Nos três dias seguintes, Maya evitou ir para a praia a todo custo. Deixando o costume de passar todo o tempo livre na areia ou no mar, tentava ao máximo não se expor à possibilidade de esbarrar com Carina em algum lugar. Entretanto, apesar dos esforços, não podia esquecer que estava em uma das ilhas de Porto Rico – que não são tão grandes assim. E que se algo fosse dar errado, daria errado da pior maneira possível.
Assim que terminou o ensino médio, ao invés de começar a faculdade – apesar de querer –, decidiu fazer um curso para ser salva-vidas quando não estivesse dando aula. Ou seja, tinha quatro horas por dia tomadas por crianças surfistas e o resto do tempo torcendo para que nenhuma se afogasse no mar. Não podia reclamar. Gostava do que fazia e era muito boa naquilo, mas estava se cansando de trabalhar.
Era muito exaustivo passar a maior parte do dia sem fazer nada, torcendo para que continuasse daquela maneira. Odiava o tédio, mas preferia sua companhia do que o risco de alguém se machucar feio. Aproveitava o tempo, portanto, para pensar na vida e no caos que sempre a dominou.
Fazia pouco mais de 72 horas que Maya tinha apenas dois pensamentos rondando sua cabeça: o quanto ainda estava machucada pelas coisas que Carina lhe disse e o quanto tinha saudades dela. Depois do término, Bishop nunca conseguiu sentir com alguém algo sequer parecido com o que sentia na presença de DeLuca. Então, pelos últimos quatro anos e dez meses, Maya se contentava com raros casos de uma noite e nunca fazia questão de telefonar na manhã seguinte.
Tinha saudades de se sentir amada por alguém. Carina a fazia sentir como se, ao menos para uma única pessoa no mundo, ela fosse importante. Ninguém nunca tinha conseguido deixar Maya tão confortável como a italiana conseguia com apenas um olhar ou um entrelaçar de mãos. Tinha saudade de quando acordava de madrugada morrendo de sede mas desistia de levantar apenas para passar aqueles instantes a olhando por mais alguns segundos. Era até mesmo como se parte da garota sempre estivesse esperando aquilo acabar.
Entretanto, apesar de sentir tanta falta do que tinha que chegava a doer fisicamente, raros eram os dias em que as falas de Carina não ecoavam por sua cabeça. Mas não era como se não soubesse que ela tinha tentado se desculpar desde o início.
Naquele fatídico Cinco de Janeiro, Carina foi procurá-la no horário em que terminaria a última aula do dia, mas Maya fez questão de ignorar a presença da garota. E isso se repetiu pela próxima semana. Dando-se por vencida, DeLuca organizou as coisas da então ex-namorada, deixando-as pronta para quando a loira resolvesse responder sua mensagem avisando sobre os itens que deixara na casa dos italianos. Porém, depois de duas semanas de tentativa, o número de telefone parou de receber as mensagens. Era como se Maya tivesse feito aquilo justamente para evitar que Carina a encontrasse – e Bishop tinha feito exatamente isso mesmo.
Faltava apenas mais um semestre para o fim da carreira escolar delas, e com certeza foi o mais caótico de todos. Se evitavam a todo custo, chegando até mesmo a trocar de aulas para que se encontrassem o mínimo possível. Victoria costumava dizer que as duas passaram a enlouquecê-la mais ainda, tanto que a garota deixou a ilha na primeira semana após o fim das aulas, se mudando os Estados Unidos para tentar cursar artes cênicas.
Hughes continuou a visitar Bishop apesar de ter tomado muito mais o lado de Carina durante o término, sempre insistindo que Maya deveria ao menos dar uma chance à outra, mas nunca conseguiu cumprir o objetivo. As duas continuavam brigadas e era praticamente impossível manejar o tempo entre elas. As viagens eram sempre em época de férias e recessos, quando Maya passava ainda mais tempo trabalhando do que o de costume, então acabavam por passarem pouquíssimo tempo colocando a conversa em dia.
E, talvez não tão coincidentemente, Victoria chegaria três dias depois da tarde em que Ryan disse à Bishop sobre ter avistado Carina na praia. Era como se Vic tivesse um plano.
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Surf's Up
RomanceQuando Carina consegue enfim tomar as rédeas da própria vida, acaba retornando para onde passou o final de sua adolescência. Entretanto, talvez Maya preferisse nunca precisar vê-la novamente. capa por @svrebspamp