Capítulo 12 : Pânico paranoico é uma porcaria!

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Se antes os dias passavam como um borrão, agora, eu não tinha mais controle algum. A única coisa que me ajudava a contar o tempo era o meu trabalho.

Por algum milagre, ainda não tinha sido demitida e minha editora fazia questão de me manter na equipe. Certamente eu não era mais tão eficiente e nem mais tão coesa em meus textos, visto que ela mudava quase minhas matérias inteiras quando as corrigia. Então, continuo sem saber se a minha permanência no jornal era por compaixão, consideração ou somente dó.

De qualquer forma, isso me frustrava demais!

Eu podia sentir os olhares de piedade às minhas costas. Tinha certeza absoluta de que todos me julgavam e sussurravam sobre mim, comentando sobre a minha aparência desgastada, meus passos arrastados, meus movimentos paranoicos e de minha incompetência!

Vejam só! A boa jornalista virou um nada! A ótima nadadora se afogou!

Eu morri, ela morreu, Ele vive...

- Iara, quer mesmo continuar com essa investigação? – ouvi Amanda perguntar e pisquei algumas vezes tentando voltar à realidade. Suspirei e me virei na direção da voz, encontrando-a parada ao lado de minha cadeira.

- Como assim? – a encarei. – Acha que não sou capaz?

- Não é isso. – apressou-se em se defender. – Só estou te achando muito cansada e não sei se lidar com um assunto tão sombrio, vai te fazer bem... Principalmente depois... Bom... Você sabe. – continuou sem jeito, obviamente incomodada e incerta se deveria continuar com o que pretendia falar.

- Sei o que? – continuei a fita-la com frieza. – Sei sobre a morte da minha mãe? Claro que sei. – cerrei minhas mãos em punhos. – Eu estava lá, lembra? Eu a vi morta! Eu a vi ser enterrada! – controlei-me para não gritar e desviei os olhos, tentando controlar as visões que surgiam em minha cabeça em flashes doloridos.

Eu a vejo ser devorada!

Eu a vejo se decompor!

Eu a vejo apodrecendo!

- Iara! – Sarah me repreendeu e ergui os olhos mais uma vez para poder observá-la. Provavelmente eu a atraíra com meu tom de voz elevado e agora ela estava parada ao lado de Amanda, julgando-me com olhar e me recriminando.

Queria gritar de frustração, queria arremessar as coisas de cima da minha mesa, queria sair correndo e me enfiar de baixo das cobertas para nunca mais sair. Sentindo-me ainda mais frustrada, justamente por saber que exagerara em minha reação e – sem motivo justificável – fora cruel com a minha amiga, apertei com mais força as unhas contra a pele de minhas palmas e comecei a morder os lábios, machucando-os.

- Iara, pare com isso! Vai sangrar!

Sarah se aproximou de mim e colocou as mãos em meu rosto, obrigando-me a parar de mover a boca, no entanto, minhas unhas continuavam a me ferir e a dor parecia se irradiar em pequenos choques por meu corpo, fazendo minha cabeça se prender com mais frequência á realidade. Ou seja, a dor estava me ajudando a pensar e a me acalmar.

- Vou ligar para o Araí. – ouvi a voz de Jorge, mas não conseguia vê-lo, pois a minha amiga permanecia segurando o meu rosto.

Normalmente, Araí me acompanhava para todos os lados. Ele agia como minha ancora no mundo, o meu porto seguro contra os monstros. Entretanto, hoje eu tivera que ficar sozinha, pois o garoto continuava me ajudando com as pendências da morte de minha mãe.

Mesmo depois de semanas, eu ainda não conseguia lidar com o assunto. A ausência dela continuava sendo sufocante para mim. Por isso, assinei uma procuração autorização Araí a resolver tudo o que restava: herança, bens, encerramentos,...

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