A Viúva e o Trigo 4.1

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Quarto Ato

O menino e o trigo

[Drake Medina]

Há algumas cenas durante a vida que são inesquecíveis. Um vasto campo de trigo em chamas era um desses. As labaredas que pareciam alcançar os céus, pulavam nas orbitas dos meus olhos incrédulos. Aila, do meu lado, tinha uma aparência bem mais pálida e atordoada.

Principalmente quando seus olhos se chocaram com o mentor de toda essa obra de terror com uma tocha na mão.

- Finalmente, a nobre senhora chegou. – O homem de cabelos castanhos e olhos cor de mel proclamou com um sorriso doentio. Carl era o nome dele, se eu não me enganava, um dos gestores dos campos da família Wheat.

- Carl... O quê...? – A voz de Aila mal escapou dos seus lábios quando dois fios de lágrimas escorreram pelo seu rosto. Olhei para aquela criatura definindo como meu novo inimigo.

- Ora, surpresa? – Ele tinha um ar de deboche e pura realização. – Não me espanta, afinal a senhora sequer me reconheceu. Deixe-me lhe ajudar... Lembra do nome Vince? – Como se um raio caísse sobre a senhora Wheat, seus olhos se arregalaram junto com sua boca aberto enquanto ela recuava alguns passos.

- Vince...? – Memórias pareciam invadir Aila, memórias de um passado que eu não pertencia.

- Ora, então lembra... O nome do meu pai. – Era um raio atrás do outro. Aila congelou sua respiração ao olhar para o homem com a tocha. Segurei sua mão e a envolvi nos meus braços quando ela começava a entrar em pânico.

- Me perdoa... Me perdoa... Me perdoa... – Ela começou a suplicar em prantos, seu rosto sem cor desabava em uma angústia aterrorizante. Meus toques, meu calor não conseguiam resgatar seu coração dessa escuridão. Eu comecei a entrar em pânico também.

- Perdoar?! – Ele esbravejou. – Sabe, senhora Wheat, a primeira vez que vim a essa fazenda eu tinha o puro desejo apenas de saber como meu pai morreu, mas depois de descobrir que foi apenas por causa de um estúpido capricho de uma menina mimada, eu não suportei. Eu tinha que me vingar, mas... Mas.... – Seu rosto se escureceu enquanto ele parecia mastigar as palavras de ódio. – A família Wheat já estava tão afundada, que não precisava muito do que eu fazer, até que esse pirralho apareceu. – Seus olhos caíram sobre mim.

Olhei para ele, meu novo inimigo, a pessoa que comecei a odiar como nenhuma outra antes.

- Ah esse pirralho, com ele você começou a aprende ler e escrever, a mesma porcaria da coisa que você pediu ao meu para ensinar pai e o fez morrer! E ainda quer que eu perdoe você? Eu jamais faria isso, principalmente com essa chance de vingança que caiu no meu colo. Haha, Aila, Aila. – Ele balançou a cabeça gargalhando feito um maníaco.

- Me perdoa... Me perdoa... – Aila continuava a soluçar em transe, mas nada disso parecia afetar o Carl.

– Você começou a ter esperança, mesmo eu atrasando o semeio, adubando inadequadamente, os céus pareciam estar do seu lado, pois o trigo crescia vigorosamente e você aprendia cada dia mais e mais, e o melhor de tudo, havia felicidade. – Ele lançou um olhar incriminador em minha direção antes de retornar a atenção a ela. – Eu não podia permitir isso, não quando sua estúpida ideia de aprender a ler levou a morte de meu pai e anos de agonia da minha mãe até ela morrer em solidão. Depois da sua presunçosa atitude, minha mãe não teve um dia feliz, então por que eu deveria deixar você tê-la ao lado desse pirralho camponês. E olha só, você expulsou aquela velha da Sherley para passar mais tempo como ele, permitindo que eu mandasse embora todos os trabalhadores e ateasse fogo em tudo.

PARA ELA: ABERTURAOnde histórias criam vida. Descubra agora