Acusada

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Faltava apenas uma semana para o meu casamento e essa palavra ainda me dava calafrios.

Casamento.

Minha perna estremecia toda vez que eu ouvia esse nome. Principalmente vindo de Nop ou Song, que faziam tudo parecer tão... permanente. Apesar de eu saber muito bem que o divórcio estava ai para qualquer mudança de opinião.

Pousei minha xícara de café no muro da minha cozinha e suspirei.

Eu nem me casei ainda e já tô pensando em divórcio, oh Deus.

Peguei minha xícara e andei vagarosamente até a poltrona em minha sala. Durante esses tempos turbulentos, tinha até me esquecido do quanto eu gostava daquela poltrona. Eu tinha viajado até Washita-Oklahoma-ea comprado de uma senhora chamada Tamika Fletcher, que ganhara de seu filho, Gregory Fletcher, o homem que fingira ser o melhor amigo de meu pai, que tinha secretamente sido infiltrado pela mafia de Chankimha. Fiquei sabendo que ele fora o único que ficou com as chaves da casa de meu pai, pois meu pai havia deixado a casa para ele, caso seus filhos não pudessem ou não quisessem ficar com o patrimônio. Como eu não quis aquela casa para mim, ela passara diretamente para Gregory.

Desde que meus pais morreram, fiquei sabendo que Gregory nunca mais conseguiu ser o mesmo em seu departamento, em Nova York. Não conseguiu trabalhar direito durante semanas, então seu superior deu-lhe férias de três semanas, porém, Greg nunca mais havia voltado, Soube que ele havia se isolado na Malásia, cidade vizinha de Bangkok, onde morávamos, e aberto uma barbearia, mas eu nunca conseguira comprovar se a informação era veridica. Também, nunca tive curiosidade para visitá-lo, eu não queria ter contato com aquele "antigo eu", e ver Gregory, iria fazer os pensamentos sobre meus pais e meu irmão voltarem como um bombardeio. Pela foto em um dos balcões da estreita sala de Tamika, Gregory havia se descuidado. O homem que costumava ser alto, forte e bonito, tinha ganhado algumas rugas, e, seus cabelos negros, agora eram compostos por muitos fios grisalhos, que acabaram com a sua grande fama de conquistador.

Enquanto batia as unhas na xicara, em um gesto típico, pensei sobre o que iria acontecer em uma semana.

Em cima da minha mesinha de centro, tinham um bando de papéis. Alguns catálogos com amostras de cores, outros com amostras de flores, amostras de convites, e, o pior de todos, o com amostras de tecidos para o vestido branco que eu usaria. A minha ficha ainda não havia caído totalmente, por esse motivo eu ainda não tinha sequer decidido como diabos iria ser meu vestido. A cerimônia seria em uma igreja local, com poucas pessoas. Os pais de Nop. Os amigos de Nop. Os colegas de trabalho de Nop. E, de minha parte, apenas Song. Apesar da minha total falta de socialismo, eu sabia que a festa pós-casamento iria estar lotada. Eu sabia que todos dariam qualquer coisa para assistir o casamento da delegada Armstrong com o advogado Nop, o mais bem renomado do estado.

Pousei a xícara em um espacinho vago na montanha de amostras e papéis variados e observei a bagunça. Puxei um panfleto intitulado: Venha passar sua lua-de-mel nas
praias de Cancún, México, onde seus maiores desejos tornam-se realidade.

Ah, meu bem, creio que meu maior desejo você não poderá realizar nunca, querida Cancún. Olhei para o meu relógio de pulso.

Marcavam oito e meia da noite. Eu já estava começando a me acostumar com minha vidinha ridiculamente rotineira. Nunca fazia realmente algo de interessante ou arriscado. Tirando que, desde que Sam chegara na Inglaterra, alguns bandidos começaram a aparecer por aí também. Porém, eu os pegava na maioria das vezes.Amadores, pensava eu, toda vez que pegava um deles.

Nenhum deles oferecia nenhum risco real. Só roubavam o banco da cidade, ou até mesmo os mercados, levando quantias em dinheiro que não passavam de quinhentos reais.

Entre o Certo e o Errado (Versão MonSam)Onde histórias criam vida. Descubra agora