Capítulo 09 : Para quê se conhecer melhor se existe o fim?

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- Freia! – ele gritou. – Entramos errado! – percebi que estava extremamente agitado e tentei ignorar, concentrando-me na pista e nos veículos ao meu redor. – FREIA! – berrou nervoso.

- Tá louco? – retruquei por fim. – Não posso frear na estrada desse jeito! – respondi irritada com o exagero dele. – Não posso parar assim, do nada! Para de ser idiota, Araí. E me deixa dirigir em paz!

Aquela era a primeira vez que eu havia decidido pegar a rodovia depois de meses dirigindo apenas o mínimo possível, limitando-me a percursos urbanos e, principalmente, fazendo os caminhos disponíveis da minha casa para o trabalho e vice-versa. Tornaram-se quase raros os dias em que me aventurava a conduzir um pouco mais e levar o Araí para algum restaurante da minha cidade.

Portanto, quando resolvi ir passear em outro município, foi inevitável não sofrer assedio do nervosismo que ele e minha mãe sentiram por mim. Inclusive a dona Dália até se prontificara a ser minha motorista e me levar para passear. No entanto, bati o pé, insistindo em ir dirigindo para poder me sentir independente e livre de novo.

Aposto que ela teria vindo conosco se não fosse por um dos clientes dela ter ligado e implorado por uma consultoria urgente – vai entender que problema a empresa dele estava passando para poder pedir por algo assim! E por esse motivo, minha mãe precisou ir para outra cidade, enquanto o Araí e eu íamos para um destino diferente do dela.

E naquela altura do percurso, ele já havia me feito arrepender por ter insistido na aventura, pois o garoto surtava a cada momento de tensão ou complicação do transito e isso estava me deixando ainda mais louca do que eu já estava!

- Tá, mas aposto que se todos estivessem freando, você frearia também! – replicou de maneira infantil.

- Mas é ÓBVIO que sim! – respondi estressada com a situação e pasma com o comentário tonto.

- Então, se todos pulassem da ponte, você pularia também? – perguntou e eu senti como se estivesse me provocando, provavelmente fazendo birra pela minha teimosia e falta de paciência com os descomedimentos dele.

- Sério, Araí! – bufei. – Que papo de mãe é esse? – ri sarcástica. – Não faz sentido algum o que você está me dizendo agora! São situações completa e totalmente diferentes! – olhei-o de soslaio antes de voltar a minha atenção para a pista. – Enlouqueceu antes de mim, é?

- Enlouqueci nada. – rosnou zangado comigo. – É assim que a sua sociedade funciona.

- Na verdade não é bem assim... – respondi tentando deixar a irritação de lado.

- Como não? – notei que se virara no banco para poder me observar melhor. Algo que considerei vantajoso, visto que ele iria passar a prestar mais atenção em mim e menos no trânsito, poupando-me um pouco de seus surtos.

- Vamos pensar assim... – pensei por alguns segundos, buscando por aquilo que poderia me ajudar a explicar melhor as coisas. – Se todos estivessem freando, eu também seria obrigada a frear, pois provavelmente algo teria acontecido na estrada. Mas se todos estivessem pulando de uma ponte, eu não pularia junto com eles a não ser que fosse para salvar uma vida. Entendeu?

- Acho que entendi... – resmungou.

- Veja bem, eu não sacrificaria a minha vida por nada. Não o faria só porque outras pessoas o estão fazendo. – escutei-o grunhir algo, concordando com o que estava falando. – Mas se o sacrifício fosse para salvar a vida de quem amo ou salvar a minha, se fosse preciso eu pularia da ponte.

- Por que você disse "ou" ao invés de "e"? – a pergunta me pegou desprevenida.

- Como assim? – desviei o olhar para olhá-lo por brevíssimos segundos e logo retornei a analisar a estrada.

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