– Não foi minha culpa. – Carina tinha ambos os olhos molhados, o que a impedia de identificar qualquer emoção no rosto da loira, que, com as mãos nos bolsos do shorts, apenas a encarava. – Eles me ouviram enquanto eu conversava com você nas férias e... E-Eu não podia contar, Maya.– Nas férias? – repetiu levantando as sobrancelhas. – É janeiro, Carina. Você voltou de lá em agosto.
– Eu sei, bambina, mas... Eu ia fazer o quê, Maya?
Se sentando na beira da cama, Bishop passou a mão no cabelo, tentando aliviar o nervosismo. Apesar de saber que Carina ainda não tinha se assumido para os pais – o que, para ambas, nunca foi algo tão relevante no relacionamento –, não imaginava que ela teria mentido sobre o que tinham. Sempre pensou que era apenas algo não mencionado.
Durante os instantes de silêncio, percebeu as lágrimas da italiana escorrerem até a gola de sua camiseta, o que talvez significava que ela estava sim se sentindo mal pelo que estava acontecendo, mas Maya nunca pensou que se sentiria daquela forma por conta de Carina. Nunca imaginou, nem nos piores dos momentos que estiveram – os que, por sinal, podiam ser contados com os dedos de apenas uma das mãos –, Carina a faria sentir como se fosse o desgosto de alguém.
– Seus pais estão do outro lado do oceano. – Bishop tinha um tom surpreendentemente calmo e sereno, o que confundiu a cabeça de Carina por alguns segundos. – Eles vão fazer o quê? Te expulsar de casa?
E ali estava ela. A mesma Maya sarcástica que a maioria das pessoas conhecia. Quando começaram a conviver, Carina não teve muita dificuldade em fazê-la baixar a guarda sem nem fazer esforço. Era irracional o sorriso que a loira abria ao ver DeLuca do outro lado do corredor da escola ou o quanto adorava passar o tempo livre com a morena na praia sem fazer absolutamente nada super interesante, apenas aproveitando um pouco a companhia enquanto assistiam as crianças brincarem à beira mar.
Curiosamente, crianças essas que eram as únicas pessoas além de Carina e Marte com quem Maya se sentia bem. Apesar de trabalhar para se sustentar e não pra matar o tempo, gostava do que fazia e já teria surtado se não fosse por aquelas mini-pessoas.
Carina, por outro lado, era oposta à maioria das características da namorada. Não gostava verdadeiramente da praia, mas gostava de Maya, e estava disposta a passar quanto tempo fosse, seja na areia ou no mar, para que Bishop pudesse ter alguns momentos de paz. Sabia de uma parte de sua história de vida e não negava o quanto aquela garota precisava de alguns míseros minutos de sossego.
E mesmo nao sendo mais sustentada pelos pais por ter decidido se mudar com o avô para a América, ainda sim tinha muito mais dinheiro que a namorada. Era algo incomparável. Vinha de uma das famílias mais ricas da Itália e, depois da morte da avó, viu na mudança de Marte uma chance de se distanciar um pouco de todo aquele drama milionário.
– Eles são meus pais, Maya. E apesar de eu não concordar com a maioria das coisas que eles fazem, ainda sim são meus pais.
– Não faz sentido, Carina. Você poderia ter facilitado tanto as coisas... – Bishop deixou que o controle sobre as próprias emoções no meio da fala. Já tinha a voz trêmula, tentando muito não demonstrar o quanto tudo aquilo estava doendo, mas falhava muito. Muito mesmo. – Você podia ter me contado!
– Eu queria te poupar da minha farsa pros meus pais. Eu não queria te envolver na personagem que eu me torno perto deles.
– Você sequer gosta deles! – Aquilo não fazia sentido nenhum na cabeça da mais nova, que ainda não conseguia entender o porquê de Carina não ter apenas omitido o relacionamento. Não era o segredo que a incomodava, era a mentira. Era ter sido anunciada como uma amiga. Era ter se sentido o segredo tão sujo de Carina que era pertinente ter sido substituída por um homem.
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Surf's Up
RomanceQuando Carina consegue enfim tomar as rédeas da própria vida, acaba retornando para onde passou o final de sua adolescência. Entretanto, talvez Maya preferisse nunca precisar vê-la novamente. capa por @svrebspamp