Desejo de Natal 5 - Concertando tudo

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— O que estamos fazendo aqui, Chat?

Estranhei seu convite quando recebi a mensagem, e por um momento achei que ele tinha percebido que era eu na noite passada, que era eu todos esses anos.
Porque ChatNoir precisava da LadyBug na Manhã de Natal? Manhãs de Natal deveriam ser aconchegantes, com as pessoas que você mais ama, tomar café da manhã e abrir presentes. Eu não deveria acordar sozinha em uma casa vazia, sem conseguir entregar meu presente ao Adrien, sem saber se ainda estou noiva, e ainda ter que me encontrar com ChatNoir depois do que ele fez ontem.

Minha vontade foi mandá-lo para o inferno, mas LadyBug não deveria estar com raiva dele – não depois que sua ausência na última batalha tinha colocado ChatNoir em uma posição tão constrangedora – então engoli meu orgulho e tentei não mostrar minha raiva.

Mas por mais estranho que fosse seu recado, não estava preparada para uma coletiva de imprensa. Se seu chamado tinha me irritado, aquela quantidade de pessoas me preocupava, ainda mais depois que ele me disse que consertaria as coisas.

“O que esse idiota planeja fazer?”

— absurdo, não é? — ele sussurra, olhando as pessoas que se aglomeram abaixo de nós — toda essa comoção porque uma garota me desejou como presente de Natal? Eu tô no topo da lista a quantos anos?

— não foi qualquer garota. — respondo, sem me preocupar em esconder a irritação, não acreditando que ele ainda está se achando por causa disso.

— tem razão, não foi. — ele diz, sem notar meu humor.

— e o que estamos fazendo aqui? — pergunto novamente. Não quero ficar perto dele sem um motivo muito bom.

— sabia que de ontem para hoje eu recebi umas cinquenta propostas para posar nu?

Me forço a não olhar para baixo. Óbvio que ele recebeu vários convites, com um corpo naquele, e aquela bagagem, com certeza ainda teria muitas propostas.

“Uma pena você ser gostoso, porque é um babaca”.

Não que ontem eu tivesse visto muita coisa, estava ocupada tentando não morrer nas mãos do Noel akumatizado.

— vai aceitar alguma, ou vai só colocar no seu instagram? — faço questão de parecer ácida, mesmo que ele não saiba porque estou brava.

— acho que minha mulher não gostaria que eu aceitasse, e nem cairia bem no currículo.

— mulher? desde quando…

— ah, já está na hora — ele sorri e abre o bastão — melhor você ficar por aqui, as coisas podem ficar estranhas.

— do que você está falando, ChatNoir? — pergunto, mas ele já foi, pulando direto para o palco montado para o show de Natal em frente à Torre.

Minha vontade é agarrá-lo ali mesmo, naquele palco, e exigir respostas. Porque o beijo da noite passada ficou muito, muito pior agora que sei que ele também é comprometido. E foi na minha casa esperando muito mais do que um beijo.

Não sei se devo ir – e parecer que estou apoiando o que quer que ele esteja fazendo –, ou ficar – e perder a oportunidade de interferir, caso ChatNoir me comprometa ainda mais. Como se eu já não tivesse preocupações o suficiente.

Sei que tem algo a ver comigo, com Marinette, mas me recuso a acreditar que ChatNoir marcou uma coletiva de imprensa para justificar minha bagunça, simplesmente porque é injustificável. Não há nada que ele possa falar que não vá piorar tudo.

— Sei que vocês estavam esperando outra pessoa — Chat diz assim que sobe ao palco, e mesmo de longe sei que está sorrindo. Então ele senta no chão, como se estivesse entre amigos, e não em frente a todos os jornais e curiosos de Paris — Mas acho que vocês querem me fazer algumas perguntas.

São tantas vozes ao mesmo tempo que não entendo o que dizem, mas sei qual a intenção da maioria delas.

— não, eu não vou posar para nenhuma revista — ele ri.

