A Viúva e o Trigo 3.2

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Mais um dia o sol nasceu. Mais um dia minha mão vagou para debaixo da coxa. A cicatriz estava ali, e ficava mais feia, mais flácida a cada dia tornando uma imagem mais grotesca.

- Não é hora de pensar sobre isso. – Disse a mim mesma, afinal hoje era o dia de mandar Sherley embora, o dia que afastaria a pessoa que mais confiava para proteger meu orgulho, minha ilusão.

Para não entrar em brigas desnecessárias, para não ouvir sua sabedoria. Eu não conseguia tirar esse peso do coração, nem sabia como encará-la. O que podia fazer era ficar diante dela com um rosto falso, e após um abraço ainda mais hipócrita, vomitar palavras doces e insinceras.

- Sentirei sua falta.

A mulher baixa, de cabelos castanhos e olhos de igual cor me encarou. Ela estava em um dilema, podia ver em toda sua figura, desejava partir, mas não suportava me abandonar, que pessoa admirável.

- Minha senhora, é apenas uma gripe, como posso deixá-la em uma situação dessa?

- Sherley, há anos que você e sua família vem servido essa casa, se não posso apoiar a mulher mais importante para mim quando sua própria casa está passando problemas? – Mostrei minha preocupação enquanto minha mão apoiava sobre seu ombro.

- Minha senhora... – Ela ainda não parecia convencida, quando seus olhos redondos pousaram sobre mim senti sua genuína preocupação, o que me fez sentir ainda pior.

- Sherley, aqui está tudo uma bagunça, não quero sobrecarregá-la. Vai lá, cuide de seu filho, reveja o seu marido e descanse. Quando voltar precisarei de toda a sua energia e dedicação para me ajudar.

Ela pareceu concordar com um abraço. Seu corpo pequeno e rechonchudo se envolveu com o meu enquanto ela acariciava minhas costas.

- Senhora, por favor, fique bem. Assim como tudo ficará bem. – O calor maternal da moça me atingiu e a abracei mais forte.

Vi sua carruagem a levá-la para longe após a despedida, deixando-me sozinha. Eu tinha feito isso. Eu realmente fiz. Suspirei vendo minha única amiga desaparecer no horizonte. Mas não por muito tempo, pois logo sorri ao ver uma outra carruagem guiada por dois cavalos chegando.

Ele estava aqui.


*


- Vê... O preço do queijo de cabra vem subindo na costa oeste devido ao verão escaldante que assolou a região por mais tempo que o planejado. Se conseguir um carregamento bom, pode conseguir comercializar a preços mais alto, mesmo com o preço do transporte. – Drake declarou andando sobre os trocos da floresta.

Agarrei minhas vestimentas trazendo mais para o meu peito. A temperatura e umidade naquele local aumentava conforme o outono avançava.

- E os trigos, não acho que produtos animais serão suficiente?

- Hum... – Ele ponderou. Pulou de cima do tronco ficando frente a frente comigo. – Tem medo de que a colheita... – Ele especulou certeiramente.

- Não, apenas queria saber como posso melhorar os ganhos da minha propriedade. – Ele não pareceu acreditar, seus olhos cravaram em todo meu corpo antes de esboçar um sorriso.

- Por que não troca por especarias? – Ele retornou a caminhar de costas com atenção total sobre mim.

- Especiarias?

- Isso, com a exploração do Novo Mundo, o mercado naval está cada vez mais fortalecido. Ouvi falar que no pais das especiarias a temperatura é alta o ano todo o que dificulta a produção de trigo, você podia trocar o trigo por especiarias e vender para regiões mais ao norte e inacessíveis por preços mais altos. Há muitos nobres nessas regiões que estariam dispostos a pagar uma alta quantia por esse suprimento.

PARA ELA: ABERTURAOnde histórias criam vida. Descubra agora