A colheita do árduo trabalho nem sempre é doce.
Um lenço umedecido percorria o rosto da bela mulher enxugando todo o seu suor. Seu corpo inerte e pálido e outrora tão cheio de vida e carinho tornava difícil para todos vê-la em tal estado, principalmente para mim. Mudei de lenço e comecei a secar o suor nas partes inferiores de seu corpo, pescoço, mãos e pés, não ousaria ir além disso, pois já contrariava as normas e costumes por tocar tão intimamente em uma mulher, mesmo que isso não se aplicasse em uma escrava.
— Hanabi... — Recitei o seu nome como se fosse um poema. — O curandeiro disse que se alguém pudesse superar essa doença seria você. Eu estou confiando que você possa vencer a morte e voltar para mim, minha amada, Hanabi. — Seu rosto pálido permaneceu inalterado deitado naquele futon.
De manhã o curandeiro vinha e dava o seu diagnóstico, bem como alguns remédios. E eu estava do lado dela. De tarde, Haruka e outras servas vinham para limpá-la, e assim que saiam, eu voltava ao seu lado. De noite, reforçávamos suas cobertas, eu acariciaria seu rosto, pentearia seus cabelos antes de me despedir.
Isso continuou por dias.
— Senhor, não é estranho que até agora ela não tenha acordado? — Ajoelhado do lado dela, perguntei aflito, já tão pálido quanto Hanabi. — Mesmo meu pai caminhava e falava, no entanto, ela... — Mordi meus lábios brancos e ressecados.
— Senhor Kurakami, pessoas diferentes lidam com doenças de forma diferente, pelo que eu vejo, ela permanecer dormindo é um bom sinal, quer dizer que seu corpo está lutando para recuperar da doença. — Ele se levantou e tocou em meu ombro antes de se despedir.
Logo, a porta de trás se abriu, e Haruka entrou no recinto perguntando como Hanabi estava. Ao responder negativamente, a mulher sentou ao meu lado em posição seiza e sobrepôs minha mão com a dela.
— Meu senhor, devo lhe dizer que mais hóspedes estão chegando.
— Isso é bom, peça as servas atenderem bem. — Disse sem muito animo.
— Eles estão requisitando a sua presença. — O tom da matrona da pousada ficou mais severo.
— Envie a Haori ou a Sakura, elas são as nossas melhores anfitriãs. — Não quis gastar mais energia no assunto e voltei toda minha atenção no rosto de Hanabi, segurando a candeia da esperança de que, em algum momento, ela abriria os olhos e declararia "eu estou bem".
— Haruki! — Haruka me puxou pelos ombros em sua direção enquanto me encarava. Os anos já faziam efeitos em seu rosto com algumas rugas e fios de cabelo branco. — O senhor tem que parar com isso. Parar de se definhar e deixar a pousada perecer junto. O senhor é o dono da pousada Para Ela, pousada dos seus ancestrais e também de seus pais. O senhor quer que todo trabalho desses últimos anos acabem assim?! — ela me advertiu com furor.
— Mas Hanabi... — Desviei o olhar para minha amada, olhar que foi forçadamente voltado para a mulher furiosa em minha frente.
— Ela foi a que mais trabalhou por essa pousada! — Haruka esbravejou, ela podia tentar segurar, mas seus olhos avermelharam com a dor em seu coração, talvez não sendo menor que a minha. — Quando ela acordar, quer que ela veja todo esse lugar arruinado e mal falado? Haruki, não faça isso, nem consigo nem com ela, isso não é algo que o seu pai faria.
Pai... — Essas palavras carregadas de amargura pareciam ser distante. Quando pensava no sorriso de Hanabi, eu não queria ser mais como meu pai, eu apenas a queria de volta. E esse pensamento me assustou.
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PARA ELA: ABERTURA
Short StoryPara Ela: Abertura é como o nome disse uma abertura de antologia de uma saga de contos longos, cada um com cerca de 3 a 5 atos (entre 10.000 - 20.000 palavras).Todos retratando o amor entre uma mulher mais velha e um homem mais novo no continente fi...