Capítulo oito.

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                                   Pt

Repousei as mãos no corrimão da escada. Estávamos tranquilos, apenas ouvindo em silêncio enquanto começaram a despejar xingamentos sobre nós. As meninas ficaram boladas porque tiveram que voltar sozinhas, e a Júlia reclamou do IG, que nem deu atenção. A sorte foi que não conseguiram nos reconhecer no noticiário. Sujeito novão ainda e que ir preso e meter o careca na cabeça é foda.

V2: Vocês têm o quê no lugar da porra do cérebro? Caralho, será que alguma vez na vida vão parar de agir na emoção e pensar logicamente? - Nervoso, ele percorria de um lado para o outro agitado. Desligou a TV abruptamente e desferiu esporro sem dó.

Pt: Nós somos bandidos, não tem mocinha aqui. Quer que a gente vá pra terra de bacana fazer o quê, pintar a unha? - Desço os degraus junto dos moleques e paro ao lado da Sarah, que estava segurando a risada de tão bêbada. Novinha fedendo a whisky. Catingosa.

V2: Vou pintar a cara de vocês de porrada. Tá achando que eu sou quem nessa porra, tem algum estranho aqui? Me confunde não, Pietro. Tô velho, mas ainda quero o mesmo respeito de sempre. Não virei nenhum mula pra vocês estarem nessa marra fodida.

Holandês: Aê vô, eu te respeito à vera, mas se nem meus pais estão me dando esse aperto, não tem porquê o senhor dar. Fica suave que o dia que eu precisar de conselho, meto a cara lá no psicólogo. - Ergue uma mão na direção dele, mandando acalmar. Tava já preparando o ouvido pro tanto que ele ia esculachar agora.

V2: Qual foi, Heitor? Tô ficando pra buceta mermo, né. Já adianto que se proceder com essa caminhada, ninguém coloca mais o pé na boca. Vai dar tiro com água, porque da minha bala não usufrui. - Diz em voz alta, quase gritando no ouvido dele.

Pt: Melhor pra nós, já tava querendo pegar umas férias mesmo. - Dou de ombros e me sento, porém minha mãe me dá uma taluda na cabeça.

IG: É bom que me poupa de trabalhar. - Meu avô olhava pra nós três com o maior desgosto estampado no semblante. A gente fala as paradas na hora do ódio, essa porra fode nossa vida. Quando vamos ver, já saiu até o que não era pra sair.

Guardo essas paradas comigo, e no fundo, meus maiores medos ficam presos no peito e na mente. Multiplico-os por raiva do estado. Tudo que era para eu extravasar se transforma em sede de vingança. Vingança da nossa vida aqui ser injusta, vingança da maioria dos moradores ter que se contentar em viver nas misérias das favelas porque sabe que lá fora não vão ter voz.

Nós somos a voz deles, pô. Cada menor que anda trepado, que é julgado como bandido e criminoso, cada um de nós só quer o bem da criançada, a prosperidade e melhoria dos becos e vielas.

Não vivo para o amor, eu vivo pelo ódio!!

E esse velhote tá ligado que ele é uma das pessoas mais importantes na minha vida, só não sei como demonstrar. Se fosse a raiva, já teria saído pra fora, mas como é o amor, ele fica encadeado...

Artilheiro: Vou querer tudo que me tiraram de volta. Se eu soubesse, nem teria vindo. Sair da minha casa pra ser roubado pela própria família é ossada. - Visivelmente irritado, ele aponta agressivamente para mim, desafiando minha paciência. Ergo os olhos quando seu corpo para na minha frente, logo me levanto, colando peito no peito, olhando de igual para igual nos olhos dele.

Safira: O maior absurdo! Querer ter dinheiro às custas dos outros. - Diz em voz baixa, coagida. Mano IG deu só uma encarada sinistra que a novinha logo fechou a boca.

Artilheiro: Trabalhar ganhou outro nome agora. - Fala ainda se mantendo fixo em mim. O IG e Holandês se aproximam, também encarando ele sério.

No Alemão 3 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora