Capítulo.O8

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Se eu soubesse que íamos ficar aqui, teria trazido outras roupas.
O jeito foi vestir a capa de chuva e sair por aí com Chase, meu vô e meu tio.

O passeio começa de forma dramática, já que tudo que eu queria era estar confortável dento de casa.
Mas assim que pegamos o caminho pela floresta, eu começo a ficar mais animada.

A verdade é que o sítio do vovô fez parte da minha infância inteira.
E eu não podia pedir por algo melhor.
Sempre amei esse lugar e conheço cada parte daqui.

Todos os dias, eu e Chase fazíamos algo novo.
E haviam momentos muito assustadores. Como a vez que ficamos presos na floresta até anoitecer.
Ou o outro dia que estava muito quente, estávamos brincando no campo quando eu dei de cara com uma cobra gigante.
Eu me arrepio só de lembrar.

- Olha! - Chase diz animado apontando para cima.

Eu cubro os olhos dos pingos de chuva e ergo o olhar, encontrando nossa casinha da árvore.
Meus olhos brilham e o sorriso é inevitável.

- É a nossa casinha. Chase! - Digo pulando de felicidade. - A nossa casinha.

- Você acha que consegue subir lá? - Ele examina a escada íngreme.

Eu quero muito subir ali.
Acho que, a última vez que nos falamos foi aqui.

《𝙵𝚕𝚊𝚜𝚑𝚋𝚊𝚌𝚔》

[...]

- Essa piada é horrível Any, para de ser tiazona!

Chase anda até a sacada da casinha e senta escorando as costas.
Eu o sigo até lá e deito a cabeça no colo dele.

- O que queria me dizer? - Pergunto.

- Any, eu vou... Sabe? - Ele limpa a garganta, nervoso. - Bom, você sabe que meus avós moram na Inglaterra. Né?

- Sim. O que tem?

- Meus pais querem me mandar pra lá, assim que eu terminar o Ensino médio. - Ele confessa num tom triste. - Eles querem que eu faça minha faculdade lá.

- Isso é sério? - Eu me ergo abruptamente e encaro.

- Sim... - Ela abaixa a cabeça, evitando contato visual.

- Assim que terminar o ensino médio? - Ele balança a cabeça afirmando, e eu solto um sorriso fraco. - Você é idiota? Nós nos formamos daqui uma semana.

- Eu não te contei antes por que sabia que ia ser difícil. E é muito difícil pra mim também! - Ele se defende.

- Por que você precisa ir?

- Meus avós estão doentes e precisam de algum familiar por perto. Meus pais não podem, então eu vou.

- Mais que droga! - Chuto a parede, desapontada. - Eu consigo entender, só não posso te perdoar por não ter dito antes!

- Desculpa Any... - Sua voz continua triste.

- Tá tudo bem. Eu entendo! Mas por favor, vamos aproveitar o tempo que temos juntos, mesmo que seja tão pouco. - Eu me ajoelho à sua altura e o puxo para um abraço.

Passei aquela noite toda acordada planejando nossa semana.
Na manhã seguinte, eu havia feito um piquenique para nós no parque, em frente ao lago.
Mas quem apareceu foi meu crush do ensino médio.

Foi terrível, eu gostava daquele garoto e ele ficou tão próximo de mim, conversando e contando piadas realmente engraçadas.
Mas não era ele que eu queria ali, então pedi para ele ir.

Se eu soubesse que ia esperar Chase como uma tonta, teria feito o piquenique com aquele garoto.
Fiquei magoada, mas pensei: "tudo bem, temos a semana toda!".
Pensei errado!

Na segunda feira ele agiu super estranho, e não foi pra aula o resto da semana.
Eu mandava mensagem, ligava e ia na casa dele, mas nada!
E finalmente no último dia de aula, estava totalmente desolada.

Como esse filho da puta pôde fazer isso comigo?

Eu corri para a casinha na árvore, me encolhi num canto e chorei horrores, e me perguntei o que houve. Eu não queria que nossa última semana fosse assim.
Mas eu imediatamente seco as lágrimas quando ouço os passos de alguém chegando perto de mim.

Eu olho Chase, que observa com uma expressão preocupada. E começo a sorrir morrendo de raiva.

- O que houve? - Chase se ajoelha em minha frente.

- Não te interessa! - Respondo detestável.

Eu não vou dizer que estou chorando por causa desse idiota. Ele nem se quer ligou nesses últimos dias.
Chase não acha minha amizade importante? Ele vai ir em bora e vai me trocar rapidamente por qualquer um.

- Tudo bem se não quer dizer, mas se aquele mauricinho te fez algum mal eu vou descobrir! - Diz de punhos cerrados.

- Por que você tá aqui?

- B-bom eu, queria conversar com você, mas não achei que fosse te encontrar chorando...

Eu reviro os olhos, ficando com mais raiva.

- O que tem pra me dizer depois de ficar uma semana me evitando? - Ergo a sobrancelha fazendo uma cara irritada.

- Eu acho que você realmente não sabe... - Ele desvia o olhar.

- O quê?

- O motivo de eu te evitar essa semana.

- Você tá de brincadeira comigo? Acha que eu sou vidente? - Esbravejo. - Eu fiquei pensando no que podia ter feito de errado. Você nem me deu uma explicação!

- É que, eu não consigo te dizer isso pessoalmente. - Sua expressão e corpo estão inseguros, mas ele tira uma caixa do bolso. - Eu não queria ir em bora sem te dizer...

Ele me entrega a caixa com as mãos trêmulas e eu estreito os olhos, ainda confusa.
Ele acha que pode brincar comigo?
Só consegue me fazer mais raiva!

Eu tomo a caixa da mão dele e jogo no chão com ódio.

- Não estou interessada em ouvir o que você tem pra dizer agora. Se fosse tão importante, teria me dito antes.

Ao invés disso ele resolveu jogar nosso tempo fora e dar uma de espertinho um dia antes de ir.
Eu olho de canto para ver sua expressão de choque e mágoa, mas sigo em frente e deixo a casinha.

Foi uma sensação bem ruim. Porque eu cheguei em casa e me senti pior.
Não só por ignorar o que ele tinha a dizer, mas também porque amanhã ele já vai em bora.

Foi outra noite que não dormi.
Acabei pegando no sono quando o dia já estava amanhecendo, então acordei quase meio dia.

MEIO DIA. É sério que Chase partiu às 10 e nem veio se despedir?
Eu liguei, mandei mais mensagens e até implorei para o meu pai me levar até o aeroporto, mas ele já tinha ido.

Eu não sabia se ficava com raiva de mim ou dele, mas definitivamente foi uma das piores experiências.
Eu nunca mais voltei à casinha.

Nunca soube o porquê daquele gelo que ele me deu na última semana.
Mas sinto que o futuro está trazendo à tona coisas do passado.

Qᥙᥱrιdᥲ ꧑ᥱᥣh᥆r ᥲ꧑ιgᥲOnde histórias criam vida. Descubra agora