Capítulo 05 : Ela não poderia ser mulher de Boto!

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- Iara? – ouvi minha mãe chamar e me esforcei para abrir os olhos.

Quando foi que eu dormi? Não me recordo...

- Que susto você nos deu, meu amor. – senti a cama se erguer e notei que estavam me obrigando a sentar. Respirei fundo e me concentrei na dor de cabeça. Era horrível acordar daquele jeito e com dor era pior ainda.

- O que aconteceu? – perguntei mal humorada.

- Você desmaiou, meu bem. – ela pegou algo de cima da mesinha e me trouxe junto com um copo de água. – O médico acabou de sair do quarto. Ele imaginou que você acordaria com dor de cabeça por causa do longo tempo dormindo. – ela me entregou um comprimido.

- E por que não colocou direto no meu soro, então? – olhei irritada para o remédio... Eu sempre odiei engolir comprimidos, SEMPRE!

- Você acabou arrancando o acesso e foi quase impossível voltar a colocar, então optaram por esperar você acordar para não te machucar mais. – ela apontou para o meu braço.

Olhei para o local e notei que havia um enorme curativo no lugar onde antes havia uma agulha levando soro e medicamentos direto para a minha veia. Eu também odiava ser espetada, mas já que ela estava ali, era bem mais fácil ser tratada através de um acesso venoso, assim eu não precisava me esforçar para engolir nada e, aparentemente, os remédios faziam efeito mais rápido.

- Apesar de desmaiada, você se debatia muito, como se estivesse tentando fugir de alguma coisa ou lutando desesperadamente... – ela me observava preocupada. – E no meio dos seus ataques, você mesma arrancou o acesso. – eu a encarava confusa e sem entender como uma tarde tranquila poderia ter se tornado naquele caos. – Acabou sangrando bastante e só para fazer esse curativo já foi difícil. – passou a mão pelo meu braço, fazendo-me carinho e tomando o cuidado de não me machucar mais. – Por isso não quiseram arriscar com uma agulha.

- Caramba... – murmurei. O que aconteceu comigo?

Ainda sem conseguir entender nada direito, resolvi tomar logo o comprimido e acabar com aquela dor de cabeça irritante. Talvez, quando me sentisse melhor, conseguisse recordar algo ou colocar os pensamentos no lugar.

'- Está se sentindo melhor, agora? – ela me perguntou, ainda visivelmente preocupada.

- Uhum... – resmunguei com a boca cheia de água e tentando engolir aquele inferno de remédio.

Aquilo sempre me deu muita aflição. Todas ás vezes eu tinha a sensação que o comprimido, independente do tamanho, desceria raspando minha traqueia ou me faria engasgar, entalando no meio do caminho.

- Você se importa se eu for até uma casa lotérica rapidinho?

Lotérica? Ela iria jogar na Mega-Sena ou algo assim? Sem conseguir controlar minha reação, lancei um olhar ainda mais confuso para a minha mãe e a vi rir da minha cara.

- A conta do celular venceu e eu não consegui pagar por débito automático. – ergueu o aparelho me mostrando que estava sem rede. – Desde que eu troquei de banco, vivo tendo esse tipo de problema. – suspirou cansada. – Eles me enviaram um boleto por e-mail e na hora do almoço eu consegui imprimir numa papelaria aqui perto.

Devagar, ela guardou o celular e me olhou de uma forma que me fez notar o quão exausta ela estava. Todos aqueles dias velando por mim, não deveriam ter sido fáceis... Eu a imaginei recebendo uma ligação dos meus amigos, avisando que eu havia sumido. Pude vê-la desesperada com o telefonema seguinte, o da polícia buscando por informações minhas e, ao mesmo tempo, mantendo-a informada sobre as buscas inconclusivas.

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