Capítulo 5

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DIAS DEPOIS

Lucero não havia tido maiores problemas na escola durante os últimos dias, apenas assinou algumas autorizações e pagou algumas contas com a ajuda de Gabriel e nem mesmo teve muito contato com Hannah além de quando precisava dar algum aviso importante para todos os alunos por igual, o que foi muito bom para ela se acalmar ao menos enquanto se acostumava com a nova realidade. Quando tudo estava mais resolvido na sua vida, ela voltou a pensar com mais frequência em dona Lucero e Antônio. Para abandonar a família como seu sogro mandou, ela precisou se afastar de tudo, principalmente dos seus pais que com certeza a julgariam e perguntariam seus motivos até que ela não aguentasse mais e contasse a verdade. Como não devia mais nada a ninguém, pois era dona do seu próprio nariz e estava tão perto da filha e de certa forma do marido, ela decidiu procurá-los, mas por não saber por onde começar, a mulher contratou um detetive particular que em pouco tempo, foi lhe levar notícias na escola. Após os cumprimentos e formalidades, Lucero pediu que ele se sentasse, com o coração aos pulos só em pensar na possibilidade de reencontrar os pais.

− E então, quais as novidades que o senhor tem para me dar? – Lucero perguntou ansiosa, terminando de servir água para o homem.

− Bem, eu comecei pesquisando no seu antigo endereço e realmente seus pais não vivem mais lá há vários anos, precisamente perto da data que a senhora me deu em que os viu pela última vez, mas como a senhora também disse, sua família é bem conhecida por aqui e os novos proprietários da sua casa disseram que eles foram para uma casa de repouso e vieram a falecer pouco tempo depois. Eu sinto muito. – o detetive falou, entregando o relatório que fez detalhando tudo que havia acabado de contar.

Lucero abaixou a cabeça, encarando os papéis, sendo que nenhuma palavra entrava na sua mente. Então ela estava mesmo sozinha no mundo, havia perdido seus pais biológicos e Madalena, sua mãe postiça, porque ela tinha certeza de que nunca mais poderia contar com Fernando e se um dia pudesse com Hannah, demoraria muito por ela ser menor de idade e precisar da autorização do pai para fazer qualquer coisa.

− O senhor tem certeza? – Lucero perguntou com a voz embargada.

− Sim. Como eu disse, não foi difícil encontrá-los e checar a informação, mas se a senhora quiser, eu posso buscar a localização dos túmulos.

Lucero não sabia quando teria forças para visitar aqueles túmulos, tantas vezes sonhou com o abraço dos pais e saber que nunca mais teria lhe doía muito, por isso ela não queria encontrar nada naquele momento.

− Esse eu acho que será fácil para mim encontrar, mas se eu precisar novamente, eu o procuro. Aqui está o pagamento pelos seus serviços, obrigada. – Lucero tirou um cheque da gaveta e entregou ao homem quase sem encará-lo.

− Eu que agradeço. Lamento não ter trazido a resposta que a senhora esperava. – o homem se levantou, guardando o cheque no bolso e apertando a mão de Lucero.

Lucero assentiu uma vez e o homem saiu. Só então ela conseguiu chorar tudo o que queria, pela saudade dos pais e a raiva por ter se deixado levar pelo sogro, se afastando de tudo que mais lhe importava na vida. Depois de alguns minutos de um choro compulsivo, no silêncio que os corredores da escola ficavam após o intervalo, quando todos os alunos voltavam para as salas de aula, ela ouviu um barulho leve de piano e enxugou as lágrimas, caminhando devagar até o auditório e se surpreendendo ao ouvir a voz doce de Hannah soar. Como ela, a filha parecia ter herdado o dom da música, algo que ela nunca teve chances de aprimorar, pois quando conheceu Madalena, a primeira oportunidade que surgiu foi de ser secretária e mesmo o trabalho sendo simples, ela ganhava o suficiente para garantir sua independência. Se o sonho da sua menina fosse viver da música, ela faria de tudo para que ela se realizasse como a mãe nunca pôde.

Me Reviviste TúOnde histórias criam vida. Descubra agora