Dia de Entrevistas

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As entrevistas são ainda mais desgastantes do que todo o restante do processo.

Isaac nunca se importou muito com a opinião alheia, em especial porque ele nunca teve muito com o quê se importar – todo mundo sempre gostou dele por ser quem ele é, e para Isaac ter amigos sem precisar fingir nada bastava. Agora, no entanto, Isaac não pode ser ele mesmo, ele tem que ser tudo, exceto ele mesmo. Se ele for ele mesmo, ele vai reclamar da Capital e da sua situação atual em rede nacional, e não é isso o que os patrocinadores querem. Isaac precisa ser uma versão falsa e feliz de si mesmo para que a Capital o idolatre a qualquer custo. É a única maneira de assegurar qualquer coisa na arena.

Mas ser feliz... Na situação atual, isso lhe rende um esforço danado.

Ainda bem que Savannah está aqui com ele. Sendo bem sincero, Isaac gostaria que fosse Ryan quem estivesse o acompanhando antes de entrar no palco, mas Ryan parece o estar evitando por algum motivo bizarro. Ele se agarrou a uma garota loura – que Isaac imagina que se trate de outra mentora – e sumiu para junto da plateia, deixando Isaac e Savannah por conta própria. Às vezes, o que dura apenas alguns segundos mas trata-se ainda assim de um sentimento muito real, Isaac o odeia.

— Você se lembra do que treinamos? — Savannah pergunta, ela checa o colarinho de Isaac para ver se o dispositivo em seu terno ainda está funcionando. Honestamente, Isaac só viu esse terno funcionar longe do seu corpo, então ele está com um pouco de medo de como vai ser estar dentro dele.

— O fogo simboliza o meu distrito, mas também simboliza a mim mesmo. Vou ser o fogo que se espalha na arena, blá, blá, blá... — Isaac repete o que leu em seu roteiro, sem nenhum pingo de entusiasmo na voz.

— Você parece morto — Savannah faz uma careta, saindo de trás dele.

— Estou guardando a falsidade para o palco — Isaac olha para o seu entorno. Todos os demais tributos já se apresentaram e, conforme foram deixando o palco, saíram dos bastidores também. — Você viu o Jeremy?

Savannah suspira e diz closet como quem murmura merda após ter tropeçado. Ela segura o rosto de Isaac com as duas mãos para que ele pare de se afobar e esticar o pescoço para olhar para os lados. Assim que ela faz isso, os olhos dele encaram os piercings dela.

Savannah se adaptou bem à Capital no quesito moda, Isaac pode dizer. Em partes ele imagina que seja porque ela já se vestia exageradamente desde o distrito 4. Ela usa um vestido totalmente reciclável e orgânico agora, com falsas folhas de salgueiro ao redor do pescoço e maquiagem verde combinando. Seu cabelo ruivo e cacheado está erguido em um coque, onde diversas flores espetam seus cachos. Na sua cara, diversos piercings espetam a sua pele – os lábios, uma das bochechas, o nariz e uma das sobrancelhas. Ela é meio demais.

Antes que Savannah consiga dizer algo, a entrevista que está acontecendo com o último tributo do distrito 11 agora lhes chama atenção. Ela está sendo transmitida na pequena televisão que os tributos partilham nos bastidores, e tanto Isaac, quanto Savannah, se aproximam dela para escutar melhor. Parece que Maxine Anders está provocando uma confusão.

Isaac não sabe o nome da maioria dos tributos. Ele imagina que uma parte do seu cérebro esteja se recusando a dar nomes a todos esses rostos em prol da sua saúde mental. Nomeá-las humaniza ainda mais as pessoas, e Isaac pela primeira vez em vida está evitando pensar nisso. Mas ele sabe o nome de Maxine Anders.

São vinte e dois concorrentes contra ele e Jeremy, e Isaac só conseguiu conversar com a metade deles até então. Maxine não está inclusa nessa lista, porque eles não trocaram nenhuma palavra ainda, mas Isaac sabe o seu nome ainda assim porque ela vem antes dele nas entrevistas. Isaac descobriu isso porque foi a mesma coisa durante as avaliações. Ah, as avaliações. Isaac não gosta nem mesmo de se lembrar como foi. Tanto ele quanto Jeremy saíram-se consideravelmente ruins nelas.

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