Surf's Up

Epílogo

O único barulho que podia ser ouvido ali era o de Ryan devolvendo a caneca à bancada de tempos em tempos. Ele ainda tomava café da manhã, aproveitando que trabalharia apenas no final da tarde quando passou a ouvir, mesmo de longe, Maya pegar a chave no bolso da mochila para destrancar a porta.

Até se daria ao trabalho de ir abrir para ela, mas sua xícara de café e o sudoku que fazia no celular estavam bem mais interessantes. Sequer se assustou quando ela bagunçou seu cabelo por trás, roubando um pouco da bebida antes de dizer algo, mas já sem a mochila nas costas. Ryan tinha certeza de que estava no sofá ou jogada perto da porta.

– Bom dia pra você também – provocou, mas apenas por ter tomado seu café.

– Muito bom dia, Ryan Tanner! – Maya forçou um sorriso do outro lado do balcão, pegando alguns biscoitos do pote que ficava em cima da geladeira para que, na teoria, ela não alcançasse.

– Como foram as aulas? Chegou tarde hoje.

– Tudo certo. Demorei porque Kaio ainda não gosta de trocar a parafina da prancha, então fiquei até um pouquinho depois do fim pra fazer isso pra ele.

– Acho um absurdo ele não gostar. É simplesmente a parte mais legal.

– Eu também acho, mas fazer o quê – a loira não parecia se importar em fazer aquilo pelo garoto, apesar de tomar minutos a mais de seu tempo livre.

– Você parece de bom humor hoje. Ainda não estou acostumado com essa Maya. – Terminando a bebida, ele se levantou apenas para alcançar a pia do outro lado.

– Eu sempre estou de bom humor, Ry.

Bishop realmente estava mais leve e sabia exatamente o porquê, apesar de tentar não esbanjar tanto. Comeu mais alguns biscoitos antes de devolver o pote para o lugar onde nunca deveria ter saído e limpou as mãos no pano de prato, já prestes a ir para seu próprio quarto.

– Cadê o Paco, aliás? Não saiu com ele hoje?

– Está dormindo no seu quarto. Acordou para comer e quis voltar para lá.

– Uh, quem me dera ser ele – respondeu rindo fraco.

– Maya, ei. – O rapaz se virou antes que a perdesse de vista.

– Sim? – disse se apoiando na quina da parede.

– É bom te ver assim. De verdade.

Ela apenas sorriu para o amigo, que logo voltou a focar no celular, antes de continuar o caminho até o outro cômodo. Já era pouco mais de nove da manhã e, apesar de ainda trabalhar no final do dia, ainda teria até quatro da tarde para aproveitar algumas horas livres do estresse casual.

A porta do quarto estava apenas encostada, mas Maya fechou após entrar, tentando escurecer um pouco mais o ambiente, mesmo que ainda entrasse luz pelas frestas da janela. Conseguiu ver o cachorro deitado ao lado do tapete do pé da cama, provavelmente com calor demais para se deitar em algum tecido. Já estava descalça, então não precisou se preocupar com isso antes de se deitar na cama, mesmo que por cima dos lençóis. Maya deixou o celular sobre a mesa de cabeceira, pronta para esquecer de sua existência. O alarme tocaria apenas às três da tarde para caso pegasse no sono, mas duvidava que isso realmente aconteceria.

Com cuidado, virou o corpo lateralmente até que pudesse ver Carina com mais facilidade. Apesar dos olhos fechados, Maya não tinha muita certeza sobre ela estar dormindo ou não. Mesmo assim, tomou cuidado na hora de se aproximar, recebendo um resmungo em resposta à movimentação.

– Bom dia – Bishop sussurrou com um beijo em seu ombro.

Sem conseguir formar palavras ainda, Carina arrastou o braço abaixo do travesseiro que usavam, conseguindo enlaçar Maya pelo pescoço. Tinha demorado a dormir durante a noite, então seu excesso de sono era justificável para a loira, que não tentaria despertá-la se ela quisesse descansar um pouco mais.