Capítulo.18

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《𝙰𝚗𝚢𝚜𝚜𝚊》

Não sei... Descrever o que estou sentindo agora.
Essa sensação é bem ruim. Quase tão ruim quanto da última vez que terminei com meu ex.
Mas, isso nem era um relacionamento de verdade. Por que está doendo assim?

E acho que o que mais doeu foi o que eu disse: "Afinal, não ia durar."
Mesmo que seja a verdade, essas palavras saíram rasgando...

Essa sensação...
Acho que, pode ser só minha mente revivendo um momento difícil que passei a algum tempo.
Eu espero de verdade que Chase não me evite. Ainda podemos ser amigos, né?

Caramba, estou ficando louca de tanto pensar.
E tenho tantas perguntas.
Logo o raciocínio frustrante se junta a dor horrenda quando minha cólica menstrual me pega de surpresa.

Eu tomo um banho, visto um pijama fresco e me enrolo nas cobertas com um pote de bombons no criado-mudo.
Estou me sentindo muito mal e meu remédio acabou. Eu me esforço para ligar para minha mãe. Assim que ouço sua voz começo a chorar como louca.

- Mãe... - Chamo manhosa. - Tô morrendo. Tem como você vir e me trazer remédios pra cólica?

- Vixe minha filha, você não parece nada bem. - Seu tom de voz é acolhedor e preocupado. - Mas nós combinamos de passar o fim de semana no vovô então eu e seu pai viemos hoje...

- Tudo bem, não precisa vir. - Resmungo tristonha fungando o nariz. - Não saiam na chuva, vou tentar me recuperar mas não sei se vou aí amanhã. Beijo, eu amo vocês.

- Oh minha filha. Por favor, se cuida. - Diz comovida. - Nós te amamos. Tá?

Eu desligo o celular e choro ainda mais me sentindo abandonada, mas lá no fundo eu sei que eles não podem e nem devem vir.
Depois de me lamentar e cair no sono, as batidas na porta do quarto me acordam.

Eu observo com os olhos arregalados a silhueta abrindo minha porta. E fico horrorizada.
Cara, eu não fechei a porta do apartamento? Que perigo!
Quando a luz se acende e eu percebo quem é, apenas repouso a cabeça de novo no travesseiro e finjo demência.

- Any, com licença. - Chase diz baixinho.

Não escuto seus passos se aproximando. Ao invés disso ele permanece esperando na porta.
Eu bufo e resmungo

- Vai em bora.

Aí sim, quando ele me vê acordada, anda até a cama e fica em pé ao meu lado.
Eu espio entre os cílios e viro para o outro lado fazendo birra.

- Sua mãe me ligou preocupada, disse que você estava muito mal e com cólica... - Ele continua dizendo baixinho.

- Não é da sua conta. - Digo sem dar atenção.

- Eu trouxe o remédio mas quando cheguei a porta estava aberta.

- Sai daqui. - Afirmo mal humorada. - Eu te odeio. Não preciso desse remédio.

Assim que eu termino a frase, um nó se forma em minha garganta que até dói, entretanto eu seguro o choro.

Eu escuto ele respirando fundo e sinto o colchão atrás de mim afundando.

- Eu sei que você tá mal, talvez não seja o melhor momento mas a gente pode conversar? - Ele diz cauteloso mas eu permaneço calada, ainda virada de costas. - Okay... Eu só quero dizer que, sinto muito pelo modo como falei com você. Tenho uma coisa pra você... Além do remédio.

Ele deixa uma carta na minha frente mas eu ignoro porque ainda me sinto frustrada, e também porque não quero chorar.
Mas minha atitude deixa ele um pouco desconfortável e eu sinto ele se erguer e sair do quarto.

