Pesadelos

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Demora um pouco para Isaac despertar. De acordo com a localização do sol, Jeremy imagina que já tenha se passado do meio dia quando isso ocorre. Isaac abre os olhos lentamente, piscando duas, três vezes antes de finalmente se adaptar ao ambiente.

Jeremy está apenas alguns passos de distância, de pé com as mãos rígidas ao lado do corpo como ele esteve basicamente a noite e a manhã inteira. Ficar sentado com suas costas apoiadas no tronco de uma árvore fez com que, em determinado ponto, Jeremy começasse a sentir dor – mais do que ele já sente em todos os seus machucados –, então ele optou por se esticar.

Ele não saiu para investigar os arredores, porque isso significaria deixar Isaac dormindo sozinho, então tudo o que Jeremy fez foi assistir Isaac dormir por cerca de doze horas consecutivas.

Surpreendentemente, isso não o deixou entediado.

Merda — Isaac murmura, seus olhos pairando na direção de Jeremy e se fechando novamente. Isaac coloca o braço que ele sabe que pode movimentar sem sentir grandes espasmos por cima do rosto, quase como se pudesse dessa forma se esconder também da vida.

Jeremy queria que fosse simples assim.

— Sim — Jeremy diz categoricamente, seus ombros caindo com a visão de um Isaac ainda muito desanimado enquanto se levanta. — Como você está?

Isaac suporta olhá-lo por alguns instantes, depois desvia os olhos, aparentemente chateado. Isaac é muitas coisas, mas nunca cauteloso. Ele é tão sutil quanto uma granada. Então, por que ele está se afastando de Jeremy agora? Racionalmente, Jeremy sabe ou ao menos suspeita da verdade, ele não é estúpido, não tinha como Isaac reagir normalmente ao fato de que Jeremy matou uma pessoa na tarde anterior, mas ainda assim... É doloroso. Faz com que Jeremy queira que todas as suas articulações se partam apenas para o distrair da dor incisiva que há em seu coração.

Após alguns segundos de consideração, Isaac responde:

— Estar morto seria mais fácil do que isso.

Jeremy não esperava que Isaac acordasse de bem com a vida novamente, nem que ele melhorasse de uma hora para a outra. Ao menos, ele não sabia que esperava por isso até que o oposto tenha acontecido. Jeremy sabe que está indiretamente pondo muita expectativa, é muita pressão sobre os ombros de Isaac, que não tem o menor poder de mudar as coisas. Mas Isaac sempre esteve bem, mesmo quando o mundo parecia desabar para Jeremy, Isaac ainda se permitiu ser segurança, é muito decepcionante que ele não consiga manter as coisas boas mesmo dentro das péssimas circunstâncias de agora, Jeremy está irremediavelmente decepcionado e triste.

Como se pudesse ouvir os seus pensamentos, Isaac estica as costas como um gato, seus ossos estalando, e então se permite uma careta porque movimentar o seu ombro em carne viva agora é provavelmente uma das coisas mais dolorosas do mundo a se fazer. A pomada que Ryan lhes enviou fora bastante útil, aliviou quase toda a dor na hora e também começou a cicatrizar seus machucados mil vezes mais rápido, mas ainda não foi o bastante.

Foi bem menos do que isso, na verdade, a pomada era pouca, e como Isaac é quem é, ele se recusou a fazer uso dela sozinho, mesmo sendo visivelmente o mais debilitado. Jeremy então passou a pomada na própria mão, que não lhe provoca mais dor, e na perna, que ainda está ruim, mas é tolerável. Ele estaria mentindo se dissesse que a experiência de parar de sentir dor não foi mágica, porque foi. Ele nunca havia experimentado nada do tipo antes. A Capital fabrica coisas bizarramente úteis e quase mágicas às vezes, e Jeremy não tinha ideia de que elas poderiam existir até sair do seu distrito.

— Sua vez — Isaac diz. Jeremy olha para ele confuso. — Agora você dorme e eu fico de guarda. Vem.

— Acho que são tipo —, Jeremy encara o céu, ele não tem ideia de que horas são. — Duas da tarde?

the hunger gamesOnde histórias criam vida. Descubra agora