Lendas Errantes - Ato I: Projeto ampulheta.

Trilhos furiosos.

O firmamento se obscurece, nuvens plúmbeas ressoam trovões e uma chuva tênue banha o trem que estremece nos trilhos, impulsionado por sua velocidade. O vagão, trespassado por Ronin, permite que uma rajada vigorosa de vento penetre na locomotiva.

Delicados raios de sol filtram-se pela janela do trem, lançando sua luminosidade sobre V, Sunna e Calista, que se preparam para um embate letal. A atmosfera se densifica, e as respirações tornam-se entrecortadas.

Calista rememora o último encontro com Isolde, quando discutiram sobre como as forças de Ramond ultrapassavam a capacidade do D.A.D. Neste momento crítico, desertores se multiplicam, e as tropas enfrentam uma escassez de recursos.

A vitória não é o objetivo primordial; se ocorrer, será apenas um bônus. Na verdade, elas aguardam algo de magnitude superior...

A garganta de Calista se ilumina, uma incandescência ascendente que culmina em sua boca, transformando sua língua em um fio de temperatura elevada. Suas mãos tremem e se contorcem, as unhas adquirindo uma aparência pontiaguda de metal negro, enquanto a ponta de sua cauda se solidifica em uma lâmina afiada.

V empunha seu sabre, e Sunna aperta as faixas de seu punho. Breves momentos de silêncio antecedem o ataque, mas, no momento crucial, V é acometida por um ataque de tosse, sangrando por todos os orifícios da cabeça.

— V, agora não! Ainda temos uma luta para vencer! — Sunna exclama, desviando dos ataques de cauda e investidas de Calista.

— Eu... eu não deveria ter exagerado no uso... agora... agora não sei se consigo continuar... vou tentar rebobinar. — V responde com dificuldade, tentando se erguer.

— Não! Se é assim, então... eu vou enfrentá-la sozinha! — Sunna declara, derrubando Calista com uma rasteira, seguida por uma joelhada na face da corrupta, que retaliou atravessando o ombro de Sunna com suas garras, arremessando a ruiva para os vagões traseiros.

Calista cospe uma gosma flamejante, defendida por Sunna com a porta de uma cela no trem. A gosma derrete a porta completamente em instantes, e Calista limpa parte do resíduo escorrendo de sua boca.

A mulher demoníaca usa sua língua flamejante para envolver o braço de Sunna, queimando-o por alguns instantes, mas Calista rapidamente puxa Sunna e lança sua cauda afiada, buscando cortar Sunna vulnerável no ar.

O golpe letal está prestes a ser conectado, mas Sunna habilmente se agarra ao teto do trem, lançando-se sobre Calista ao agarrar sua cauda, desequilibrando a corrupta e aumentando o impacto do soco que a derruba imediatamente.

Sunna nota que, quando Calista cuspiu a massa ardente, o brilho em sua garganta cessou temporariamente. Agora que ela se levanta novamente, a luminosidade retorna, preparando-se para um novo ataque. Sunna chuta a janela do trem, fazendo estilhaços voarem em direção a Calista. A ruiva habilmente agarra os cabelos da corrupta, expondo-a para fora do trem, onde ela tenta cuspir novamente. Sunna, porém, mantém firme, obrigando Calista a desistir e a cuspir.

Ainda sendo segurada por Sunna, Calista usa sua cauda para perfurar o abdome da ruiva, que a solta imediatamente. As duas se encaram brevemente, mas Sunna avança com uma sequência de socos e chutes, envolvendo-se em um confronto direto com Calista.

Por um instante, Calista reconhece os movimentos de Sunna, um estilo de luta exclusivo dos membros do Anoitecer e antigos do D.A.D. Percebendo isso, Calista domina facilmente os movimentos de Sunna. Em um deslize da ruiva, Calista enrola sua cauda no pescoço de Sunna e, através de uma escotilha no teto, levanta Sunna para a parte externa do trem, utilizando apenas uma de suas asas com dificuldade.

Sunna estava prestes a ser sufocada, mas ela morde a cauda de Calista, forçando-a a soltá-la. As duas caem rolando pelo teto do trem. Recuperando-se, Calista, com sua voz estridente e enrolada pela língua flamejante, começa a gargalhar.