Não Olhe Para Cima

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— Isso está começando a me preocupar, ele já deveria ter aparecido! — Maxine diz enquanto afasta um galho da frente do próprio rosto e marcha ao lado de Nicholas.

Mais um canhão soou durante as duas últimas horas. Desde então, Nicholas tem se mostrado desolado e aflito. Se Maxine não tivesse proposto que todos eles fossem procurar por Romeo juntos, que é o que eles estão fazendo agora, Nicholas com toda certeza teria o feito sozinho.

Jeremy está plenamente ciente dos riscos que eles estão correndo ao se exporem dessa forma — eles podem ser atacados, Romeo pode ter se juntado aos carreiristas ou entrado numa briga e perdido... As probabilidades são múltiplas, mas Jeremy sabe que, na maioria delas, ele e seu grupo de aliados vão acabar saindo prejudicados. A arena é enorme, pode ser que eles não dêem de cara com ninguém, mas Jeremy não acha que eles possuam tamanha sorte.

E, ainda assim, ninguém demonstrou relutância quando Maxine sugeriu que eles fossem atrás de Romeo.

No fundo, Jeremy tem certeza de que estão todos se pendurando naquela pequena e instável linha segura que eles projetaram para si. É o segundo dia, eles não têm certeza de nada, apenas que estão do mesmo lado até onde for possível e isso lhes garante uma espécie de segurança. É meio impulsivo e ao mesmo tempo esperançoso ir atrás de Romeo só porque ele é um aliado, um amigo, mesmo sabendo que os riscos dessa decisão podem ser maiores do que os benefícios. Jeremy acredita que isso se deva ao fato de que estão todos eles pensando com o emocional, ignorando a guerra onde estão inseridos.

Atrás de Maxine, Isaac pisca, totalmente disperso.

Jeremy consegue ver, de acordo com a sua linguagem corporal, que Isaac está exausto. Infelizmente, Jeremy não pode fazer nada quanto a isso. Ele até gostaria de fazer como Isaac fez na última noite e deixá-lo dormir no seu lugar enquanto Jeremy cuida dele, mas ambos estão enfrentando essa caminhada bruta. Ainda está longe de escurecer e ninguém do grupo pode parar agora.

— Ei, vocês ouviram isso? — Nicholas pergunta, finalmente dizendo alguma coisa após horas e mais horas em repleto luto. Jeremy tinha até mesmo esquecido que ele podia falar.

Sua voz é ligeira e áspera, Jeremy mal consegue racionar o que ele quis dizer. Mas então Nicholas põe um dedo contra os próprios lábios em um sinal universal de silêncio e para de caminhar. Ele posiciona uma flecha em seu arco como quem sabe muito bem o que está fazendo e aponta para todos os lados.

Na sua esquerda, Jeremy pode ver, Isaac faz o mesmo movimento com o próprio machado. Os nós de seus dedos ficam esbranquiçados com tamanha força que Isaac tem posto ao cabo. Ele o segura bem com as duas mãos como se um maldito raio laser pudesse se projetar através dele e Isaac não precisasse fazer nada além de apontar.

Enquanto isso, tanto Jeremy, quanto Maxine, permanecem desarmados.

O barulho que Nicholas havia mencionado anteriormente se repete, e desta vez todos prestam a devida atenção. Tratam-se de conversas, sussurros. Jeremy é o primeiro a notar que eles vêm do topo.

Ninguém nunca pensa em olhar para cima, foi o que Love Ceridwen dissera em uma de suas entrevistas quando lhe perguntaram porquê ela havia ganho. Ela passara todo o seu tempo nos Jogos Vorazes em cima de uma árvore se alimentando do casco, das plantas e dos passarinhos que ela matara com um estilingue improvisado, somente descendo para bebericar água num riacho próximo. Foi uma estratégia perfeita, apesar de ninguém da Capital ou mesmo dos distritos ter posto muita fé nela na época, Jeremy sempre soube que ela iria ganhar.

E, no fim das contas, Love estava certa. Mesmo agora, ninguém além de Jeremy mira os olhos para cima. É angustiante.

Jeremy é o primeiro a ver as duas pequenas silhuetas acima de suas cabeças. No topo de uma árvore enorme mas com galhos grandes e fortes que tornam fácil a escalada, os dois indivíduos não carregam arma alguma, e Jeremy demora alguns instantes para se lembrar de seus nomes até se dar conta de que são Louis e Ginny.

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