XI

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O adesivo estava quase desgrudando da minha roupa, então aproveitei para falar na recepção sobre pegar um novo, até porque trocaria de camiseta em alguns minutos. O rapaz me disse que pediria para uma enfermeira me entregar no quarto de Carina, então retomei meu caminho até lá.

Não sei dizer se fiquei chateada por ela não ter me dito que o avô estava viajando assim que comentei sobre ter tentado ligar para ele. Talvez ela só tivesse imaginado que eu estava tentando atualizá-lo e não realmente pedindo que fosse até o hospital, mas não custava nada ter me alertado. Me fez entender que, talvez, as coisas entre eu e ela não tivessem mudado nada.

Antes mesmo que pudesse pensar em algo para dizer para não deixar que o clima no quarto pesasse, uma enfermeira me chamou para trocar o adesivo. Eu já estava trocada, terminando de guardar minhas coisas e colocar a mochila de Carina na cadeira que não estava usando. Ao menos, finalmente podia deixá-la se distrair com o celular ao invés de tentar introduzir uma conversa que eu definitivamente não estava afim de ter.

– Você podia ter mencionado que seu avô não está na ilha quando te disse que estava tentando falar com ele – falei sem olhá-la. Não tinha chegado ao ponto de conseguir fazer isso.

– Eu teria dito se você tivesse me avisado que estava tentando falar com ele para se livrar de mim.

– Não foi por isso que eu liguei. – Eu revirava a minha própria mochila, tentando encontrar algo que eu sabia que não estava ali apenas para não deixar tão explícito o meu desconforto em ter que encará-la. – Mas ainda sim, você podia ter ao menos comentado.

– Desculpe.

– Que legal, você aprendeu a pedir desculpas nesses cinco anos! – Eu forçava um tom sarcástico enquanto colocava a roupa emprestada de volta no saquinho plástico.

– Você não precisa ficar aqui se não quiser, Maya. E você claramente não quer. – Só então que a olhei, mesmo que por alguns instantes. – Eu não tenho problema algum em ficar sozinha.

Suspirei baixo com sua fala. Eu adoraria responder da primeira maneira que veio à minha cabeça, mas eu ainda tinha uma breve reputação a manter. Ou ao menos fingir que sim.

A fiz esperar até que tivesse terminado de organizar minhas coisas para receber um retorno e sabia que ela queria me matar por isso.

– O problema é que eu não sou ímpia o suficiente pra conseguir te deixar sozinha nessa situação.– Eu adorava o quanto as palavras chiques saíam de mim nos momentos que eu mais precisava. Tenho muito a agradecer a Maya de dez anos que se distraía querendo decorar o dicionário inteiro. – Então, já que seu avô está viajando, eu vou ficar aqui até você ser liberada.

– Victoria podia ficar.

– Não estou maluca a esse ponto. Não ainda.

Percebi que ela sorriu, apesar da minha frieza. Aproveitei o momento para entregar-lhe uma das garrafinhas de chá que Ryan comprou junto com os morangos. Sei que ele tinha comprado para mim, provavelmente querendo fazer minha noite no hospital menos desagradável com a minha fruta preferida, mas morangos são o tipo de comida recomendada para casos de concussão – além de uma das comidas favoritas de Carina. Ela podia ficar com eles naquela vez.

Nós comemos em silêncio. Deixei o outro chá para caso ela quisesse mais tarde já que o suco podia piorar seu estado em caso de algo mais grave por conta do açúcar, e tentei aproveitar o pacote de pretzels. Não era o meu tipo favorito de comida, eu definitivamente não os levaria para uma ilha deserta, mas não era a pior coisa do mundo. Ao menos eu poderia comprar algumas barrinhas de cereal na lanchonete do hospital depois.

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