Ofensiva Anunciada.

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Arte por @Excaliburfyda no Twitter.
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O débil pulsar de um coração ecoava nas profundezas de uma caverna sombria. Espectro era conduzido às pressas pelos sinuosos canais subterrâneos, deitado sobre uma maca antiquada cujas rodas rangiam e tropeçavam sobre as rochas do caminho. Isolde, com destreza, guiava a maca, zelando para que o Prisma não se desprendesse do peito do homem, que inspirava frágilmente o gélido ar da gruta.

Descendo por intermináveis dutos, alcançaram, finalmente, o amplo poço envenenado, onde uma figura feminina já os aguardava. Inicialmente, Isolde estranhou a situação, sentindo um arrepio de temor diante da presença da misteriosa mulher. Contudo, o sorriso macabro que se desenhou no rosto de Espectro ao encarar a figura dissipou quaisquer hesitações.

— Nos deixe só, miserável mortal! — A mulher venenosa vociferava para Isolde, que tremia diante de sua presença.

— Não... ela fica. Ela é de confiança. — Espectro falava, arrastando-se até a fonte com o Prisma em sua mão remanescente.

A misteriosa mulher tomava o Prisma em suas mãos, e com garras afiadas, erguia a reluzente relíquia, fixando seu olhar vazio nos olhos de Espectro, transmitindo uma intenção sinistra.

— Você matou Ramond Agnis e Sunna Agnis? — Ela inquiria, transformando sua mão em uma lâmina afiada de líquido.

— Ra está morto... mas a garota escapou... ela é um receptáculo nulo e está com o Espírito Solar... — Ele respondia, observando a lâmina lentamente se aproximar de seu peito.

— Pois bem, já que fez essa descoberta, vamos mudar os termos de nosso pacto. Seu corpo está agora muito danificado, e você tem poucos dias de vida. No entanto, com o Prisma em sua posse, poderá transcender sua existência para algo mais elevado. Capture a garota. Mesmo com o Espírito Solar, ela ainda é um receptáculo nulo e poderá ser utilizada para subjugar a energia do Prisma. Os mecanismos e o Prisma já estão em suas mãos; só falta a garota. — Ela cravava a lâmina no peito de Espectro, cortando em um formato triangular, removendo ossos e carne do local.

— E quanto ao garoto. — Ele perguntava, indiferente à macabra cirurgia que se desenrolava.

— Ele ainda é fraco. Enquanto seu corpo estiver em disputa com Cronos, ele não poderá atingir seu verdadeiro potencial. Aproveite essa brecha. Por enquanto, sustente-se com essa fração de poder. Instale um fragmento por vez quando estiver enfraquecendo, mas lembre-se de não completar a metade enquanto a garota não estiver em sua posse. — A mulher retirava um fragmento do Prisma e o enfiava no buraco no peito de Espectro. O fragmento energizava o corpo do homem, criando veias de energia que percorriam todo o seu corpo e aceleravam a regeneração de seus membros perdidos.

— E quanto a Darkahn? — Espectro se arrastava para fora do poço, auxiliado pela garra que o levantava.

— Neste ponto, ele é irrelevante. Ele precisará de um receptáculo e muito tempo para recuperar frações de seu poder. Faça o que desejar com ele, talvez use-o contra Cronos, mas não esqueça: não há mais espaço para erros. Qualquer deslize, e você pode perecer. — A mulher se dissolvia no meio do grande poço, suas palavras macabras ecoando na escuridão.

...

A visão é verdadeiramente desconcertante; imponentes arranha-céus dilaceram os horizontes de Nova Randalor, obscurecendo por completo qualquer perspectiva para o exterior. Uma espessa camada de neblina, proveniente das fábricas ao oeste da cidade, se enreda nas ruas como um véu sombrio.

V, imerso em um silêncio pesado, repousa sobre o corrimão de um prédio abandonado, tendo o pequeno robô Virus ao seu lado. O diminuto autômato emite alguns bipes, enquanto seu monitor facial decifra dados criptografados. O estrondo constante dos veículos urbanos ecoa, abafando qualquer resquício de serenidade no ambiente.

Lendas Errantes - Ato I: Projeto ampulheta.Onde histórias criam vida. Descubra agora