Capital

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A Capital é muito diferente do que Isaac pensou que seria. É particularmente tudo muito cinza. Muitos prédios, muita fumaça. Apesar da tecnologia avançada, é triste, mesmo os telões televisionando anúncios e propagandas, são todos em tons cinza, preto e branco. No máximo, há um pouco de azul ali e aqui. Mas no geral, é cinza.

Mesmo nos jardins das casas dos ricos, a grama não é verde e vívida como na floresta do distrito 12, ou como no gramado de sua casa. Isaac nunca achou que diria isso, mas ele meio que sente falta dos tons de cores terrosas que dominam o seu distrito. Ao menos lá, Isaac não sente que todo e qualquer cidadão está doente.

A realidade triste? É que é muito mais fácil ficar doente nos distritos. No 12, então, a morte é quase um apelo, uma caridade. A pobreza no distrito 12 é tão profunda e miserável que, quando criança, Isaac já comeu cola apenas para saciar a fome e fazer seu estômago parar de roncar.

Contudo, Isaac não consegue deixar de relacionar essa Capital triste à doença. Talvez essas pessoas não estejam morrendo devido à peste ou à miséria, mas elas com certeza estão doentes emocionalmente. Presas nesse mundo que criaram para si, onde assistem e se divertem com crianças se matando. Elas vestem roupas extravagantes e coloridas mesmo em ruas frias e sem vida, tentando apagar o vazio que sentem no peito.

— Essa é a melhor torta de limão do mundo — Ryan diz, empurrando um prato de torta verde na direção de Isaac com um olhar de quem diz coma, ou eu te mato. Isaac sabe que ele está tentando não ser hostil, porque é um momento sensível para todos eles, e é por isso que ele precisa segurar a língua para não fazer uma piada.

Você não precisa me matar, eu mesmo estou a caminho de fazer isso.

Mas isso não teria graça, visto que eles ainda nem entraram no tópico: O que fazer agora que estou entrando em um ninho de cobras? Jeremy está presente aqui, também, juntamente da garota ceifadora que chamou os seus nomes, e eles não podem de forma alguma ouvir o que Isaac tem a dizer. Assim que sua tia e seu irmão foram arrastados para fora, Isaac foi enviado para o vagão principal; onde uma mesa posta e farta de comida os esperava.

Jeremy já estava presente, com o nariz vermelho e as mãos suadas. Assim como Ryan, que não olhou para ninguém nos olhos e se manteve surpreendentemente quieto. A ceifadora chegou depois de Isaac, e tem oferecido conforto e palavras gentis desde então. Isaac gosta dela, mesmo sabendo que ele não deveria. Ela parece menos doente e triste do que o restante das pessoas que Isaac viu na televisão ou nas ruas da Capital desde que chegaram.

— Eu vou provar — Isaac diz, em partes porque ele não comeu nada desde o café da manhã e já se passam das quatro da tarde, e em partes porque Jeremy não moveu um único músculo que dê a entender que ele vai comer, então Isaac está preso nessa missão também. — Hummmmm, isso está maravilhoso. Jimmy, experimenta!

Ele levanta uma colher recheada de torta na direção do rosto de Jeremy. Jeremy esse que, assim como esperado, não esboça reação alguma para ele. Isaac balança a colher na sua direção, como se estivesse prestes a encenar um aviãozinho, e Jeremy finalmente cede.

Do outro lado da mesa, as sobrancelhas de Ryan se levantam. Isaac sabe exatamente o que ele está pensando.

Por favor, não diga mais nada. Isaac mentalmente implora.

— Nós estamos chegando no prédio principal, então eu recomendo que vocês comam bem. Serão longas horas de maquiagem e depilação, e apesar de vocês estarem indo para uma festa, os aperitivos de lá não são tão gostosos quanto os daqui. Eu fiz questão de fazer eu mesma! — A ceifadora, bem disposta, tagarela.

— Hillary — Ryan diz, ele parece conhecer bem ela, pois lança o mesmo olhar estressado que ele envia a Isaac quando está se irritando com ele. Isaac conhece esse olhar de cor. Ryan provavelmente trabalha com Hillary desde que ele se ofereceu como mentor, há dois anos. — Eles estão acostumados a comer bolo com gosto de terra, qualquer coisa está bem para eles.

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