A Viúva e o Trigo 2.2

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- Já chegou na letra Z? – Falei encarando-a, abismado. Há quanto tempo ela tinha começado aprender para avançar meio alfabeto de um dia para o outro?

- Sim. – Ela concordou tão naturalmente que me senti injustiçado. Todas minhas horas de estudo foi batido em quantas semanas? E seus avanços do dia para o outro? Fiquei tentado em lançar perguntas seguidas de curiosidade, mas engoli a observando de perto. – O que foi? – Ela se afastou nervosa.

- A senhora realmente é extraordinária. – Em vez de questionar, decidi elogiar com toda minha sinceridade.

- Eu... Não fiz nada demais. – Passou a mão na nuca desconfortável. – Acho que tive um bom professor. – Lançou um olhar lateral com um sorriso meigo.

Encaramos um tempo antes de cair na risada. Assumi minha postura mais ereta sentindo meu coração correr. Havia algo bobo nesse clima, as provocações, supressas, até um elogio. E mesmo quando não tinha nada, nossos olhos se encontravam e riamos sem motivo.

Durante a tarde, a ajudei com as silabas especiais, como "wh" em seu sobrenome ou com "dr" no meu. Indo das mais simples "cl", "cr" para as mais complexas como "lrd". Foi divertido relaxante, principalmente quando nós perdermos do foco e brincamos com as letras.

- O que a senhora escreveu? – Perguntei tentando espiar a folha de papel que a senhora Wheat escondia com seu corpo delicado.

- Segredo. – Riu, satisfeita consigo mesma. – Quer saber? – Vi meu reflexo em seus olhos azuis, sua voz provocadora e sussurrante arrepiava minha pele quando ela se aproximava mais e mais implicando com meu coração.

Assenti com minha cabeça, o que incentivou ainda mais seu suspense. Ela retornou sobre a folha escrevendo, dessa vez ainda mais devagar. Minha curiosidade me matava, olhei para minha folha tendo uma ideia, uma maneira de devolver o troco.

- Terminei. – Declarou confiante. Eu respondi com um "eu também" liberando uma faísca de desafio no ar. – Me mostre então.

- Primeiro as damas. – Devolvi sua postura altiva com um sorriso ardiloso.

- Hmpf. – Ela bufou insatisfeita, mesmo assim colocou na mesa a folha de papel.

"Alegrake". Pisquei tentando entender essa estranha mistura de palavras, "alegre" mais "ake"? "Rake"?

-...! – Um lampejo de compreensão me atingiu.

- É "alegre" mais "Drake", "alegrake". – A senhora Wheat sussurrou do meu lado.

- Isso não é uma palavra!

- Agora é. – Talvez fosse destino, quando a encarei com sua expressão presunçosa, uma leve brisa soprou agitando seu mar de cabelo castanho dando vida aos seus olhos azuis. A folha na mesa se agitou e rodopiou revelando o verso. Aila Wheat ficou alarmada encarando a parte de trás da folha, e logo entendi o porquê.

- Não olhe! – Ela exclamou nervosa tentando alcançar o papel pálido, porém fui mais rápido, minha mão sobrepôs a dela permitindo estar ciente do seu nervosismo.

"Alegre", "Descontraído", "engraçado", "sincero", "gentil", essas palavras se seguiam uma após a outra, havia pelo menos dez adjetivos, porém o que me atraiu era a palavra com a caligrafia mais perfeito que já tinha visto. "Drake". Meu nome estava no centro.

- Eu... Eu... – A senhora Wheat se mostrou extremamente nervosa com o rosto todo corado. – Pensei em algumas palavras que combinava contigo, e bem... Tentei criar uma palavra com seu nome.

PARA ELA: ABERTURAOnde histórias criam vida. Descubra agora