Capítulo três.

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"Carrego a glória e a dor de viver do meu jeito..."

                           Holandês 👑

Acendo um baseado e dou uma longa tragada, soprando a fumaça para longe junto com meus pensamentos problemáticos. Já está escurecendo, e vejo o céu tingido em dois tons: um amarelado velho misturado com cinza. Observo cada casa feita de tijolo, cada telha nos tetos das moradias e a visão do campinho vazio. Minha favela!

Trampei o dia inteiro ontem, cheio de ódio borbulhando de boca em boca, cercando minha mente. Nem peço mais para Deus me trazer vivo para casa; só peço para não retornar derrotado. Que eu morra, mas levando a guerra tatuada no peito, a honra em poder ter vencido até o último dia de vida, ou tentando sobreviver...

Minha brisa foi abruptamente interrompida pela chegada da Sophie e Anna. As duas surgiram, rompendo a tranquilidade do momento fumegante. Levo o cigarro mais uma vez à boca e retorno apoiando-me na grade do escadão. Solto a fumaça e espero que elas digam algo, além de ficarem paradas como duas malucas na minha frente.

Anna: Você viu o Pietro por aí? Cheguei desde cedo, e esse cabeça de Super Choque não apareceu até agora para falar comigo. Vou devolver. - Reprimo uma careta e passo os olhos pela Sophie antes de voltar a encarar a Anna.

Holandês: Ele foi para a contabilidade. Se não estiver em casa, deve tá por lá ainda. - Digo sem dar muita ideia, especialmente para a Sophie, que me olhava com aqueles dois olhos brilhantes, achando que ia me causar algum tipo de pena. Na casa do caralho, só se for.

Não fico cobrando nada, mas só pelo semblante ela já percebe, e é por isso que se treme toda. Nós não temos nada sério, e nem quero. Eu e namoro, Holandês e laço, dois bagulhos que ninguém enxerga em uma frase só.

Estou tranquilo em relação a falsos amores, ainda mais o dela, que se deixar roda no pente do Abelha de novo, até porque não tem nenhum retardado aqui pra acreditar que elas foram lá só para bater papinho gostoso. Com a Sophie, tem que ser assim mesmo, no zero simpatia.

Sempre fui melhor sozinho, e sempre serei!

Anna: Passei lá no velhote, e ele não estava para graça não. Achei até que ia encontrar a vó mais cedo. - Meu avô sempre bolava a cara quando as meninas faziam isso. Chegava a ser desgastante até para quem está de fora. Era agoniante dar um esporro e não ver mudança alguma.

Holandês: Também, essas minas só trazem desgosto e má fama pra família. Tem que morrer mermo, antes morto do que vivo tendo que presenciar esses bagulhos. - Minhas palavras são como facadas miradas nos corações de quem as ouve, mas também podem ser conforto. Isso vai depender de como a pessoa age comigo. Até hoje, as únicas mulheres que desfrutaram disso foram minha mãe e minha irmã.

Anna: Dá nada não, o caldo também tá quase entornando pro meu lado. - Cerro os olhos, puxo a fumaça e solto, abrindo-os. - Me meti numa orgia sinistra na Mangueira. O radinho tá rolando por lá, mas por enquanto são apenas boatos, e espero que continue assim. O que meu pai não me bater, meu avô faz em dobro. - Se refere ao MK, que desde que tombaram a antiga gestão do morro da Mangueira, o mesmo passou a governar pelas áreas. Ele e a Valéria meteram a marcha do Alemão, mas como não peguei essa fase, faz nem muita falta.

Holandês: Tudo farinha do mermo saco, sei nem quem é pior. - Assinto com a cabeça e solto uma tosse rouca.

Anna: Pelo menos não precisa fazer competição, todas possuem o mesmo nível de cafajestagem. Estamos aprendendo com vocês, próxima prova é semana que vem, fica vendo...

Holandês: Por que tu não vai lá atentar o Putaria Total, ein? Mete o pé daqui ruiva de mercadinho. Janete do zorra total. - Ela me manda tomar no meio do meu cu, e suspirei observando-a se retirar. - E tu? Vai ficar aí tirando print da minha cara? - Fito os cabelos escuros da Sophie e desvio o olhar para os lados.

No Alemão 3 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora