qualquer novidade, eu voltarei a chamá-la. – ele falou para a moça.

Lucero foi levada para a cela e trancafiada como se fosse um animal perigoso, levando em conta que as policiais a jogaram lá dentro e saíram sem nem olhar em seu rosto. Ela começou a chorar, se sentando na cama dura da cela e pensando que precisava sair dali logo, pois havia deixado pouco leite para Hannah e ela não podia ficar com fome. Sua bebê era tudo em que ela mais pensava, além da sua família que não poderia passar mais aquela vergonha de ter uma filha metida em um crime. Depois de alguns minutos, ela percebeu que de nada adiantava ficar chorando, tinha que lutar pelos seus direitos, por isso correu para as grades.

− Ei! Eu não posso ficar aqui! Tenho direito a uma ligação! – Lucero gritou, balançando as grades.

                                                                               ~ * ~

A menina Lucero se deu mal. E agora, quem vai poder livrar ela dessa? 😭❣️

Me Reviviste TúOnde histórias criam vida. Descubra agora