Pela Mão Dela 3.1

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— Sua ladra! — Uma voz alta e estridente despertou-nos. Olhando para a porta podíamos ver uma agitação de passos do lado de fora.

Eu e Hanabi nos entreolhamos, antes de eu soltá-la e corrermos para em direção do barulho. Não foi muito difícil, havia um grupo de servas na porta da cozinha e logo abri espaço para dentro.

— O que está acontecendo aqui? — Perguntei vendo os cozinheiros e os demais em volta de duas pessoas. Uma das servas veteranas em pé jogando uma das mais novas no chão.

— Jovem mestre, que bom que chegou, essa ladra pegou uma das colheres para dos nossos estimados convidados do Oeste.

Olhei para a pequena empregada no chão que se encolhia evitando o olhar de todos. Ela parecia ter por volta de 13 anos, e era, assim como minha amada, mestiça. Cabelos vermelhos gritantes denunciavam suas origens. Iana, era o seu nome, e eu mesma a comprei. Era uma moça bela, de traços do Leste, olhos pretos como a noite e a brancura da neve, porém, assim como sua irmã mais velha traziam traços proibidos do Oeste em seu sangue.

Enquanto eu e Hanabi andávamos pela cidade o vendedor de escravos fazia um espetáculo com as duas crianças. Minha amada, parecia incomodada e evitou olhar, possivelmente remetendo suas lembranças quando mais nova. Foi naquele momento que decidi comprá-las e dar a ela pelo menos um lar.

— Iana... — Abaixei com voz suave para a garota. — Você fez realmente isso?

Ela virou para mim com os olhos escuros de culpa, pude ver as lágrimas brotando no canto de seus olhos, em seguida, desviou e assentiu com a cabeça a sua culpa. Ela estendeu seu braço revelando talhe escondido dentro da manga de seu quimono.

Fechei os olhos e respirei fundo pegando o objeto.

— Por que fez isso? — Perguntei manso, para não a assustar.

— Minha irmã... Ela está doente. — Gotas de dor escorram pelo seu rosto quando entendi tudo.

— Você queria vender a colher para comprar medicamentos para a Iara, correto? — Ela assentiu.

— Jovem mestre, não acredite no que essa ladrazinha mestiça está falando, ela queria roubar por que é isso que os mestiços fazem! — A empregada veterana atacou como uma víbora mamushi cravando suas presas venenosas, não somente na criança, mas em outra pessoa próxima ali.

— Você não tem direito de falar mal sobre ninguém debaixo desse teto! — Ergui, com os olhos afiados. — Leste, mestiço, Oeste, mesmo dos povos do Sul e do Norte, somos todos iguais aqui, já deixei isso bem claro.

— Jovem mestre, eu não queria... — A empregada abaixou a cabeça, eu não prestei mais atenção nela quando sondei as pessoas em volta deixando bem claro minha posição.

— Onde se encontra a Iara? — Perguntei para todos, e logo uma mulher loira avançou um passo. — Diga, Emma... — Ordenei para uma das empregadas do Oeste, uma refugiada ferida devido os conflitos. Emma não possuía um dos braços, sendo uma vítima trágica da guerra dos dois lados.

— Ela não vem há três dias... Jovem mestre... — Assenti a informação e agachei de novo para Iana.

— Lhe daria duas opções Iana. — Meus olhos cravaram friamente sobre a pequena que me encarou assustada. — Eu comprarei o remédio, mantimentos por um mês, assim que sua irmã recuperar, entregarei um pacote de moedas de ouro e vocês vão embora daqui, dessa cidade e construir outra vida em outro lugar... A segunda opção, você irá ganhar em vez de três refeição, apenas duas, para você e sua irmã, enquanto a terceira refeição será revertida no preço dos remédios, em troca, vocês irão trabalhar aqui para o resto de suas vidas. O que me diz? — Fui claro e severo a ponto dos ombros da garotinha de 13 anos se abalar.

PARA ELA: ABERTURAOnde histórias criam vida. Descubra agora