III

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anos antes.

– Como foi de virada? – Carina perguntou entrelaçando os dedos aos de Maya, direcionando a mão da loira até sua barriga.

– Foi boa. Seu avô deixou eu tomar um pouco de champanhe – dizia contra a pele da namorada, voltando a fechar os olhos. – E a sua?

– Nada de muito interessante. Meus pais não são lá as pessoas mais divertidas do mundo.

Um silêncio confortável tomou conta do cômodo por alguns segundos. A iluminação não era muita, mas suficiente para terem certeza de que o dia já tinha amanhecido há algumas horas – o que, entretanto, não significava que Maya estava totalmente acordada.

Diferentemente da viagem anterior, Carina, mesmo cansada, foi direto para a casa da namorada ao chegar na ilha. Apesar de Marte ter dito que Bishop já estaria dormindo àquela hora da madrugada, a italiana teimou por tempo o suficiente para que o mais velho desistisse da ideia de obrigá-la a ir para casa.

E Maya realmente não estava dormindo, como alegou a DeLuca mais nova. Queria ter certeza de que a namorada iria aterrissar bem antes de conseguir algumas poucas horas de sono, mas acabou se surpreendendo – e se assustando – ao ouvir a campainha tocar às duas e meia da manhã.

Tinham combinado de ir ao menos caminhar na praia logo que acordassem, assim podiam aproveitar a manhã antes de precisarem se preocupar com o fim do recesso de inverno da escola. Todavia, eram raras as vezes que cumpriam o que planejavam. Na maior parte das ocasiões, apenas deixavam que suas cabeças decidissem no calor do momento mesmo.

– Você vai trabalhar hoje? – questionou em um murmuro.

– Hm-hrm. Marcaram reposição das duas às cinco.

– Então eu vou ter que ficar longe de você praticamente a tarde toda? – Carina respondeu em um tom de reclamação, aproveitando para se aproximar ainda mais.

– Você precisa desfazer suas malas e arrumar as coisas pro fim do recesso, minha linda.

Apesar de ficar quieta, a italiana sabia que Maya tinha razão. As aulas voltariam no dia seguinte e ela sequer sabia onde deixara os materiais do semestre anterior. Enrolando por apenas mais alguns minutos, as duas levantaram por estarem com fome. Carina foi tomar uma ducha rápida enquanto Bishop faria algo para comerem antes de sair, esperando então a namorada na cozinha.

Era um apartamento pequeno – apenas o suficiente para uma garota de 17 anos que se bancava sozinha. Já estava prestes a completar três anos que vivia por conta própria, longe de qualquer conhecido. E, apesar de perder quase todo o tempo livre, não era como se não adorasse ensinar crianças a fazer o que fazia de melhor: surfar.

Não demoraram para chegar à casa do avô de Carina. Maya também tinha muito o que resolver, mas não deixaria de passar um tempo a mais com a DeLuca. Surpreendentemente, Marte não estava na casa quando elas chegaram, então as duas apenas subiram direto para o quarto da italiana.

Recusando a ajuda da loira, DeLuca foi organizar as coisas para o dia seguinte – sendo que sequer sabia onde tinha deixado a mochila no último dia de aula – enquanto Maya apenas a observava enquanto mantinham uma conversa agradável. Bishop se divertia vendo a meticulosidade com que a namorada organizava os fichários e contava as folhas em branco apesar de saber que aquilo não era tão saudável assim.

– Carina? – Marte bateu na porta antes de afastá-la, sem precisar girar a maçaneta por estar apenas encostada.

Nonno, ciao! Onde...

– Seus pais querem falar com você, piccola. – O homem a interrompeu sem cumprimentar Maya antes de entregar a videochamada para a neta.

Sem saber como reagir, Bishop demorou alguns instantes para levantar da cama, querendo deixar o quarto para dar mais privacidade para a garota quando, ao desviar a atenção de Carina com a movimentação, os pais perceberam a presença de mais alguém no cômodo.

– É o seu namorado que está aí? – A DeLuca mais velha questionou com uma voz firme.

– Hm, não. Não é ele. É a Maya, uma amiga minha. – A voz trêmula entregava a mentira, mas, por sorte, o sotaque ajudava a disfarçar. Ela sempre exagerava quando conversava com os pais. – Do colégio.

Notando, pelo canto do olho, o sorriso de Bishop diminuir, se segurou muito para não acompanhá-la com o olhar enquanto a garota deixava o quarto. Maya fechou a porta atrás de si, tomando cuidado para não batê-la e, ao mesmo tempo, controlar a mágoa.

Faziam dois anos que Carina já não era sustentada pelos pais e que os via somente em períodos de férias. Custava não fingir que Maya era apenas uma amiga da escola?

A ligação não ocupou mais que os cinco minutos seguintes. Sendo tomada por uma sensação estranha quando saiu do cômodo, a loira se trancou no banheiro social até que escutasse a voz da namorada procurando por ela. E, mesmo assim, ainda demorou alguns segundos a mais para destrancar aquela porta.

– A gente pode conversar? – Carina estava claramente falhando em esconder o nervosismo e o medo de tudo ir por água abaixo.

– Eu tenho que ir trabalhar.

Ela não precisava, e DeLuca sabia disso. Ainda não passava sequer do meio-dia e a primeira aula do dia começava apenas às duas da tarde. Maya apenas queria sumir pelas próximas muitas horas.

Carina descia as escadas tentando manter o mesmo ritmo de Bishop mas, apesar de mais alta, não conseguia competir com o lado atlético da namorada. Teve sorte, entretanto, quando Maya demorou para encontrar a mochila que tinha deixado no sofá, tendo enfim o braço segurado pela outra.

– Eu preciso ir, Carina – Maya tentou repetir com um tom mais rígido, mas a italiana sabia ser teimosa o suficiente quando precisava.

– Não, você não precisa. Por favor. – Enquanto a morena mantinha o contato visual a qualquer custo, Bishop não conseguiu sustentar a postura por muito mais tempo. Soltando o pulso da mão da outra, largou a mochila onde a encontrou e, passando sem olhar para o lado, refez o caminho até o quarto da garota. No fundo, queria dar-lhe uma chance de se explicar.

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