CAPÍTULO 14

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Jorge

Antes...

Meu pai me disse uma vez, que eu, por ser o seu filho, só deveria temer uma única coisa na vida.
Mulheres. Ter medo no sentido de correr, fugir, nadar o mais rápido possível para longe, sobreviver para contar uma história, porque uma fêmea do mar, era como um tsunami que te engolia e te jogava contra a parede do precipício.

A minha parede era o chão de areia da praia, a onda raivosa as mãos da tubaroa fêmea, ela estava me esganando assim desde a hora que me viu junto do seu marido na orla, e estava estragasando sua raiva de mim.

— Como você pode fazer o Shark ir depor num tribunal? Você por um acaso não pensou na minha situação!? — Me estapeou de novo e eu continuei de olhos fechados, sentindo minha pele queimar rápido no sol. — Você é uma pessoa horrível!

— Não foi culpa minha...

— E foi culpa de quem, seu traste!? — Berrou nos meus ouvidos.

— A Sena... Eu nem queria levar essa sardinha comigo, ele nem serviu de muita ajuda.

— Como assim eu não servi de muita ajuda? — Shark retrucou indignado. — Quem foi que achou sua fêmea? Quem foi que arrastou você até o barco? Quem montou todo o resgate das belugas? Quem teve que passar horas depondo num tribunal para limpar a sua barra, exaltando o seu heroísmo e outras baboseiras? — Chutou areia em mim.

— Foi você. — Fui cara lisa. — Foi você, eu não sabia o que seria de mim sem você.

Eu só peguei trinta anos de trabalho comunitário, além de ter sido forçado a cuidar de todas as belugas que resgatei e abrir uma corporação que tivesse algum envolvimento com o concelho. Meu posto de concelheiro já era, não me consideravam mais um pacifista como antes, agora eu sentava na mesma posição que o líder da CAT-corp, era os que eles chamavam de cúpula de estratégia anti gerra, me tornei um pacifista de campo, não mais de  cadeira.

O que era um droga, eu espera ser expulso de uma vez, não mudar de cargo. Ficou ainda pior porque o Pavlov fez toda uma propaganda de mim, e meus irmãos entraram em contato com uma petição para me que me concedessem o posto de líder temporário.

Será que só poderiam me deixar em paz?

Eu esperei setenta anos pela minha fêmea, agora nem poderia curtir ela direito por causa desses intrometidos de merda!

— Eu deveria fazer sushi de você! — A fêmea irritada me beliscou de novo, e ao invés de choramingar eu ri. — Tá rindo da minha cara, seu pedaço de estrume?

— Não, jamais, minha senhora tubaronesa! Jamais ousaria! — Fechei o bico, com medo de apanhar de novo. — Eu só queria... Pedir um favor.

— Mas como é cara lisa... — Quase rosnou pra mim. — Os alfas disseram que você está proibido de entrar na reserva, acho melhor ir embora.

— Mas o favor não é para mim. — Juntei as mãos em súplica, querendo que parasse de me fazer ficar ajoelhado no milho, isso era tortura.

O Shark também estava de castigo, o que era bem pior pra ele, já que ficaria sem cheirar a morena valente por uns dias.  Meus pêsames pelo seu pau.

— Não interessa para quem seja, você não pode cruzar dessa linha, você tem noção do quão louca eu fiquei? A sorte é que o Carlos tinha hakeado o seu celular e teve acesso as câmeras de segurança do prédio que vocês invadiram! Eu pensei de infartar! — Esbravejou.

— Eu já pedi perdão, mas a culpa é o tubarão também, você sabe disso. Eu queria ter colocado ele num voo de volta, ele quem insistiu para ir comigo. — Tentei me safar.

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