Capítulo 06 : Até que ponto tudo pode ser real?

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Já havia se passado algumas semanas desde que voltamos de Pontal do Sul. Antes de vir direto para Jundiaí, tivemos que ser transportados até Curitiba, de lá pegamos um avião até São Paulo e, depois, um carro até minha cidade.

Poderíamos ter poupado tempo e desgaste físico pegando um vôo direto, já que apesar de interiorana e aparentemente pequena, a cidade dos "jundiás¹" possui um aeroporto. Contudo, por algum motivo que eu ainda não sei, não houve como fazer isso.

Talvez não existisse uma empresa aérea que fizesse a viagem, ou simplesmente minha mãe não gostara dos horários disponíveis... Vai saber! A única coisa de que eu tinha certeza era que eu ainda estava em completo choque!

Todos os dias, pegava-me voltando àquele dia no hospital, revivendo toda a conversa com aquele garoto lindo e assustador...


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Depois de ter escutado toda a história dos lábios de Araí, de imediato a minha mente começou a duvidar de tudo. Aquilo era uma estória mirabolante e sem sentido! Eu nem mesmo sabia que criatura era aquela... Aquele tal de Cthulhu.

No entanto, algo dentro de mim sabia que tudo era verdade.

E mesmo sem saber o que ou quem era, ao escutar o nome daquele ser sinistro, meu corpo reagiu soando frio e disparando o meu coração. Pelo visto, para mim ele não era tão desconhecido assim.

Fiquei alguns minutos em silêncio, ruminando tudo e ignorando completamente o perigo que aquele garoto poderia me representar. Eu estava tão compenetrada que estava agindo como se, poucos momentos antes, ele não houvesse me ameaçado e até agarrado, dominando-me e impedindo todas as minhas tentativas de fuga, defesa e revide.

- Eu... Eu simplesmente não sei o que pensar... – passei a mão pelo rosto, sentindo-me subitamente muito cansada. – Você está dizendo que fui possuída por criatura vil e...

- Um ser ancião. – interrompeu-me.

- Okay... – suspirei. – Um ser ancião vil e perigoso, que minha vida não pertence mais a mim, mas a esse Cthulhu e que, por minha causa e sua gana, acabou sendo escravizado por ele também? – olhei-o de soslaio.

- Praticamente é isso. – notei que ele continuava sentado na cama e me observava atentamente.

- E você é o famoso boto do nosso folclore? Aquele que tanto ouvi falar quando pequena? – virei o rosto e o encarei abertamente.

- Tanto ouviu falar? – percebi que seus lábios se contiveram em um quase sorriso.

- Minha mãe e minha avó viviam falando que eu precisava ter cuidado com o boto, que eu não podia ficar buchuda² sem antes ter idade e maturidade suficientes. Caso contrário, falariam mal de mim e eu deixaria uma criança no mundo sem o pai, assim como eu. – sentei-me lentamente, tomando o cuidado de não me aproximar demais dele.

- Elas lhe deram um ótimo conselho. – desta vez o sorriso dele veio completamente à tona. – E o que aconteceu com o seu pai?

- Isso não vem ao caso agora... – ergui a mão, enfatizando o quanto não queria falar sobre o assunto. – O que importa agora é saber quem e o que é o Cthulhu. – fitei-o séria e vi seu sorriso ir diminuindo até desaparecer completamente.

- Aqueles que permanecem ignorantes e inocentes, acreditam que esse ancião não passa apenas de um mito criado por um escritor louco chamado Lovecraft. – instantaneamente reconheci o nome do autor norte-americano, mas eu nunca havia lido nada dele. – Entretanto, a verdade é outra. Ele é uma entidade cósmica mais antiga do que a própria Terra, parece que quando o nosso planeta era novo, Ele já era um ancião.

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