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Os dias passaram desde o incidente em que desmaiei. Apesar de tentar retomar a rotina, as tonturas persistiam, e o cheiro de certas coisas desencadeava náuseas. Uma sensação incômoda que eu tentava ignorar, mas que, aos poucos, se tornava impossível de não notar.

A preocupação de Tom era evidente em seu olhar constante. Ele insistia que eu procurasse ajuda médica, mas eu resistia, alegando que era apenas o estresse dos recentes acontecimentos. No entanto, eu mesma começava a duvidar dessa explicação simplista.

Rose e Daniela, observadoras como sempre, começaram a perceber meu desconforto crescente. Certa tarde, enquanto trabalhávamos juntas em um projeto nos arredores do território, elas trocaram olhares preocupados.

— Alicie, você não parece bem. — disse Rose, estudando-me com uma expressão séria.

Tentei sorrir, mas a tontura insistente me fazia apoiar-me em uma árvore próxima.

— Estou bem, só um pouco cansada.

Daniela, mais perspicaz do que aparentava, levantou uma sobrancelha.

— Isso vai além de cansaço, Alicie. Já faz tempo que notamos você se sentindo mal.

Respirei fundo, ponderando se era hora de compartilhar o que estava acontecendo.

— Eu... não sei exatamente o que está acontecendo. Desde aquele dia em que desmaiei, tenho sentido tonturas e enjoos. Não sei o que fazer.

A preocupação tomou conta dos olhos delas, e Daniela colocou uma mão solidária no meu ombro.

— Você precisa procurar ajuda, Alicie. Ignorar isso pode ser perigoso.

Rose assentiu, acrescentando.

— Tom está certo em se preocupar. Não podemos arriscar sua saúde.

Contra minha resistência inicial, a ideia de procurar ajuda médica começou a parecer mais sensata. A incerteza sobre o que estava acontecendo me assustava, mas era hora de enfrentar a realidade antes que as sombras do desconhecido tomassem conta de tudo.

Quando Rose mencionou a possibilidade de Tom e eu estarmos esperando um filho, a surpresa se espalhou entre nós. Rapidamente, esclareci que isso era impossível, já que eu tomava remédio contraceptivo.

— Rose, isso não é possível. Eu tomo remédio regularmente, não tem como estar grávida. —Expliquei, tentando acalmá-la diante da confusão.

Seus olhos se arregalaram de surpresa, e percebi que estávamos lidando com mal-entendidos.

— Peço desculpas, Alicie. Não sei por que pensei nisso. — Disse Rose, constrangida.

Mantive um sorriso compreensivo.

— Não se preocupe, Rose. Às vezes, nossa mente nos prega peças.

Antes que pudéssemos retomar a conversa, Daniela acrescentou com uma expressão séria:

— Mas, Alicie, o remédio nem sempre protege.

Suas palavras ecoaram no silêncio que se instalou. A realidade do controle contraceptivo nem sempre sendo infalível pairava no ar, acrescentando uma camada de preocupação à situação. Rose assentiu, consciente da complexidade do assunto.

— Você está certa, Daniela. Alicie, vá ao médico e tire todas as dúvidas. — Insistiu Rose, demonstrando preocupação genuína.

Concordei, reconhecendo a importância de abordar a situação com responsabilidade e cuidado. Enquanto eu me preparava para enfrentar o médico em busca de respostas, a incerteza do futuro se desdobrava diante de nós, envolvendo não apenas as complexidades dos Serpentes, mas também os desafios pessoais que cada um de nós enfrentava.

Após a conversa com Rose e Daniela, retornei ao meu quarto, sentindo o peso das preocupações sobre minha saúde e a complexidade das relações entre os Serpentes. Decidi tomar um banho para acalmar a mente e relaxar.

Ao entrar no banheiro, tirei minha roupa, revelando um corpo marcado pelo estresse e pela tensão dos últimos acontecimentos. No espelho, olheiras profundas destacavam-se sob meus olhos, testemunhas silenciosas das noites mal dormidas.

