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A estrada estendia-se à minha frente, a escuridão envolvendo-me como um manto sombrio. Cada passo era uma batalha contra a dor pulsante em minha perna ferida. A adrenalina queimava em minhas veias, mantendo-me em pé mesmo quando minhas forças cediam.

A dor na perna era constante, mas algo mais chamava minha atenção. Uma pontada aguda na barriga revelou um ferimento de faca que eu ignorara até então. As roupas grudavam-se à pele, úmidas com meu próprio sangue, e o sangue dos homens que matei.

Persisti, caminhando em direção a uma cidade próxima. Metade do caminho vencido, meu corpo finalmente cedeu à exaustão. Desmaiei no asfalto frio, as trevas me envolvendo como um abraço gélido.

Um casal que passava de carro encontrou-me na estrada deserta. Eles me levaram para o hospital, olhares de perplexidade trocados enquanto tentavam entender a cena sangrenta diante deles.

— Meu Deus, o que aconteceu com ela? — sussurrou a mulher, olhando para meu estado.

O homem dirigiu o carro enquanto ponderavam sobre as possíveis histórias por trás da figura ensanguentada no banco de trás. Sussurros inquietos preenchiam o interior do veículo.

— Pode ter sido um acidente? Um assalto? — sugeriu ele, tentando encontrar uma explicação lógica.

— Olha para essas roupas. Parece que ela veio de um filme de terror. — respondeu a mulher, apertando minha mão gelada.

Chegamos ao hospital, e fui entregue aos cuidados da equipe médica, minha história permanecendo um enigma envolto em sangue. O casal, mesmo desconhecendo a verdade, contribuíra para o meu resgate, uma luz de esperança em meio às trevas que me cercavam.

A consciência retornou lentamente, um lampejo de luz atravessando o véu da inconsciência. Olhei ao redor, as paredes brancas do hospital substituindo a escuridão da estrada. A dor persistia, mas agora estava acompanhada por uma sensação de alívio por estar em um lugar seguro.

Os médicos e enfermeiros murmuravam entre si enquanto verificavam meus ferimentos. A história por trás das cicatrizes permanecia trancada em minha mente, um segredo que eu estava determinada a manter.

O casal que me encontrou na estrada esperava ansiosamente no corredor, curiosidade e preocupação estampadas em seus rostos. Quando me viram acordar, seus olhares se encontraram com os meus.

— Como você está se sentindo? — perguntou o homem, uma mistura de alívio e preocupação em sua voz.

— O que aconteceu com você, querida? — acrescentou a mulher, apreensiva.

Minha resposta foi evasiva, uma vez que a verdade sobre o galpão sombrio e Lodge era um fardo pesado demais para compartilhar com estranhos. Contei-lhes apenas o básico, mencionando um incidente vago que resultou nos meus ferimentos.

— Você está segura agora. Nós chamamos a polícia, eles estão investigando o que aconteceu — disse o homem, tentando confortar-me.

Agradeço-lhes por sua ajuda e prometo que, assim que me recuperar, procurarei as autoridades para esclarecer o ocorrido. Eles se despedem, desejando-me uma rápida recuperação, e eu me vejo sozinha novamente.

[...]

Enquanto a dor persistia, a determinação crescia dentro de mim. A despedida do hospital foi tão furtiva quanto minha chegada. Entre as sombras da noite, escapei pelas portas do estabelecimento médico antes mesmo da chegada da polícia. A urgência pulsava em minhas veias, cada passo uma manifestação da determinação em eliminar a ameaça que era Lodge.

De volta à casa, as memórias sombrias dançavam em minha mente enquanto me aproximava cautelosamente. A gasolina ainda pairava no ar, uma lembrança do fogo que consumia aquelas paredes, junto com as agruras que ali vivi. A escuridão envolvia a propriedade, mas minha visão estava ajustada à penumbra.

Adentrei a sala, ainda pegando fogo, agora um cenário desolado, e minha atenção se voltou para a cadeira onde Lodge havia sido deixado. Seu corpo estava lá, no silêncio, pude ouvir apenas o crepitar distante do incêndio que eu mesma provoquei.

— Você pensou que poderia me quebrar, Lodge, mas esqueceu que as chamas queima mais intensamente quando provocadas — sussurrei para o vazio.

Minhas mãos encontraram a mancha de sangue na cadeira, uma prova tangível de que a justiça estava sendo feita. Lodge, o arquiteto do sofrimento, estava agora mergulhado no mesmo terror que infligira a outros.

O medo já não se aninhava em meu peito. Em seu lugar, a sensação de libertação crescia. Cada parte de mim ansiava por encerrar esse capítulo sombrio. A busca pela verdade e a redenção pela dor eram as chamas que guiavam meu caminho.

Enquanto saía da casa em direção à noite, os lampejos das chamas refletiam em meus olhos. Lodge, o predador, agora era presa das mesmas sombras que ele cultivara. A busca por justiça estava longe de terminar, mas a vingança se tornara um eco distante, substituído por um propósito maior: encontrar a luz na escuridão que ele espalhara.

[...]

O posto de gasolina deserto tornou-se meu santuário temporário. Roupas roubadas de uma prateleira, uma jaqueta de couro que emprestava ares de rebeldia, e uma moto que agora me levaria de volta a New City. Cada ação, cada movimento era um passo em direção à liberdade que almejava.

Roubar alguns cigarros foi uma pitada de vício na noite sombria, um consolo efêmero em meio ao caos. Montei na moto com a determinação de quem não seria mais controlada pelo passado, e o ronco do motor se tornou um rugido simbólico de minha ressurreição.

A estrada esticava-se diante de mim, um caminho para o amanhã incerto. A velocidade era meu escape, o vento noturno cortando meus cabelos, enquanto eu me aproximava da cidade que, em outro tempo, chamei de lar.

Na manhã seguinte, o bar dos Serpentes seria meu destino. Um refúgio de figuras familiares, talvez um farol de esperança na escuridão. A incerteza do estado de Bill pairava sobre mim como uma nuvem sombria, mas minha determinação permanecia inabalável.

Enquanto a noite se despedaçava diante de mim, o raiar do novo dia acenava com promessas e desafios. A moto cortava o ar, e eu, revestida em couro, era a arquiteta de meu próprio destino, um destino que eu esculpia com as cicatrizes do passado.

Subi as escadas para meu quarto, a dor pulsante na perna intensificando-se com cada degrau. Ao chegar ao meu refúgio solitário, os pontos cederam, e um lampejo de dor cortou meu corpo. Eu sabia que deveria procurar ajuda, mas a teimosia ainda me impelia a resistir.

Ao abrir a porta do quarto, a familiaridade dos meus aposentos envolveu-me, mas a dor era uma lembrança constante. Busquei nos cantos pelos meus antigos aliados: as drogas. Uma garrafa de whisky serviria como alívio temporário.

Caí sobre a cama, a dor se misturando com a sensação de entorpecimento proporcionada pelos comprimidos. O álcool queimava minha garganta enquanto a realidade se distorcia. Em meio ao tempo, eu esperava pelo amanhã, sabendo que deveria encarar não apenas a luz do dia, mas também os fantasmas do passado que persistiam em me assombrar.

CONTINUA

Before The Truth || Tom Kaulitz Onde histórias criam vida. Descubra agora