Capítulo 14: E nas trevas nos afundamos...

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Permaneci imóvel, encarando a criatura sinistra a minha frente e me munindo de toda a raiva para poder sustentar aquele olhar horrendo, mesmo que por dentro pudesse sentir que estava começando a sentir pânico!

- Mas também sinto que carrega monstros demais em sua mente. – continuou e essa informação fez minha pela arrepiar num prelúdio de um mau presságio. – Por isso, vou puni-la com meus melhores pesadelos! – e mais uma vez gargalhou, fazendo-me encolher de aflição.

E antes que eu pudesse reagir ou até mesmo tentar dizer algo em minha defesa, senti a terra sob meus pés começar a tremer. Parecia um terremoto, contudo, era como se algo estivesse saindo de dentro dela.

Meus pés começaram a afundar, como se o solo houvesse virado lama. No entanto, a viscosidade que eu sentia e o cheiro podre que subia para as minhas narinas denunciava que aquilo, na verdade, era lodo!

Tentei me mover, entretanto, minhas pernas estavam presas. Baixei as mãos para tentar me soltar de alguma forma e senti que havia água acima do lodo. Endireitei-me rapidamente – quase perdendo o equilíbrio no processo – e soltei um gritinho de pavor. A porcaria da água densa estava gradativamente subindo!

Ou eu estava afundando ou alguma coisa estava retornando das profundezas. Mas como isso estava acontecendo, a minha mente não se atrevia em tentar descobrir. Era insanidade demais para lidar!

Passei a agitar os braços, buscando por alguma coisa na qual eu pudesse me agarrar para tentar me içar. E desta vez, o gritinho virou um berro de horror e nojo ao sentir algo firme e viscoso passar por minhas mãos, movendo-se de forma tentacular.

Naquele momento, não havia sentido em tentar limpar as palmas na roupa, contudo, eu o fizera mesmo assim. Eu gemia de medo, frio e repugnância.

Vozes guturais e sussurradas começaram a me rodear. Aqueles tons profundos, graves e sibilantes se aproximavam e mandavam arrepios gelados por todo o meu corpo. Ainda não conseguia enxergar muita coisa, mesmo que agora houvesse uma sutil luz verde pairando por trás das árvores e vegetações altas. De qualquer forma, os vultos que eu podia identificar na escuridão eram medonhos! Seres com tentáculos no lugar de braços, cabeças deformes, pernas tortas, corpos hediondos...

Levei uma das mãos à boca para tentar conter o choro e senti, além cheiro forte de limo, o odor ferroso e nauseabundo de sangue. Rapidamente passei a me tatear, buscando por algum ferimento ou pelo toque gosmento da substancia em minha roupa, no entanto, a humidade me impedia de conseguir distinguir algo e a minha pele fria estava começando a ficar entorpecida, impossibilitando que eu pudesse sentir a dor de alguma provável ferida.

Mordi os lábios e finalmente senti dor. Levei os dedos até a boca e pude notar que meus dentes pareciam afiados como presas. Gritei novamente e quase cai, afundando-me mais. Senti algo espesso e gelado escorrer por meus cabelos e pingar em meus ombros, busto e braços. Puxei uma madeixa e notei que aquilo era lodo!

De onde tinha vindo aquilo?

Havia lodo e sangue para todos os lugares!

Enojada, comecei a esfregar freneticamente meu corpo, numa tentativa infrutífera de me limpar. Acabei por espalhar ainda mais a substancia asquerosa e de brinde, pude perceber que a minha pele não era mais lisa e macia. Em alguns pontos ela estava dura e áspera, como se escamas e placas estivessem começando a se desenvolver por ali.

Voltei a gritar!

Eu gritava e gritava sem parar. O ar fugia de meus pulmões e eu apenas os enchia em arfadas para poder continuar berrando.

Não havia mais sanidade. Aquilo era loucura em forma de pesadelo! Era tormento em pele de demência!

A terra tremeu e a luz esverdeada ficou mais intensa. Agora ela não vinha de trás de árvores e plantas... Ela vinha iluminando uma cidade imensa e ciclópica, a qual já havia deslumbrado inúmeras vezes, mesmo que em todas as ocasiões eu não estivesse próxima a uma costa marítima!

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⏰ Última atualização: Sep 21, 2020 ⏰

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