Deixei a água quente do chuveiro cair sobre mim, uma sensação reconfortante que, por um momento, dissipou as preocupações. Permiti-me relaxar, mas ao fechar os olhos, pensamentos turbulentos persistiam.

Após o banho, ao retornar ao quarto, vesti minhas roupas como uma armadura contra as incertezas que pairavam. No entanto, ao me deparar com o espelho novamente, não pude evitar olhar mais profundamente.

Fiquei de lado, observando minha própria imagem, minha mão instintivamente encontrando o caminho até minha barriga. Uma mistura de emoções se desenhou em meu rosto, incapaz de acreditar que ali, sob a minha mão, pudesse estar uma vida.

A incerteza e a vulnerabilidade desenhavam-se em cada traço do meu reflexo. Enquanto enfrentava os desafios externos dos Serpentes, a vida pessoal também assumia formas inesperadas, revelando que, por mais que tentássemos controlar nosso destino, alguns caminhos permaneciam além do nosso alcance.

Ainda perdida em meus pensamentos diante do espelho, meu olhar se fixou em minha própria imagem. Foi então que, pelo reflexo, percebi uma figura na porta. Lexi estava lá, sua presença inesperada no limiar do quarto capturada pelo espelho.

Ao virar rapidamente para a porta, esperando confirmar a visão, um calafrio percorreu minha espinha. Contudo, ao alcançar a entrada, Lexi havia desaparecido, como se nunca estivesse lá.

Um arrepio percorreu minha pele, deixando-me inquieta diante da estranha aparição e desaparição de Lexi. Uma sensação de desconforto pairou no ar, e, por um breve momento, questionei se era fruto da minha mente sobrecarregada ou se havia algo mais obscuro e inexplicável acontecendo ao meu redor.

A incerteza se instalou novamente, misturando-se com a vulnerabilidade que sentia diante do espelho. Enquanto enfrentava os desafios pessoais e os mistérios que permeavam a vida dos Serpentes, percebi que o desconhecido se entrelaçava em cada sombra que pairava sobre nós. Decidi que era hora de enfrentar não apenas o reflexo no espelho, mas também as sombras que espreitavam nos cantos escuros dos nossos destinos entrelaçados.

Decidida a esclarecer as dúvidas que pairavam sobre minha saúde, peguei as chaves do carro e me encaminhei ao hospital. A noite, envolta em uma calmaria carregada de mistério, me acompanhou enquanto eu dirigia pelas ruas silenciosas em direção à busca por respostas.

Chegando ao hospital, a atmosfera tranquila do corredor contrastava com a inquietação que eu carregava. Ao preencher os formulários, minha mente oscilava entre o desejo de descobrir a verdade e o temor do desconhecido.

Após os exames, o médico sugeriu que fizéssemos um ultrassom para obter mais informações. Ansiosa, deitei-me na maca enquanto ele manuseava o aparelho, deslizando-o suavemente sobre minha barriga. O som suave dos batimentos cardíacos começou a preencher o ambiente, e, de repente, a sala foi iluminada pela imagem nítida na tela.

— Parabéns, mamãe. Você está grávida. — Anunciou o médico com um sorriso caloroso, deixando escapar a notícia que eu não esperava.

O impacto da revelação se fez sentir, e uma onda de emoções tomou conta de mim. A surpresa inicial cedeu espaço a uma mistura de alegria, incredulidade e uma certa apreensão diante da nova realidade que se desenhava.

A sala do ultrassom tornou-se um lugar de descobertas e revelações, e, enquanto o médico fornecia informações sobre a saúde do bebê, eu me encontrava contemplando não apenas meu próprio reflexo na tela, mas o futuro que se desdobrava diante de mim.

De volta ao carro, a estrada à frente parecia mais significativa do que nunca. A notícia inesperada trouxe consigo não apenas a revelação da vida que se formava, mas também a compreensão de que a jornada dos Serpentes estava prestes a ganhar um novo capítulo. Diante da incerteza, da maravilha e das responsabilidades que agora carregava, senti-me mais determinada do que nunca a enfrentar os desafios que estavam por vir.

CONTINUA

Before The Truth || Tom Kaulitz Onde histórias criam vida. Descubra agora