Capítulo 11

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Quando o garçom serviu a água e se afastou, Fernando resolveu externar o que se passava na sua cabeça.

− Você tem certeza de que não tem nada a ver com essa ideia da Hannah?

− Claro que não, eu jamais forçaria algo entre a gente. – Lucero falou como se fosse óbvio. – Mas eu preciso mesmo falar com você.

− Pois bem, estou ouvindo. – Fernando cruzou os braços.

Lucero tomou toda a água de uma vez, desejando se acalmar e que a conversa fosse tão tranquila quanto estava sendo até aquele momento.

− Eu sei que tudo que aconteceu no passado não nos permite ter uma convivência amigável, mas eu gostaria que entrássemos em um acordo pelo menos pela nossa filha, não é bom para ela que as pessoas que mais a amam no mundo não consigam se entender nem mesmo sobre algo relacionado a ela.

− Do que você está falando? – Fernando se inclinou para a frente, apoiando as mãos na mesa.

− Da autorização para entrar na produtora, você sabe que ela precisa de nós dois.

− E quem disse que você sabe do que a minha filha precisa? – Fernando enfatizou, erguendo a sobrancelha.

− Por favor, vamos manter a calma, nós não vamos brigar. – Lucero respirou fundo, tentando conter as lágrimas.

− É que você acaba de voltar à vida dela depois de abandoná-la e acha que pode ditar o que ela precisa ou não.

− Eu só quero apoiar o sonho dela.

− Fala sério, ela só tem quinze anos, nem sabe o que sonha ainda. – Fernando revirou os olhos.

− Se você parasse pelo menos cinco minutos para conversar com a sua filha, veria que ela tem muito mais sonhos do que nós dois juntos.

− Então ela que arrume outros sonhos. Eu já disse que não a quero metida com vida artística.

− E por quê? Por que esse também era o meu sonho? Você não suporta que a Hannah se pareça tanto comigo e por isso prefere não apoiá-la? – Lucero encarou Fernando.

Fernando engoliu o seco. Hannah já o havia perguntado aquilo e ele conseguiu se safar, mas de repente, teve vontade de jogar em Lucero mais um pouco do ódio que ele sentia por ter sido abandonado. Sua maior vingança era fazer com que ela sofresse tanto quanto ele sofreu a vida toda.

− É isso. Eu amo a minha filha, mas odeio que ela seja sua também. Odeio que ela se pareça tanto a você, que tenha os mesmos gostos, a mesma teimosia e principalmente odeio olhar nos olhos dela e enxergar você. – Fernando falou ofegante.

Quando Fernando começou a falar, Lucero abaixou a cabeça e não conseguiu mais segurar o choro. Ter o homem da sua vida a magoando daquela forma era mais do que ela podia aguentar. Ele se calou enquanto ouvia apenas seu choro, porém diferente do que pensou, aquilo não o fortaleceu, mas sim apertou seu coração.

− Você não imagina como dói saber que tudo que aconteceu prejudica até o seu relacionamento com a nossa filha que é uma das mais inocentes nessa história. – Lucero falou em meio ao choro. – Mas me dói também o fato de você nunca acreditar em mim, só que independente disso ou de qualquer outra coisa, a Hannah também é minha e você não pode lutar contra isso. – ela enxugou as lágrimas, voltando a encarar Fernando.

− Tem razão, eu não posso, ela ama você. – Fernando deu de ombros, parecendo indiferente. – Mas eu posso escolher não participar disso, é um direito meu. – ele apontou para si mesmo.

− Claro que é, mas não é se vingando na sua filha que você vai desabafar toda a sua raiva de mim. Se você pensa que impedir a Hannah de realizar o sonho dela está apenas me atingindo, saiba que está fazendo ainda pior com ela e que eu não vou deixar que os nossos problemas a afetem, então eu vim perguntar se você vai me dar o meu direito de mãe ou vou precisar buscar ajuda de fora para conseguir isso.

Me Reviviste TúOnde histórias criam vida. Descubra agora