CAPÍTULO 2

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LÍVIA

   A semana passou de pressa, Carlão me deu uma semana para arrumar a grana, 2mil reais de drogas, pegando uma boca aqui, outra boca ali, sempre mais de 100 reais.

  Passei a semana pedindo dinheiro na rua, fui para os ônibus dizendo até passar necessidade com filhos para vê se alguém me ajudava, os trocados que eu consegui usei novamente.

  Encaro a rua onde passava alguns carros, é horário de escola e as crianças passam sempre olhando curiosas, os pais nos olham com desdenho, nojo, mas eu não julgo, alguns dos caras aqui, roubam sempre que necessário, outros dão crise de abstinência e até agridem as pessoas, eu inclusive já deu uma crise dessas.

  Eu fui uma criança bem estudiosa, acordava cedo, tirava ótimas notas, meus pais sorriam e esbanjavam  orgulho, até eu começar a dar desgosto.

   Encaro os pacotes que estão na minha mão, eu queria sair daqui, queria largar toda essa merda, queria voltar para os meus pais, que eu tanto amei a minha vida toda, mas hoje isso aqui é meu único lar, é a minha casa, eu não tenho ninguém, só essas pessoas que são fudidas assim como eu.

  Jogo um pouco do pó branco no papelão, pego o canudo que fiz com uma folha de jornal e posiciono no nariz, inspiro todo o pó que ali tinha, sinto subir gradativamente para meu cérebro, me fazendo sentir a adrenalina encher meu corpo.

   A noite eu já tinha usado toda aquela quantidade de droga, meus olhos não fecham, meu corpo está travado e eu vejo tudo passando em câmera lenta, sinto um formigamento subir as minhas pernas, uma câimbra, não sei ao certo.

Minha língua está dormente, meu coração acelerado que eu posso sentir o peito estufar, ao está errado, os efeitos estão diferentes, tudo está passando em câmera lenta.

Silvinha: Li? Lili? - fala e eu ouço tudo pausadamente.- você tá bem?- me olha preocupada.

Mexo a cabeça em tentando dizer que Não, eu não estou bem, sinto minha garganta fechar, e o ar está me faltando.

Ela parece gritar por socorro, o meninos que moram na rua se aproximam, as pessoas que andam pra ali, olham , mas nem se importam.

Lelê: acha alguém, alguém pede uma ambulância, ela tá tendo uma overdose.- diz e no meu ouvido chega lentamente.

Uma overdose, chegou a minha hora, vivi pouco tempo na terra e agora Deus resolveu me recolher, melhr que pela mão de bandidos.

Não é uma morte digna, não queria viver mais assim, e Deus sabia disso, ele conhece meu coração.

Meu olhos fecham devagar e aos poucos tudo o que eu vejo é o escuro.

(...)

Redobro minha consciência tentando abrir os meus olhos, encaro o teto branco e a luz forte invade minha vista, onde eu estou? Um hospital? Mexo minha cabeça e não vejo ninguém.

Lívia: Água..- falo fraco.

Xxx: oi, vou chamar uma enfermeira.- a voz feminina diz quando entra no meu campo de visão. Nunca tinha visto ela, uma morena bonita, aparentemente nova, vestida com roupas casuais, não parecia trabalhar aqui.

Enfermeira: olá, seu nome é Lívia correto?- assinto.- você foi socorrida e te trouxeram para cá, a moça que estava com você disse que esse era o seu nome, por pouco você não está morta. - fala tudo de uma vez.- e sua família, você não tem ninguém?- nego e ela assente.- te mediquei e fiz um procedimento para limpar seu organismo, logo terá alta.- fala e eu assinto.

Xxx: mas ela vai voltar para a rua?- me olha e depois olha para a mulher.

Enfermeira: infelizmente sim, não podemos mante-la aqui.- a menina me olha com pena e pega o celular que toca.

Xxx: oi, ela está bem, sim, vai ter alta logo, sim, vou te esperar, ok.- fala tudo e nós a encaramos.

A enfermeira logo saiu e eu envergonhada fiquei com a menina no quarto.

Xxx: bom Lívia meu nome é Camile, meu irmão te socorreu, como não podia ser acompanhada por um homem, ele pediu que eu ficasse pra da notícias.- assinto.

Lívia: obrigada.- falo envergonhada.

Camile: ele logo chega aqui, pode agradecer a ele.- diz e logo a porta se abre. Por ela primeiro passa o Carlão e logo o homem com cara de índio do outro dia, me assusto me tremendo e começo me debater.

Lívia: não me matem, não me matem, eu vou pagar eu juro vou pagar. - a enfermeira entra apressada e começa a tentar me acalmar, eles saem da sala e eu acabo adormecendo.

(...)

Abro os olhos me olha do Intera, aparentemente está tudo aqui.

Olho para o lado e quem está ali é o índio.

Xxx: oi, calma aí, tá tudo bem, eu que te socorri ontem, sou irmão da Camile e dono do morro do alemão.- fala pausadamente.

O encaro desconfiada e olho as outras partes do quarto.

Xxx: eu não vou fazer nada contigo, ou eu te deixaria morrer lá mesmo.- fala calmo.

Camile: perigo?- encaro o rapaz.- tudo bem aí?- ele assente.- o médico já assinou a alta, vou levar ela para o morro.- ele assente.- eu quero te ajudar, no morro tem uma ong, Mas eu só posso te ajudar se você quiser ajuda.- fala.

Perigo: eu vou esquecer sua dívida, mas quero você longe de drogas, o morro está proibido de te vender, entendeu?- diz sério.

Logo estávamos indo para o morro do alemão, passei pelo viaduto e senti vergonha, encaro aquele lugar que por algum tempo foi meu lar, as pessoas estavam novamente nos seus cantos usando drogas como de costume.

Eu preciso me livrar disso.

Encaro minha mãos mexendo nelas com vergonha, o carro anda e nós três em silêncio, o tal Carlão eu não vi mais.

(...)

Camile: Você pode ficar nesse quarto, tem coberta no armário, o banheiro tem toalha, vou pegar algumas roupas, talvez alguns vestidos te sirvam, short cairia em você.- diz me analisando.

Ela sai e eu vou até o espelho, encaro meu reflexo e vejo meu corpo magro, meu cabelo sujo e mal cuidado, meus dentes encardidos, eu não tinha nenhum traço de vida, me faltava um brilho, talvez amor por mim mesma.

Camile: aqui está, põe umas roupas dobradas na cama, toma um banho, se quiser ajuda é só me chamar.- assinto e ela sai me deixando a sós.

Vou ao banheiro e entro na água morna, relaxo minha cabeça tentando esquecer tudo isso, lágrimas escorrem no meu rosto, Deus me deu uma nova chance, e eu preciso mudar isso, eu preciso me reestabelecer.

Lavo meus cabelos com os shampoo que está ali, a sujeira é evidente descendo pela água, logo passo o condicionador, tendo desembaraçar com a escova que tem ali, me passo o sabonete por todo o corto e é como se eu estivesse mais leve.

Prendo o cabelo em um coque e me enrolo na toalha, saio do banho e vou para o quarto me vestir.

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