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Era pouco depois das quatro da tarde quando Maya tomou o lugar de Ian no posto de salva-vidas, logo indo para o meio do mar. Apesar de um sábado, a praia não estava tão cheia por conta de alguns eventos que aconteciam na ilha, mantendo a maior parte das pessoas na outra costa. O sol já estava ameaçando baixar e a água esfriava cada vez mais, o que a fez lembrar de talvez colocar uma camiseta térmica por baixo de tudo na próxima vez.

Bishop sempre preferia os turnos em que podia ficar apenas sentada no guardião. Preferia muito mais observar as pessoas na costa do que os surfistas, apesar de ser uma. Aquele tipo de atividade carecia de mais atenção e movimento, sempre a deixando exausta ao final daquelas horas.

Quando começou a se entediar, percebeu que as luzes dos postes já estavam começando a acender. Ficaria ali até oito da noite, então isso não significava que estava prestes a ir para casa. E desde que Victoria lhe disse que Carina não estava na ilha apenas de passagem, a vontade de ficar apenas em casa triplicou.

Ao menos, ali vestia um colete legal e dirigia um jetski. Aquele praticamente era seu sonho de infância, mas parecia que a pequena Maya não pensou que aquele seria o seu trabalho. Essa era a única parte ruim de trabalhar com a coisa que mais gostava de fazer: aquilo deixava de ser uma diversão para ser uma obrigação.

Raramente aconteciam acidentes por ali, mas era protocolo ter alguém a postos caso algum acontecesse. Normalmente tudo que fazia era ajudar alguns adolescentes que tentavam manobras difíceis demais a voltarem para as pranchas, os aconselhando a se aproximarem da costa ou praticantes calouros de stand-up paddle que entravam em pânico no meio da atividade, com medo de algo acontecer.

Exceto que, no único começo de noite que realmente não tinha vontade alguma de trabalhar, um acidente grave iria acontecer. Como já dizia Finagle, se algo for dar errado, dará. E no pior momento possível.

Com Maya não seria diferente.

A bons metros de onde Bishop estava, viu um rapaz acenando em sua direção enquanto gritava por seu nome. Ele estava ajoelhado sobre a prancha, mas havia outra parecida por perto sem ninguém para utilizá-la. Ou melhor, não alguém em cima dela.

– Eu não sei o que houve. Ela pulou da prancha quando percebeu que ia perder o equilíbrio, mas a onda estava muito forte e eu acho que ela bateu a cabeça.

Ela não costumava prestar atenção em quem estava salvando e muito menos em quem estava ao redor. Não queria correr o risco de deixar o lado pessoal tomar conta. Sua cabeça automaticamente fazia isso, então sequer era algo consciente e daquela vez não estava sendo diferente. Maya sequer olhou para quem lhe chamou, apenas tentando ajudar seja lá quem não estava conseguindo nadar direito.

Teve que mergulhar para conseguir soltar o leash, mas a pessoa já parecia desacordada naquele nível da situação.

– Ela me disse que ainda surfava, então eu não me preocupei e a trouxe pra cá. Me desculpa, Ma. Eu não quis causar isso.

Conhecia perfeitamente aquele tom de voz. Apenas uma pessoa a chamava daquela forma. Era por isso que não prestava atenção em quem lhe pedia ajuda. Era exatamente por situações como aquela.

– Kaio, você consegue voltar para a praia com a outra prancha? – perguntou, finalmente conseguindo prender os ganchos da boia na prancha do veículo. Tinha que fazer isso quando tinha alguém desacordado, ainda mais em quase mar aberto. Estava terminando de ter certeza que tudo estava seguro quando ouviu a conformação do garoto. – Então volte. E não inventa mais nada.

Tinha a voz forte, tentando deixar que sua repulsa pela situação superasse todo o resto. Maya não costumava brigar com seus alunos ou com os presentes em suas cenas, mas daquela vez era diferente. Deixou o menino para trás segundos depois,quando as outras pessoas em volta perceberam a situação e limparam o caminho mais rápido até a costa.

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