IX

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Eu já não tinha pique para aguentar o fôlego de Victoria e eu estava de volta há apenas uma semana. Mesmo mais de cinco anos depois, ela ainda era cismada em fazer eu e Maya voltarmos. Silenciosamente, eu adoraria que seu plano funcionasse, mas a Carina exterior tinha vontade de esgana-la.

Ao menos eu só teria que aguentar toda aquela agitação por mais quatro dias.

Vic sempre passava apenas uma semana de férias na praia, praticamente apenas para matar a saudade do Sol e de Maya, uma vez que não tinha muito o que a prendesse ali. Exceto que agora tinha algo a mais: eu.

Quando me mudei com os meus pais para Louisiana, pretendendo passar meu período universitário por lá, acabei deixando que boa parte de mim ficasse para trás. Meu quarto na casa de meu avô ainda estava exatamente do jeito que eu deixei e eu sabia disso porque ele fazia questão de me dizer todas as vezes que conversávamos. Todos os meus amigos ainda voltavam para a ilha durante as férias e o recesso de Natal, exceto eu. Eu passei todos aqueles anos sem visitar ninguém.

Mas, assim que notei que tudo de ruim que podia acontecer comigo estava realmente acontecendo, vi que era hora de largar tudo. Contrariando meus pais, desisti da faculdade de medicina na reta final do curso e liguei para o meu avô às quatro e quarenta da manhã no fuso porto-riquenho dizendo que eu estava prestes a entrar em um avião para voltar para lá. E ele sequer me questionou.

Eu sabia que Victoria tinha viagem marcada para a praia nessa mesma época, o que calhou perfeitamente. Durante a semana que ela passaria aqui, poderíamos tentar colocar os nossos quase cinco anos de distância em dia, apesar de eu saber que isso era quase impossível – assim como eram as chances de que Maya fosse minimamente simpática comigo quando eu a encontrasse de novo. Porém, no fundo, eu torcia para estar errada.

Algo em mim ainda gritava que eu precisava dar um jeito de conseguir seu perdão, mas eu cada vez mais perdia as esperanças. Eu sabia o quão sujo tinha jogado quando terminamos e me arrependi disso no instante seguinte, mas precisava me acomodar com a ideia de que talvez isso nunca aconteceria. E quando eu digo nunca, é nunca mesmo.

O caos com os meus pais não ajudou muito na minha vontade de fazer qualquer coisa durante aquela primeira semana de volta. Vic, entretanto,  tentava a todo custo me tirar de casa enquanto eu tentava inventar novas desculpas esfarrapadas do porquê de não estar disponível. Ao menos chegamos em um meio termo na maior parte das vezes.

Ela estava me deixando em casa após termos saído para almoçar quando, assim que estávamos a poucos metros da entrada, vi Maya sentada em um dos últimos degraus, perto da porta. Não fazia sentido algum ela estar ali, já até o dia anterior ela ainda me odiava. Então tudo que fiz foi pedir que Vic me deixasse alguns metros à frente.

– Tem certeza de que não quer que eu vá com você?

– Absoluta. Vai ficar tudo bem – respondi já tirando o cinto de segurança.

– Okay. Me ligue, qualquer coisa.

Forçando um sorriso para esconder o nervosismo, saí do carro e notei que Hughes ainda esperou que eu me afastasse um pouco mais antes de continuar a seguir o resto do caminho até o hotel onde sempre se hospedava. Fingindo uma naturalidade surreal, subi as escadas sem pressa, mas também sem enrolar muito. Maya sequer levantou o olhar das folhas que mexia ao lado dos pés.

– Posso te ajudar em alguma coisa? – Confesso ter ficado insegura em perguntar isso. Talvez começar com um "tudo bem?" fosse a melhor opção.

– Não. Só vim pegar as minhas coisas. Ryan foi buscar para mim.

– Quer esperar lá dentro, ao menos?

– Estou bem aqui fora, Carina. – De alguma forma, apesar do seu tom beirar o rude, ouví-la dizer o meu nome depois de tanto tempo fez algo se revirar dentro de mim. – Não quero entrar.

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