Cap 13

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CHARLIE SPRING

Esse capítulo contém muitos gatilhos, caso seja sensível recomendo não ler!! ⚠️

Não tem barulho, nenhum som ou respiração. Minha cabeça está tão cheia que nem minha respiração eu consigo prestar atenção. Minhas mãos tremem, tenho dificuldade em deixar os olhos abertos e meus pulsos estão latejando.

Recaída.

Uma coisa com a qual eu tenho tentado me livrar a muito tempo.

O chão está gelado e um pouco grudento, o sangue grudado nos meus dedos e em meu pulso me fazem chorar. Nada está fazendo sentindo, sinto que eu vou cair a qualquer momento, mesmo que já esteja no fundo do poço, eu ainda acho que tem como piorar.

Sempre tem.

Meu pulso dói tanto, lateja e arde, mas isso é o que eu mereço. Eu na verdade não mereço nada, mereço somente a morte. Só que nem a morte me quer.

A blusa do Nick cinza agora está com muitos pingos de sangue, da minha culpa, dos meus erros e dos meus fracassos. Ele sempre está me ajudando, me restaurando, juntando os cacos que se estilhaçaram por minha causa e eu nunca agradeço.

Eu sempre digo para mim que aquilo nunca mais irá se repetir, que eu vou mudar. Eu sempre penso que eu posso melhorar. Se eu pudesse ser alguém melhor, se eu pudesse ter alguém a minha volta sem machucá-lo, se eu não fosse eu. Mas isso é só um "se".

Eu nunca consigo fugir da destruição que eu sou na vida de alguém. Eu sempre erro, erro e erro de novo. Eu sempre decepciono alguém, várias vezes. Eu nunca me canso. Eu repito o mesmo erro várias vezes.

Nunca aprendo, eu falo que vou mudar, que eu posso ser melhor e que eu não sou tão ruim assim. Mas eu sempre volto a estaca zero.

Sempre.

Sempre.

Sempre.

Eu nunca perguntei para Nicholas porquê ele tem uma faca no criado, nunca perguntei o porquê de tantas câmeras em sua casa, nunca me preocupei em saber se ele estava bem. Só me importo comigo, de tão egoísta que sou.

O esforço que estou fazendo somente para continuar com os olhos abertos é muito. Não posso dormir aqui no chão do banheiro, com sangue a minha volta, se caso minha irmã me ver...

Não posso pensar nisso, isso já aconteceu antes. Foi decepcionante, ver pessoas preocupadas comigo, sendo que fui eu o errado, eu me feri assim. Não deveriam estar preocupados comigo. A faca de tamanho bem pequeno bate no chão por causa do tanto que minhas mãos estão tremendo. Não tenho nada pontudo perto de mim depois da minha última recaída, essa faca eu roubei da casa do Nicholas.

Eu preciso sentir dor, eu preciso sentir outra coisa. Mas depois que a dor passa a culpa vem. E ela vem tão forte que dói todos os músculos.

As pessoas dizem que pessoas suicidas são egoístas. Não discordo totalmente, elas querem parar de sentir dor ou fazer com quem as pessoas em volta não tenham que se decepcionar com a pessoa que são. Querem privar que o próximo esteja tão perto do erro que são.

Isso é o que eu sinto, eu sei que mereço essa dor. Só que eles não merecem sentir a decepção, a dor que eu sou.

Eu perdia conta de quantos cortes eu fiz, começou a misturar tudo. Nada fazia mais sentido, viver não faz. Eu respiro fundo, sinto o cheiro de ferro, o cheiro do sangue.

Meus olhos começaram a se acostumar a ficarem abertos, começo a enxergar o que eu fiz e o que eu sou capaz. Solto a faca longe, com medo de mim mesmo, do que eu posso ser capaz de fazer comigo.

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