A Viúva e o Trigo 3.1

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A raposa e o trigo

[Aila Wheat]

O que é se apaixonar?

- Aila. – É, ao ouvir o seu nome, o coração palpitar? É as doces palavras carregadas de ternura em seu ouvido sibilar? Ou seria, o olhar avelã ardente, o toque suave de arrepiar a pele deixando o corpo latente?

- Eu já disse para não me chamar assim. – Repreendi em uma risada.

Ele respondeu com um sorriso, um sorriso charmoso e contente. Os dentes brancos, as curvas delicadas da pele em sua face, a íris reluzindo com aquela pitada de encanto.

Eu era ignorante nos assuntos do coração. Talvez apaixonar fosse tocar, abraçar, ouvir o nome, se lançar em um fogo de paixão. Mas para mim, uma conversa, um gesto, uma atenção, um carinho, ganhava mais meu coração. E nada me deixava mais embriagada que o seu sorriso de felicidade ao ver a minha felicidade.

Nunca ninguém sorriu antes para mim. Um sorriso não da própria pessoa, mas sorrir de mim, para mim e por mim. Poderia ser esse o significado de amar? Amar a forma que alguém lhe amava?

Se fosse, eu temia o pior. Uma baronesa viúva e o jovem plebeu. O quão insano e irracional seria isso? Tentei apagar essa chama que ardia em mim, antes que virasse um incêndio.

- Acha incomodo? – Drake perguntou sério desviando atenção para o campo de azaleia.

Fazia alguns dias que vimos pela primeira vez, desde então o meu nome era soletrado pelos seus lábios a cada encontro. Mesmo hoje, sentados sobre um pano observando as flores, ele ainda insistia em dizer meu nome.

- Não é isso, só acho... – De senhora Wheat para Aila, eu não estava pronta para isso. Embora acreditasse que era mais adequado, apesar de todas as controvérsias em meu coração.

- Desculpa, não quis deixá-la constrangida, apenas parecia, bem... Mais adequado. – Ele roubou as palavras da minha mente. – Se quiser, eu posso voltar a chamá-la de...- Olhou para mim preocupado.

- Não! – Apressei-me por impulso. – Não, não, está tudo bem, vou levar um tempo para me acostumar. – Retrai-me, minhas mãos apertaram o pano abaixo de mim numa tentativa frustrada de aliviar minha tensão.

- Aila. – Escutei meu nome novamente fazendo-me estremecer. – Continuarei chamando-a assim, então. – Assenti ainda em um estado de estranheza.

Suspirei, mas não por muito tempo. A atenção de Drake se desviou de mim quando levantava um assunto que estávamos discutindo anteriormente.

- Quando pequena, você queria ser pintora?

- Oh, pintora não. Queria fazer um quadro. – Expliquei contundente.

- E qual a diferença?

- Pintora é uma profissão, eu queria... Hum... Colocar algo em uma tela. – Um sonho, um antigo sonho não concretizado.

Drake persistiu sua atenção em mim esperando alguma continuação. Observei as borboletas, azaleias, o balançar dos pinheiros. O céu azul sobre mim, e a grama verdejante abaixo. Fiz o possível para desfocar seus olhos avelãs penetrantes.

Não queria falar, não podia falar, mas quando ele pareceu perder o interesse, minha boca se moveu por conta própria.

- Quando eu era mais nova, meu relacionamento com meus pais era muito bom. Brincávamos e rimos tão simples quanto respirar. Mas antes que eu me desse conta, tudo havia mudado. Meu pai apenas queria saber dos campos de trigo, minha mãe oprimida em casa despeja sua raiva em mim, meu lar virou do avesso... – Apertei ainda mais minhas mãos no forro.

PARA ELA: ABERTURAOnde histórias criam vida. Descubra agora