Prefácio: Uma Piada de Mau Gosto!

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Eu não tive tempo para publicar os meus livros, nem para plantar uma árvore e muito menos para ter filhos... Tudo se acabou em um borrão gelado e sufocante. Minha vida terminou com um beijo glacial que me encheu os pulmões de água, pesando em meu corpo, queimando a cada arfada.

O irônico é que eu sempre fui do tipo de imaginar pelo o que os outros estavam passando e tentar ajuda-los. Não que eu seja uma alma pura e iluminada, longe disso! Já fiz muita coisa errada, mas quando sentia que podia e precisava, eu socorria.

Talvez eu seja, ou melhor, fosse uma pessoa empática demais... Afinal, se podia salvar e poupar o sofrimento, por que não o faria?

Sempre ajudei sem pensar numa recompensa, apenas ajudava pelo ímpeto de poder mudar aquele destino, de poder fazer algo pelo outro, fosse humano ou não... No entanto, admito que nos meus últimos minutos, eu realmente esperava que o carma – ou o que quer que fosse – enviasse alguém para me salvar, já que auxiliei o próximo em todas às vezes que tive a oportunidade.

Contudo, a minha ajuda não veio e senti minha mente ir se desligando aos poucos, o pânico dando lugar a uma necessidade incontrolável de respirar, os pulmões dolorosamente se enchendo de água e o meu corpo se tornando cada vez mais lento...

De alguma forma, no fim, consegui ver a mim mesma afundando até sumir na escuridão silenciosa daquele lago, tendo como ultima companhia a sensação de estar sendo cercada pela presença de seres antigos que pareciam dilacerar minha alma com um simples arrepio.

Quem diria!?

A jornalista nadadora e boa samaritana – colecionadora de medalhas de natação por puro prazer – se afogando sem poder contar com a ajuda de ninguém e enlouquecendo à medida que se entregava para a escuridão.

Sabe...

Às vezes costumava pensar que a vida não passava de uma piada de mau gosto e pelo visto eu tinha razão.

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