Eu não evito quando algumas lágrimas escapam e eu puxo com os dedos a carta e abro.
A carta diz:

Querida melhor amiga, essa deve ser a primeira carta minha que abre, por isso, preciso dizer o quando eu gosto de você.
Como pinto no lixo, devo admitir que passar meu tempo contigo deve ser a parte preferida do meu dia.
Porque seus assuntos engraçados dão aquela pitada de alegria. E ao mesmo tempo eu sinto que podemos falar sobre qualquer coisa.
Você é, alguém que eu necessito por perto em momentos bons e ruins. Pois parece que você me entende perfeitamente e me conforta, como ninguém.
Eu jamais te odiaria. Ao contrário disso, eu só consigo gostar e te apreciar cada vez mais.
Por isso, espero que desculpe a mim por passar dos limites.
Porque mesmo depois de tanto tempo, você continua sendo a minha melhor amiga e eu não quero estragar isso.

...
Eu dobro a carta de novo e solto um sorriso bobo secando as lágrimas.
De repente ouço o som da porta abrindo de novo.

- Eu trouxe o remédio e água. - Ouço o som dele pondo as coisas sobre o criado-mudo. - Quando soube que estava com cólica menstrual eu comprei algumas besteiras. Espero que não se importe. Enfim, eu tô indo agora mas você deve fechar a porta...

Eu viro de vagar encontrando seus olhos preocupados quando nota que eu estava chorando.
Chase fica hesitante mas se aproxima.

- O que eu fiz de errado? - Pergunta aflito franzindo a testa.

Nossa, que sensível. Acho que ele é mais emotivo que eu.
Minha mão alcança seu braço e eu o puxo para um abraço, que dura alguns bons segundos.

Eu também sei e admito, que assim como ele, não ficaria mais tão bem sem a nossa amizade.
Por isso foi importante que eu lesse a carta.
Porém, com o passar dos dias da semana, por mais que eu estivesse me sentindo bem em ter Chase novamente como meu melhor amigo em uma relação saudável, algo não parecia certo.

Aquele sentimento, que ultrapassa a admiração. Algo tão forte que me faz amar tudo nele e inclusive seus defeitos. E que deixa ele mil vezes mais atraente.
A mesma sensação de sete anos atrás...

Esse foi um dos meus principais medos quando comecei a me envolver com Chase.
E olha para mim agora, em plena manhã de sábado sentada em frente a escrivaninha lendo e relendo a carta de desculpas que recebi.

Eu mordo o lábio e jogo o cabelo para trás me sentindo exausta, mas procurando por algo que não sei o que é.
Minha mente está uma bagunça até que de repente uma lembrança vem a tona.

Verifico o papel e lembro que já vi em algum lugar. Com essa mesma caligrafia e no mesmo modelo.
Lembro-me que Chase disse a pouco tempo que escrevia muito, mas haviam muitas coisas dele que eu não recebi. Significa que, ele escrevia para mim?

Mas se não recebi, por que sinto que já vi algo assim?
Eu me levanto e ando ansiosa de um lado para o outro tentando lembrar de algum jeito.

Meus pés se fixam repentinamente quando algo ilumina minhas memórias.
Eu corro para o guarda roupas e visto o primeiro vestido fresco e confortável que encontro e me retiro até a casa dos meus avós.

Quando chego, os dois estão sentados na área tomando mate na cadeira de balanço.

- Any, por que veio pra cá tão cedo? - Minha avó me recebe com um abraço me examinando. - Está tudo bem querida?

- Eu vim cedo por que é urgente. - Digo dando um breve beijo no vovô também. - Você se lembra daquela semana antes do ano novo quando eu e os meninos saímos na chuva?

- Ah sim, você esqueceu seu casaco aqui desde aquele dia. - Ela diz de um jeito despreocupado voltando a cadeira.

- Você o lavou? - Pergunto ansiosa. - Havia algo no bolso...

- Uma caixinha que também ficou molhada, mas eu guardei junto com o casaco no quarto de hóspedes em que você ficou-

Eu mal espero ela terminar a frase. Corro imediatamente até o quarto e abro o guarda roupas.
Em cima do casaco dobrado, está a pequena caixa. Eu a abro e pego a carta que estava lá dentro, com a tinta da caneta bem marcada pela umidade.

É bem familiar, eu estou feliz em encontrar, mesmo não sendo o que eu esperava.
Bem... Era isso que eu pensava antes de começar a ler.

Qᥙᥱrιdᥲ ꧑ᥱᥣh᥆r ᥲ꧑ιgᥲOnde histórias criam vida. Descubra agora