Ser essa a primeira pergunta é simplesmente ultrajante, e imagino qual a reação da imprensa se fosse o contrário, se fosse eu no lugar dele, com certeza não seriam tão lisonjeiros — já tem fotos o suficiente rolando por ai, por favor pessoal, minha mãe está vendo isso, sabiam?

Todos riem, como se aquilo fosse um stand up, não uma coletiva de imprensa, mas eu sei que é tudo fachada, ChatNoir nem tem mãe, e se tivesse, ela nem saberia que o cara sem nada além de um cachecol nas manchetes era ele.

As perguntas continuam divertidas, me deixando ainda mais impaciente, e várias vezes penso em ir até lá, acabar com essa palhaçada. Qual o objetivo de dar tanta audiência a ChatNoir? Estou pronta para fazer fazer isso quando alguém faz A pergunta, aquela que eu não queria ouvir, e da qual as gracinhas de ChatNoir não podem me salvar:

— se eu conheço a noiva do Adrien? — ele ri, mas percebo a diferença em sua voz. Não tem mais graça. — Conheço, é claro, e vocês sabem disso, já que tem várias fotos nossas circulando na mídia.

Não sei do que ele está falando. Estive ausente no último dia, justamente para não ver esse tipo de coisa, mas sei que desde meus quatorze anos pode ter muito material meu e do ChatNoir. Será que os fofoqueiros de plantão vasculharam os arquivos dos últimos anos para ter ainda mais material?

ChatNoir me salvou muitas vezes, a mais marcante foi de meu próprio pai, e aquilo chamou muita atenção, já que o pé de feijão do Lobi Pai pôde ser visto de qualquer lugar da cidade. Pensando agora, demos muitas chances para curiosos, indo ao cinema, conversando em parques, e passando horas na sacada do meu antigo quarto.

— Sim, nos conhecemos há muitos anos, e ela tem um nome. Parem de chamar de Noiva do Adrien.

— ChatNoir! — Nadja chama sua atenção — A pergunta que toda Paris quer saber! Você e Marinette Dupan Cheng estão tendo um caso?

Prendo a respiração, aguardando, como se isso pudesse adiar o inevitável. Parte de mim não quer acreditar que Nadja fez isso. Justo ela, que sempre foi amiga da família, e a quem ajudei tantas vezes.

ChatNoir fica imediatamente sério, a máscara de diversão caindo totalmente.

— É uma pena que as pessoas sejam tão curiosas com a vida dos outros… — responde, levantando do chão, como se isso encerrasse seu papel de comediante — eu vou responder com toda sinceridade, vocês adorarão a resposta, mas se arrependerão depois.

A plateia fica em silêncio, apreensiva, eu fico apreensiva. Dizer que não temos um caso não é a resposta que fará todos se arrependerem da curiosidade. Nenhuma resposta faria algo assim, ao menos nenhuma resposta que não seja uma mentira.

— eu amo a Mari, e tenho certeza que ela me ama também. — meus joelhos cedem quando processo suas palavras.

“ele não disse isso! ele não disse isso! Ele não disse isso!”. Porque ChatNoir falaria algo assim? Ele prometeu que consertaria as coisas! estava só piorando tudo!

—  Então que vocês estão fazendo com ela me deixa muito, muito irritado.

— ChatNoir! Adrien Agreste sabe do caso de vocês? — Alguém pergunta mais alto que os outros.

— Não disse que temos um caso. Desde o incidente as pessoas supõem que há alguma coisa acontecendo às escondidas, porque é mais emocionante desse jeito. Vocês procuram um vilão, alguém para culpar, quando a verdade é tão mais simples. Eu e a Marinette não temos um caso, porque estamos noivos.

Percebo tarde demais o que ele está fazendo. Quem está ali me defendendo.

“ É isso que você chama de consertar tudo?”

— Mas e Adrien Agreste?

Me lanço do prédio quando Chat segura o anel, mas não sou rápida o suficiente, quando enfim caio no palco, a luz verde já ilumina tudo.

— eu sou Adrien Agreste.

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